A arte de bem defender, por Quique Flores

white corner field line on artificial green grass of soccer field

Comecemos pela excepção documentada no Video. É muito fácil pegar em golos e analisarem-se os erros cometidos. Poderá, eventualmente, ser mais complicado fazê-lo com lances que não terminem em golo. No entanto, hoje o Benfica de Quique foi perfeito na fase defensiva do jogo, pelo que se torna impossível encontrar mais excepções.

O golo surge do incomprimento, em termos colectivos do princípio da concentração, e posteriormente do incumprimento do mesmo princípio, por um erro individual.

Se pararmos a imagem no momento em que o jogador do Vitória (o defesa) tem a bola, verifica-se uma distância demasiado grande entre a linha defensiva e a do meio campo do Benfica. Essa ausência de concentração, permitiu ao jogador vimaranense receber a bola, entre estes sectores, com tempo suficiente para se enquadrar com a baliza e fazer a assistência para o golo de Douglas. Para além deste erro colectivo (que poderia ter sido colmatado, ou com o subir da linha defensiva, ou com o recuar dos médios centro, para zonas mais próximas dos centrais, há ainda um erro de leitura do lance de Maxi Pereira (tão elogiado num post anterior), que não garante, a titulo individual a mesma concentração, permanecendo demasiado longe de Luisão, e consentindo dessa forma o passe em profundidade.

Na 2nda parte, e depois da expulsão de Reyes (que continua sem conseguir compreender a fase defensiva do jogo), viu-se uma equipa muito concentrada (em termos mentais, e essencialmente no cumprimento do tal princípio de jogo, que garantiu que os sectores permanecessem muito próximos, para além de um grande algomerado de jogadores no corredor central).

Amorim, Aimar e posteriormente Carlos Martins foram gigantes no apoio aos laterais, sendo muitas vezes eles próprios os jogadores encarregues da contenção aos extremos adversários, libertando Maxi e Jorge Ribeiro para a cobertura aos lances. Katsouranis e Yebda demonstraram conhecer o jogo como ninguém. A forma como alternaram funções (contenção / cobertura defensiva) no corredor central, no meio campo, bem como a forma como perceberam os momentos de se deslocarem aos corredores laterais, por forma a realizar as coberturas a Maxi e Jorge Ribeiro (sempre que Amorim e Aimar / C.Martins não garantiam a contenção aos laterais adversários) no momento defensivo do jogo, garantiu o equilibrio da equipa, em todos os momentos do jogo.

Em 45 minutos, não me recordo de uma única situação de jogo em que o Vitória tivesse vantagem numérica no seu meio campo ofensivo, apesar dos 11×10!! Claro que a incapacidade para decidir bem, prejudicou o Vitória, mas acima de tudo, a forma perfeita como o Benfica cumpriu em termos tácticos o momento defensivo do jogo (contrariamente a jogos anteriores, toda a gente soube participar neste momento), permitiu-lhe almejar uma vitória moralizadora.

P.S. – Esta vitória é essencialmente de Quique Flores. A forma como os jogadores demonstraram perceber e como cumpriram os princípios defensivos do jogo, é totalmente mérito seu.

P.S.II – Continuo a precisar de ver mais de Suazo, mas pela amostra, finalmente Lisandro tem um concorrente à altura!

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. “É muito fácil pegar em golos e analisarem-se os erros cometidos. Poderá, eventualmente, ser mais complicado fazê-lo com lances que não terminem em golo.”

    Não é uma questão de ser “muito fácil pegar em golos”, é uma questão de analisar, nos golos sofridos, os movimentos deficientes que foram executados e que acabaram com a bola no fundo da nossa baliza, o que é – estarás de acordo – uma coisa que é capaz de ser importante – e aí Maxi é fraco. Depois há os lances que não terminam em golo e que mostram um Maxi muitas vezes mal posicionado (como os que terminam em golo!), capaz, sim apesar de esporádico, de entender a necessidade de funcionar com o médio do seu lado mas incapaz tanto de dar profundidade à sua ala como muito pouco inteligente nas decisões que toma, quando pressionado.

    As voltas podem ser várias e as teorias outras várias também. O que me parece evidente (pelos vistos, não para ti) é que o Maxi não é um jogador com qualidade suficiente para jogar no Benfica. A responsabilidade em 6 dos 12 golos sofridos até ao momento poderiam ser razão suficiente mas não, há mais: além desses lances, a sua fraca capacidade futebolística denuncia o óbvio.

    Tirando este “diferendo”, concordo com a análise: Quique está a construir e bem princípios de jogo cada vez mais rotinados. Sonho com o dia em que possa ver um grande lateral-direito nesta equipa! Pode ser já em Janeiro.

  2. A análise não está má! Falta quanto a mim, não um pormenor, mas um por maior!

    O Luisão tem uma má decisão tentando interceptar o passe… leu mal e tarde a jogada e deixou o Quim na cara o Vimaranense…

    Com erros individuais deste toda a montagem táctica e estratégica cai por terra.

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