A responsabilidade e a selecção

white corner field line on artificial green grass of soccer field

As convocatórias de Luiz Felipe Scolari, para a selecção nacional foram sempre extremamente criticadas. Dizia-se que o brasileiro não convocava quem estava em “melhor forma”. Felipão acabou por ficar célebre por ter um grupo previamente definido (praticamente só de atletas habituados a uma cobrança máxima) e por raras vezes o alterar.

Esta forma de pensar e actuar foi sempre a principal critica apontada a Scolari. Apontada por quem não tem a minima noção do que se passa num campo de futebol, claro.

Para uma equipa que se encontra de meses a meses, e somente com oportunidade para cumprir 4,5 treinos, criar uma dinâmica colectiva, através dum modelo de jogo (desde o método defensivo, às transições e combinações ofensivas, passando por simples timings para a realização das acções) dominado por todos os jogadores, é algo que só é possível, se o grupo não sofrer mutações.

Só na mente de quem nunca esteve no terreno, é possível alterar convocatórias e ainda assim manter a performance colectiva.

Estranha-se por isso as convocatórias de Carlos Queiroz. Pior. Para além das constantes mudanças que introduz no grupo de trabalho, que poderão atrasar irremediavelmente a criação de um colectivo na selecção nacional, Queiroz, quem sabe na tentativa de conquistar a comunicação social, tem optado por incluir no grupo, jogadores que se diz, estarem num bom momento, em deterimento de outros, com mais experiência e habituados a um tipo de cobrança bem mais exigente.

A opção por jogadores pouco habituados à exigência máxima de vencer, de vencer sempre, acabará por tornar-se fatal. Por mais que o povo e o Rui Santos garantam que é quem está melhor no clube que deve jogar, essa não é a melhor opção.

Ao optar por esta via, Queiroz está a esquecer um factor de rendimento absolutamente indispensável ao sucesso. O Psicológico. Jogadores como Eduardo, Beto, Duda, Gonçalo Brandão, entre outros, recentemente internacionais, nunca experimentaram tais níveis de exigência. Nunca entraram em campo com a responsabilidade de não poder falhar.

Quando o vento não estiver de feição, quem assumirá a responsabilidade?

O factor mental é absolutamente decisivo ao mais alto nível. Quem garante que muitos destes jogadores estão ao nível da exigência? Quantas contratações dos clubes ditos grandes já falharam, pela incapacidade de se perceber este factor? A capacidade de lidar com a pressão, que só existe onde a exigência é máxima é algo que não está ao alcance de todos.

Felizmente que quando Lino, Adriano, João Paulo, Alan, Jorginho, Rossato, Moretto, Manduca, Luis Filipe, Beto, Carlitos, Wender e João Alves realizaram épocas muito interessantes, antes de chegarem ao SL Benfica, FC Porto ou Sporting, Scolari não se lembrou de os convocar. Ainda que muitos sejam naturalizados.

P.S. – O video é referente ao jogo mais importante na carreira de Eduardo. Cruel, mas real.

P.S. II – O texto não pretende fazer a defesa de Scolari. Até porque, não o quereria a treinar o meu clube.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

2 Comentários

  1. Muito fixe 😉

    Mas a capacidade de suportar a pressão também se aprende (tb se for incorporado num grupo mais rodado é mas fácil)…

    Relativamente ao Eduardo…
    tenho dificuldade a avaliar(não costumo seguir o Braga)… mas repara que foi decisivo na final da taça da liga do ano anterior (frente ao scp na final)

    Abraço

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*