A avaliação dos treinadores condicionada à avaliação dos jogadores da própria equipa. E o domínio do FC Porto antes da chegada de Jesus ao SL Benfica.

Há não muito abordámos aqui algumas considerações sobre a avaliação que se devem fazer aos treinadores. 

“não só um total desconhecimento do que é o trabalho do treinador, como surgem maioritariamente associados a uma incapacidade gritante para perceber a qualidade dos jogadores. Normalmente os “seus” jogadores são todos craques e melhores que os do adversário. Logo, a incompetência será sempre do treinador.”


Hoje enquanto lia alguns comentários sobre o Liverpool recordei-me do post. 
Markovic não esteve nos dezoito convocados por Rodgers. O sérvio que era top 5 da liga portuguesa e que garantidamente almejará o topo do futebol europeu a seu devido tempo (é demasiado novo, ainda) raramente cabe nas opções do 7º da Liga Inglesa.
Será este facto uma espécie de “abre olhos” para os mais incautos? Nem pensar!
Os comentários prosseguiam na toada normal. “Olha-se para o plantel do Liverpool e poucos teriam lugar no Benfica”. “Rodgers está a embirrar. É Markovic e mais 10”. “Nélson Oliveira é melhor que Balotelli”.
É natural que quando a capacidade de avaliação dos jogadores dos seus clubes seja tão distorcida da realidade, que se espere vencer a Liga dos Campeões e ser-se campeão é apenas normalzito. O problema é que se olha para o onze do Liverpool, actual 7º da Liga Inglesa, e não mais de um, dois jogadores do SL Benfica, e se quiser ser bastante optimista, teriam capacidade para lutar por um lugar.
No post anterior foi-me dirigida uma pergunta interessante, à qual posso responder com conhecimento de causa:

“A que se deve o domínio do FCP ao nível de títulos no futebol português, e mesmo várias vitórias de nível europeu? Como é que saíam constantemente treinadores e jogadores, e se mantinha a toada de vitórias? Inovações tácticas? Grande capacidade de scouting e avaliação de novos jogodores? Imensa competência dos dirigentes, ou suprema incapacidade dos adversários, eventualmente até à chegada do JJ ao SLB?”
A resposta é fácil. Assim como o Sporting durante muitos anos levou avanço na formação, porque a organização que estava por trás era mais competente que a dos rivais (capacidade de prospecção nacional), o FC Porto dominou durante bastante tempo no futebol profissional, não por inovações tácticas mas por melhor organização no que ao futebol diz respeito. Há muitos anos que o futebol do FC Porto é gerido por gente capaz, competente, conhecedora. Gente de grande qualidade no scouting e avaliação. Tudo passa por grau de acerto nas escolhas que se fazem. Enquanto que o futebol do SL Benfica até há alguns anos atrás era gerido por gente que de futebol sabe e percebe zero. Uma estrutura era profissional, composta por profissionais. A outra estrutura era composta por tipos que eram meros adeptos, sem formação na área. Tipos que pensam que percebem de futebol, mas que são meros adeptos, iguais a tantos outros. Tipos ao nível de outros capazes de dizer que do plantel do Liverpool quase ninguém entraria no do SL Benfica. A principal causa do fosso foi sobretudo essa. Eram tipos com os conhecimentos de futebol dos mesmos que dizem que Oliveira é superior a Balotelli, a gerirem o futebol do Benfica. E com conhecimento de causa, posso agora afirmar que quer na formação, quer no futebol profissional, o SL Benfica organizou-se e igualou o que de melhor se faz por cá. Juntando a competência do seu treinador, e o fosso para o FC Porto é presentemente apenas ao nível do que um e outro podem gastar. 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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