Ponto prévio. Apenas me foi possível assistir à segunda parte do jogo da Liga dos Campeões entre o Zenit e o SL Benfica, pelo que me reportarei somente a esse período.
Javi Garcia saiu magoado, e muito provavelmente devido às condições atmosféricas o jogador que entrou para o seu lugar demorou bem à vontade entre cinco a dez minutos a preparar-se para entrar no relvado. Nesse período, não tão curto quanto isso, o Benfica encostou o Zenit atrás e teve as suas oportunidades na partida. A de Luisão, e outro lance em que Gaitán rompeu pela esquerda e ninguém finalizou. Depois da entrada do jogador russo e em igualdade numérica o jogo passou imediatamente para um período em que o Zenit tomou as rédeas do jogo, e uns minutos depois do domínio já se acentuar, Derley substituiu Talisca.
Estava dado o mote para o comentador de café que tem como profissão comentar na televisão usar uma série de chavões, próprios de quem não percebe minimamente nem sequer posicionamentos, quanto mais decisões. Daí para a frente, a cada minuto ia comentando que o Benfica perdera o meio campo, porque agora jogava com dois avançados. Curiosamente o Benfica jogou do primeiro ao último minuto com dois avançados. Todavia, porque Talisca tem o carimbo de médio, quem vê o jogo não consegue perceber que ele ocupa o espaço de avançado. E tal não significa sequer que seja mais competente a defender naquela posição do que um avançado de origem, só porque tem o tal carimbo. Pelo contrário. Talisca ocupou até ser substituido a posição que Lima ocupou na sua melhor época de Benfica, enquanto Cardozo era o avançado mais profundo aquando do momento defensivo do Benfica de Jesus. Derley entrou, e Lima recuou para a sua posição original. Para aquela em que foi contratado na ideia original do treinador do Benfica.
Se é exasperante ouvir ou ler comentários a garantirem que Lima não equilibra ali a equipa, quando na verdade, o faz com muito mais critério e conhecimento que Talisca (porque já leva anos de treino naquele espaço, neste modelo), é bem mais gravoso termos alguém com responsabilidades na televisão a desinformar toda a gente. A anunciar mudanças tácticas. E isto não seria especialmente gravoso se as pessoas tentassem compreender um pouquinho o jogo, em vez de usarem conceitos da década de setenta.
Seis anos depois de fundado o blog, há já muita gente que tenta perceber um pouco o jogo, não caíndo nas armadilhas desinformadas de quem não o entende. É sempre mais interessante imaginar jogadores em forma de alicate, e/ou outras metáforas que cataloguem individualmente os atletas. Todavia, o que influencia determinantemente o jogo são as individualidades inseridas nas dinâmicas colectivas, movimentações e ocupação dos espaços. De que importa imaginar quatro pernas e quatro braços nos jogadores, se depois não se consegue sequer perceber quem joga a avançado ou médio. Um dia um treinador jogará com dez defesas centrais de origem, e teremos alguém a garantir-nos que tal equipa jogou com dez centrais…
“Vamos lá ver uma coisa: o Benfica tem uma ideia de jogo, quem tem essa ideia de jogo sou eu. Como não sabe, pode fazer a pergunta e acho bem. O Talisca é um avançado do Benfica e não é um médio do Benfica. Entrou o Derley, saiu um avançado e entrou outro avançado. A jogada [em que o Benfica sofreu o golo] não teve nada a ver com a interferência posicional do Talisca ou Derley” Jorge Jesus, ainda se dando ao trabalho de explicar um pouco de futebol a quem o questiona.
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