José Mota, o salvador dos aflitos.

Ao final do jogo de ontem, o treinador do Gil Vicente teceu algumas declarações que me parecem de destacar.
“Entrámos mal no jogo, não sei porquê, mas não houve atitude. O Rio Ave tomou conta das situações e nós falhámos as marcações. O Rio Ave foi superior em todos os aspetos perante um Gil Vicente sempre apático. Não esperava nada disso.”
Eu tenho uma pista sobre o porquê de ter entrado e saído mal do jogo, mas não vou revelar o que é. Essa da atitude, da apatia, é bem conhecida, e já está careca de tantos anos que tem. A segunda mais conhecida é a dos árbitros. A desculpabilização barata, a culpa é sempre dos jogadores e nunca do processo. Típica de quem trabalha pouco o processo de jogo, e trabalha muito na secção de diagnóstico do estado emocional do jogador. O Rio Ave foi superior porque é superior em todos os aspectos colectivos. Porque o Rio Ave é um colectivo. E não se entenda por colectivo os jogadores gostarem muito uns dos outros, correrem todos juntos no treino, terem um grito de guerra forte antes do jogo, e saltarem todos para cima do adversário quando há confusão. Entenda-se por colectivo aquilo que Pedro Martins dá aos seus jogadores para que eles se entendam dentro de campo. O fio de jogo que permite que sejam uma equipa de futebol, a jogar futebol como ele é: jogo desportivo colectivo. O fio que permite resolver as situações de jogo, de acordo com a sua natureza, no ataque e na defesa. O Gil Vicente não tem nada disso porque o seu treinador ainda pensa futebol como se Eusébio estivesse nos relvados.
“Cometemos demasiados erros, alguns infantis. Houve falta de humildade e quando isso acontece só se pode perder.”
O treinador gilista nunca poderá ter outro tipo de pensamento porque não tem ideias colectivas para o seu jogo. Tem ideias, de facto, mas daquelas que se usavam quando o jogo era mais individual que colectivo. Por isso, a culpa vai ser sempre da atitude, da humildade, e dos árbitros.
Temos de olhar para nós, sermos humildes ou vamos continuar a dar desgosto aos adeptos gilistas, que sofrem com tudo isto. É preciso coragem para que as coisas aconteçam. Tenho aqui jogadores que nada fizeram no futebol português para terem tamanho ego. Foram muitos erros individuais e temos de dar muito mais para sermos jogadores e treinadores do Gil Vicente. Não gosto nem aceito que jogadores não deem o máximo. Vamos resolver os problemas internamente.

Seria bom se o treinador fizesse esse mesmo exercício para si. Olhando para o que se passa em seu redor. Perceber que apesar de andar nisto há muitos anos evoluiu zero. Que aquilo que ele chama de futebol já não existe. De outra forma a culpa vai ser sempre dos jogadores e nunca daquilo que o treinador pede aos jogadores para fazer. Sem nunca perceber que o que se pede aos jogadores é o que vai determinar o maior ou menor número de erros cometidos por jogo. O resto já se sabe, castigos, dispensas, e problemas internos causados pelas ideias de um treinador que não fez nada pelo futebol português para merecer uma equipa da primeira divisão nacional.
Estava para chegar o dia em que o salvador dos aflitos iria cair, na tentativa de glorificar uma vez mais a sua posição de Messias. Ainda que seja sempre mais fácil melhorar o que já era mau, esse dia parece finalmente ter chegado. Na altura da saída de João de Deus do Gil Vicente, questionávamos um dirigente do clube do porquê da troca por José Mota, dizendo que para trocar por pior mais valia deixar o que lá estava. Nessa altura foi também dito que o Gil Vicente de Mota iria sofrer golos em todos os jogos da liga, e que dessa forma estava muito mais próximo da descida de divisão que nunca. Não sei se esse registo é factual, mas não o sendo não estará muito longe da realidade.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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