«Ninguém me defende»

Declaração do mister Conceição numa das suas já famosas conferências de imprensa. Mas Sérgio, nem tu te defendes. Depois da miséria que foi a organização ofensiva e transição defensiva de uma equipa que jogava com mais dois elementos em campo, vir dizer que se não fosse Hélton o resultado tinha sido histórico, é no mínimo hilariante. Depois de infinitos cruzamentos, seguidos pela regra do água mole em pedra dura, com toda equipa do Porto a defender na área (como se impunha), tanto deu que não furou. É o cúmulo da falta de criatividade colectiva, da falta de treino de princípios ofensivos de qualidade, para quando a equipa se veja obrigada a assumir o jogo – contra adversários de menor valia individual e contra equipas em inferioridade numérica. A culpa normalmente é do árbitro, e hoje do Hélton, quando tudo o que se limitou a fazer foi facilitar a vida ao Gr do Porto, que sem dúvida fez uma boa exibição. Independentemente da sua mais valia individual, o Porto com 9 ter conseguido duas saídas em transição que acabaram na área do Braga, diz muito do que é a equipa em organização ofensiva. Que tal falar menos nos árbitros e trabalhar a equipa com princípios de maior valia? Queremos atacar pelos corredores, certo? Então vamos lá encontrar uma forma diferente de desequilibrar aí, sem ser o pontapé para dentro do galinheiro sem critério… Vamos tentar ser um pouco mais imprevisíveis, por forma a deixar o adversário um pouco mais desconfortável no jogo. Isso exige trabalho, exige muito treino, muita repetição, novos condicionalismos, evolução.
Posicionamento inicial

O nome do exercício de treino é zonas de atracção. O objectivo é trabalhar o ataque posicional em superioridade numérica, por forma a levar o adversário a fazer movimentos que nos vão servir como referência para acelerar, pelos corredores. Dura 40 minutos. O critério de êxito é o número de entradas com a bola controlada dentro da grande área – 10×8+GR. A equipa em superioridade deve procurar colocar 4 jogadores dentro do bloco adversário, por forma a cumprir com o objectivo de atrair o adversário para determinadas zonas. Deve manter dois jogadores constantemente largos pelos mesmos motivos. Atrás da linha da bola, o portador da bola, e os dois centrais. No total, 4 jogadores posicionados atrás da primeira linha de pressão do adversário, para garantir uma transição defensiva mais segura. A equipa em superioridade não tem Guarda-Redes para garantir pressão na bola assim que se perde, uma vez que o adversário pode fazer golo de qualquer posição do campo. A equipa em inferioridade defende, de forma zonal, tentando colocar pressão no portador da bola, apenas quando ele se aproxima do local onde o bloco está posicionado. Quando recupera a bola tenta fazer golo. É preciso muita atenção ao marcadores, para que a equipa não perca a paciência e só acelere quando as referências aparecerem. Fazer mover o adversário, e aproveitar esse movimento para atacar pelos corredores laterais.

O principio é provocar a saída de elementos da linha defensiva. Para isso deve-se jogar a bola dentro do bloco adversário. O portador da bola escolhe por onde circular, e quando alguém se sentir confortável para jogar entre-sectores joga. O exemplo é o nr10, mas pode servir para qualquer outro. Se não houver espaços entre os jogadores, conduz para fixar um elemento da primeira linha, e solta no espaço que ficou livre.
Se tiver espaço/tempo para enquadrar, enquadra. Conduz, fixa o lateral e solta no jogador a entrar por fora. Um ataca o primeiro poste, outro o segundo poste. O jogador que executa coloca-se para um passe atrasado. Lateral do lado da bola em cobertura. Lateral do lado contrário entra na área para o caso da bola sair mais longa. Um dos médios fora do bloco aproxima. Ficam 3 atrás.
Se quem recebe dentro do bloco é pressionado pelo central, 11 faz movimento de ruptura nas costas do lateral para atrair a sua atenção, e depois posiciona-se para receber passe atrasado.. Lateral do lado da bola entra na área para receber a bola nas costas da linha defensiva. Quem entrega no apoio frontal posiciona-se para receber um passe atrasado. Lateral do lado contrário entra na área para uma bola que seja mais longa. médio que faz o passe aproximada zona da bola. Ficam 3 atrás.
Se for o lateral a pressionar, 11 mantém posicionamento porque pode receber bola. Lateral do lado da bola aproxima da área para receber passe em profundidade. Se a bola entra no 3, tudo igual à situação anterior. Se a bola entra no 11, 3 posiciona-se na cobertura.
Colocar a bola no lateral no pé, e lateral conduz para a linha de fundo, por forma a movimentar o bloco para dentro da área. Quando conseguir que o adversário esteja dentro da área, toca numa das coberturas, para que fique alguém enquadrado com a baliza, de frente para o bloco adversário. Dois jogadores dentro da área, outros ficam como se fossem receber um passe atrasado.
Mal consiga enquadrar alguém, aproveitar o movimento da defesa que sobe e colocar a bola na profundidade de jogadores que surgem de uma linha atrasada (11-10-8-2).
A diferença entre isto e o cruzamento para a área é a dificuldade que causa a quem defende. Se com o cruzamento simples apanha-se na maior parte do tempo o adversário posicionado no sítio certo e de forma adequada para atacar o lance de frente, desta forma tenta-se fazer por explorar a pouca profundidade que ainda resta, colocando a bola nas costas da defesa, causando maior desconforto a quem defende por quase nunca conseguir atacar a bola de frente, ou conseguindo-o fazer estar sempre no movimento contrário ao da bola.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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