Respostas aos leitores. Parte III.

A terceira parte das respostas agrupa as respostas relativas a treinos, metodologias e outros temas dispersos.
Que momento do jogo mais valorizam/treinam e porquê.
DB: Na esmagadora maioria dos exercicios que realizamos, treinamos os 4 momentos principais . Prevalencia a uns mais do que a outros com os exercicios, mas a esmagadora maioria tem esses 4 momentos. Nao faz para nos sentido um exercicio em que o ataque esta a tentar fazer seja o que for, e quando os defesas ganham a bola, o exercicio pára e recomeça do inicio. Se o defesa ganha a bola, tem de tentar chegar com a bola a qualquer lado (seja um espaço, uma porta, uma baliza, varias balizas), e quem perdeu a bola tem de ir atrás dela para recuperar e voltar a atacar. Um exemplo de exercicio em que a organizacao ofensiva e transiçõoes prevalence sobre a organizacao defensiva [e por exemplo uma posse de bola, em que ao fim de x tempo ou x passes marcas em qualquer baliza. Nao consegues ter organização defensiva porque o jogo nao tem direção, se podes marcar em qualquer baliza, nao existe grande coisa para alem de contenção e às vezes cobertura. Em exercicios desses, estamos claramente a procura de estimular a criatividade, e a tomada de decisao, levar os jogadores a avaliar se é mais facil marcar onde há mais oponentes, ou menos oponentes. Estimular o atrair para um lado, e marcar no outro. 
PM: Valorizar, pessoalmente, as transições. Porque é ai que quase todos os jogos se definem. Treino mais a organização ofensiva porque é o mais difícil de ter sucesso. Há muita oposição e requer maior trabalho de posicionamentos, movimentos e decisões para se ser bem sucedido. Daí ocupar a maior parte do tempo. Mas nunca treino um momento em separado de outro. Surgem sempre associados porque após a perda de bola o jogo não morre. Mas, o foco na dinâmica do exercício e no feedback estará muito mais no momento mais importante para aquela unidade de treino.
B: Treino mais a organização ofensiva porque é o momento que coloca maiores constrangimentos aos jogadores, e porque é nesse momento que quero que a minha equipa jogue fundamentalmente. Valorizo todos, porque todos existem dentro do jogo, e por isso devem ser treinados. A opção de a determinado momento focar mais num momento em termos de feedback do que noutro tem a ver com a necessidade que cada contexto dita.
AS: Será que não apareceram comportamentos indesejados caso nos foquemos apena em um ou dois momento? O que acontecerá a uma equipa, que no treino a jogada termina sempre que a defesa recupera a bola (i.e.), no momento de transição defesa-ataque?
PT parece tern a forna uma boa geracao, sao melhorias na formacao ou um acaso?
DB: Apesar de tudo o que se fala, da ausencia de futebol de rua e do sedentarismo, as coisas estao muito melhores do que estavam a 15 anos atras. Continua a haver muita coisa que acontece “apesar de” em vez de “gra;as a”, mas esta tudo muito melhor. Desde a prospec;ao, ate ao treino. Falta melhorar muito muito muito os quadros competitivos, mas esta tudo melhor do que era. Sendo assim, haver boas gera;oes devera ser algo com alguma continuidade, sabendo que ha sempre anos melhores do que outros.
PM: As coisas estão bastante melhores que durante determinado período mais recente. Mas ainda há bastante para melhorar. Mas, se calhar o que era importante melhorar não depende tanto dos clubes e dos treinadores mas mais do contexto social em que vivemos.
VB: Estou com o Maldini. O contexto social em que vivemos é um entrave e há que ser contornado. Hoje muitos dos miúdos mais talentosos e de maior potencial nem sequer chegam aos clubes, porque não têm pais que paguem as mensalidades ou mesmo naqueles poucos clubes em que se facilita a quem tem menos posses, nem sempre os miúdos têm quem os leve aos treinos. O futebol já não é para todos. Muitas vezes estão federados menos capazes e outros com muito mais habilidade motora não têm como ir treinar. Mas, sem dúvida que dentro das possibilidades dos clubes tem havido evolução.
Que estratégias usam/como fazem para convencer os jogadores de que o jogar que vocês escolheram para eles são o melhor e para que confiem tanto no modelo de jogo como no método de treino.
B: Ganhar jogos. É essa a melhor estratégia.
PM: E em cima das vitórias boas exibições! Muitos golos e não consentir oportunidades! Mas tudo é determinado pela competição.
E para existir confiança entre jogadores, para que não tenham método que algum jogador tenha a bola porque este é mais fraco.
B: Não sei como é que isso se faz. Eles fazem isso naturalmente, e não o exteriorizam. Sabem quem são os piores, e se conseguirem não lhes passam a bola.
Para o Maldini. De uma forma geral como trabalhas a fase de criação das tuas equipas?
PM – Jogando! Há alguns movimentos definidos (trocas posicionais, seja interior – extremo; interior – ponta). Depois treinamos jogando (não 11×11, mas jogando). Quase todas as unidades de treino acabam por ter um jogo em que uma das equipas passa muito tempo com bola nessa fase. Isto porque introduzo no exercício / jogo uma variável que leva a isso. Se tivesses ido à formação saberias, Ferrão!
Optam por primeiro consolidar o básico e só depois ir evoluindo certo?! A minha pergunta vai no sentido de quando libertam os jogadores. Principalmente a nível posicional. O Blessing, por exemplo, tem videos no Posse onde o central aparece a lateral, extremo a interior, etc. Aquilo que pretendo saber é se desde o inicio dão liberdade aos jogadores para executar o “não interessa quem onde, desde que estejam lá” ou primeiro consolidam e depois dão liberdade?
B: Primeiro consolidar, depois libertar.
PM – Sim. Ofensivamente há liberdade. Padronizado em termos de posicionamento e não de decisão só a construção. Defensivamente não. Há que cumprir rigorosamente. Quem não cumpre, está fora.
No início da época, ainda em fase intermédia do período preparatório, mas numa fase em que já alguns conteúdos para a organização defensiva tinham sido introduzidos, nomeadamente o controlo da profundidade para o setor defensivo, e tal como para com qualquer conteúdo de aprendizagem numa fase precoce da sua introdução e fundamentalmente em contexto competitivo, verificavam-se oscilações entre um bom comportamento de acordo com o exigido e algumas situações que contrariavam o que tinha sido efetivamente solicitado pela equipa técnica para o controlo de profundidade. Concretamente, quando a bola surgia descoberta, o setor defensivo encurtava, retirando profundidade, em vez de afundar e garanti-la. E não obstante esse reconhecimento da inerente instabilidade do processo ensino-aprendizagem, a situação intrigou-me porque os jogadores conheciam a resposta ao estímulo, e em treino, ao longo da semana, a aprendizagem parecia muito mais estável. 

O que acontecia era que o facto de se comportarem coordenadamente sem pôr em causa o alinhamento fazia com que garantissem constantemente foras-de-jogo, o que se fazia entender, para os jogadores, como sucesso, reforçando positivamente essa ação setorial. E como nós sabemos, o fora-de-jogo não é uma consequência última de um bom controlo de profundidade, na exata medida em que um encurtamento do espaço com a bola a poder entrar na profundidade defende os jogadores que estão fixados pela linha defensiva e não os que entram em de trás para a frente. Isto é, em rutura. E, portanto, não defende o espaço e, consequentemente, a baliza.

O miúdo, central, que, sob ponto de vista cognitivo, estava acima dos outros, perguntou-me a certa altura: “mister, e quando acontece como há bocado em que a bola ficou descoberta e eles (restantes jogadores do setor defensivo) não afundaram? Eu sei que tenho que afundar, mas assim meti os jogadores em jogo.” E eu disse: “ A bola não estava coberta. Devemos afundar. Porquê?” E ele disse-me: “Porque pode haver jogadores a entrar de trás para a frente e recebem nas costas”; -“ Pronto, és tu que tens razão. Continua a afundar, mesmo nessa situação”. 

Hoje daria uma resposta exatamente igual. Mas até hoje ainda pensei: “ Então, mas naquela situação o miúdo tem que tomar uma decisão, ora se alinha para ajustar com os colegas, ora se afunda e põe o adversário em jogo, favorecendo-o. O que é que o jogo pede nesta situação exata? Caso alinhasse com os colegas, mesmo não fazendo o que eu lhe ensinei e que eu sei que trará maiores probabilidades de sucesso tendo em conta a lógica interna do jogo, ele não tomou a melhor decisão naquele momento? Ele não se adaptou ao contexto?” – “Fazer o que o jogo pede.”? 

Como disse, qualquer jogador meu, hoje, teria uma resposta igual a que dei a priori, nesse caso. E justifico-o facilmente e com alguma segurança. O que faço é questão em saber o que vos parece. Por favor, exponham sobre isto em convergência ou divergência.
B: Nesse tipo de situações opto por deixar à responsabilidade deles. Deixar que eles optem por aquilo que eles acham ser o melhor, e não por aquilo que eu idealizei. Se eles encontraram um comportamento, naquele jogo, no qual estão a ter sucesso, que o façam. Vai de encontro ao cumprir do objectivo do jogo, ganhar. E portanto, neste caso, a resposta seria – mantem a linha que isso é o mais importante.
AS: Será que o sucesso só aparece através da forma como nós perspectivamos como correta? Independentemente de tudo, há sucesso e isso é o que interessa. 


Se bem trabalhado e com um plantel “normal” (nem incrível nem super fraco), quantos treinos são mais ou menos necessários para uma equipa adquirir as bases do seu jogo (considerando algo parecido, em linhas gerais, ao que aqui se defende a nível de princípios)? 
Ex: X treinos org def, Y trans def, etc.
DB: Mais do que quantidade de treinos, acho que ha outros factores que normalmente nao sao considerados que teem tanta ou mais influencia do que um bom planeamento.
Abertura dos jogadores para aprender (e capacidade para ouvir e aprender coisas novas), e o sucesso que se tem a fazer essas coisas novas. Se por acaso resolves os problemas que o jogo da, da maneira que o treinador quer, e vences o jogo… É muito mais facil nao so que isso passe a fazer parte do Jogar da equipa, como de os jogadores estarem mais disponiveis para mudar coisas que ja fazem a muitos anos. Isso a meu ver, tem muito mais influencia na modelação de uma equipa, do que a quantidade de treinos (que nao deixa de ser importante)
PM: Para obter aprendizagens não é preciso muito. Duas semanas de trabalho e os posicionamentos já são os que se pretendem. Mas isto a um nível de aprendizagem, com muito erro. Consolidar levará meses e meses. Só com o tempo (REPETIÇÃO) o erro vai aparecendo cada vez menos. E surgirá depois a criatividade em cima das bases.
B: As coisas não podem ser postas dessa forma. Não há um prazo estipulado para a aquisição do que se pretende. Depende do conhecimento que se tem dos jogadores, e da forma como os jogadores se vão relacionar com a informação que lhes é passada. Quanto a mim, é um erro que muito treinador comete pensar que em X tempo consegue fazer Y. Quem dita isso são os jogadores. Pode ser numa semana, num mês, ou num ano. Eles é que ditam o ritmo de aprendizagem, porque eles é que têm a dificuldade de aprender e apreender.
Sendo que são defensores da periodização tática como é que conjugam os dias de treinar cada capacidade condicional com o momento de jogo que pretendem potenciar? 
Por exemplo, é sexta e querem treinar velocidade e como tal focam-se em transições ou tentam criar exercícios independentemente do momento/principio que querem potenciar ? 
Conseguem dar um exemplo de um exercício para treinar velocidade consoante a periodização tática ?
DB: Nao conheço o suficiente, nem tenho experiencia suficiente a trabalhar com os principios da PT para poder ser considerado defensor dela. Nao me lembro sequer de pensar “Neste treino vamos treinar velocidade”. O nosso planeamento tem muito mais a ver com comportamentos, e com o resolver os problemas que o jogo da (e os problemas que criamos ao nosso jogo) do que com velocidade, ou contracções musculares ou seja o que isso for. Se calhar, se conhecessemos melhor a periodização tactica, trabalhariamos de outra maneira.. ou nao. Mas estamos sempre dispostos e disponiveis a aprender coisas.
B: Não somos defensores da periodização, nem de nenhuma metodologia de treino em particular. Somos defensores da metodologia de treino que leva o treinador onde ele quer chegar.
PM: As capacidades condicionais vêm associadas ao grande objectivo que é sempre táctico, relacionado com o meu jogar. Os conteúdos que inserimos e a fase em que os treinamos (aprendizagem, desenvolvimento ou consolidação) nunca são físicos. Mas por exemplo, quando treino transições há determinados jogadores que vão garantidamente ter de dar uma boa quantidade de sprints! Mas acabam por os fazer porque o jogo / exercício assim o pede, e não porque quando o idealizei queria que eles sprintassem.
Seria porventura necessário alterações às regras do futebol para tornar o jogo mais vertical, à semelhança do andebol ou do basket?
DB: O Futebol ]e dos poucos jogos em que isso ainda nao aconteceu, e muito sinceramente… duvido que deixem que isso aconteça. Pode aparecer mais variaçoes do jogo, e tentarem fazer com que elas cresçam dentro dessas regras. Jogos de 8v8, em espaços mais curtos, para poderem caber em espaços indoor, com o tempo de jogo a ser com cronometro, a teres tempo de ataque, ou a nao poderes voltar ao teu meio campo para construer com mais espa;o ou assim. Mas no f11, como o conhecemos… duvido que se mude muita coisa.
PM: Não, nem pensar. Pelo menos nunca da forma como creio que estás a pensar, do limitar tempo de ataque. O futebol joga-se com o pé. Portanto manter a posse é de uma dificuldade tremenda. O problema do monólogo que eram os jogos do Barcelona não era pelo bocejo de futebol que (não) era o Barcelona, mas porque as equipas percebiam que se tentassem roubar a bola eles iriam ser mais verticais e a cada 2 minutos alguém apareceria na cara do guarda redes a finalizar. Nunca houve falta de objectividade. Houve sim, nos adversários, falta de vontade e de coragem para querer jogar, ou para pelo menos querer ir roubar a bola.
Qual seria a maneira de desafiar equipas tacticamente perfeitas: o individual ou uma alteração do paradigma do jogo pensada a partir do banco? 
PM: Difícil responder… o individual é sempre o que condiciona tudo. São os jogadores que jogam. E se nos posicionamentos podes estar perto da perfeição, na tomada de decisão, estar tudo em sintonia só recordo o Barcelona de Guardiola. E não creio que volte a aparecer uma equipa assim no futebol.
Reforço a pergunta do Aza Delta. Diferenças no futebol (sobretudo a nível TOP) entre 2008 e 2015? E como é que acham que o futebol vai evoluir? Como vai ser jogador em 2023, por exemplo?
B: Velocidade de jogo
DB: Mais rapidos, mais fortes fisicamente (no sentido de resistir a jogar 60 jogos sem se lesionarem e sem terem de descansar), capazes de mudar de posi;ao durante o jogo sem problemas nenhuns, e muito evoluidos tecnicamente, para conseguir jogar com cada vez menos tempo para decider.
Que achariam se o futebol começasse a permitir 8/9 substituições num jogo? Penso que mudaria completamente o jogo, com as equipas a poderem ter 3/4 estratégias bem diferentes entre si num só jogo, aumentando imenso a imprevisibilidade dos acontecimentos.
VB: Ou então quebraria completamente o ritmo… Sinceramente, gosto muito de como está no presente.
B: Acho mau. E acho mau por concordar que mudaria completamente o jogo, e consequentemente o treino.
O JJ falou recentemente nas adaptações de jogadores a uma nova posição (http://www.record.xl.pt/futebol/futebol-nacional/liga-nos/sporting/detalhe/david-luiz-deu-luta-a-jorge-jesus.html). Poderiam aprofundar o que ele falou, dando como exemplo a adaptação que fez com o Enzo Pérez?
Se fossem vocês JJ, o que teriam feito (com o vosso staff) para o adaptar a médio? 
B: Só estando lá dentro e conhecendo o jogador.
PM: O que teria feito? Primeiro conversa sentado no gabinete a mostrar os posicionamentos gerais. Depois integrar no treino na nova posição pretendida, corrigindo sistemáticamente o posicionamento e a tomada de decisão até chegar onde eu quero. Volta e meia, fora do treino alguns balanços sobre “o que estás a fazer” e como eu quero que seja.
O que é que acham que William Carvalho deve melhorar para ser ainda melhor como jogador?
B. Jogar com/contra jogadores melhores regularmente.
VB: Sim. Precisa de estímulo mais forte para crescer. Esta época será importante em termos de conhecimentos. Depois precisa de sair e enfrentar melhores jogadores quer no treino quer na competição.
Se estivessem numa situação em que teriam que tirar um jogador com grande influência e peso no grupo (e que o poderia colocar contra vocês) logo pelos 25/30min, colocando um outro de qualidade razoável mas com as caraterísticas certas para o que o jogo estivesse a pedir, o que fariam?
DB: Ja o fizemos, é sempre muito dificil ter de decider uma coisa dessas, mas quanto melhores (globalmente) sao os jogadores, melhor aceitam uma coisa dessas. Os melhores dos melhores, percebem que o grupo ]e mais importante do que o individual. E sabem que se for preciso eles brilharem menos, para todos brilharem mais, esta tudo bem. Mas nao ]e facil, e o mais certo [e dar problemas. Muitos tomam isso como um insulto, ou uma ofensa ao seu estatuto. 
Assumindo que teriam em boa parte as condições que vocês gostariam a nível de jogadores – a jogar num sistema com 2 AVs, o que vocês gostariam de privilegiar? Os AVs a abrir nas laterais, um em apoio e outro em rutura, um possante e o outro na 2ª bola, etc etc??? O que seriam as vossas opções, e porquê? 
DB: Preferimos jogadores que resolvam problemas. Porque todos os jogos sao novos e exigem coisas diferentes. Ha jogos que vamos ter espaço nas costas para aproveitar e entao um vir enquanto o outro vai pode sre uma soluçao gira. Noutros jogos ]e importante que alguem consiga segurar para atrair e criar espaço. Noutros jogos tem de haver muita mobilidade porque o adversario esta cheio de “caes furiosos”. 
PM: Se pudesse escolher sem limitações, seriam os dois iguais. Muita qualidade técnica, muita qualidade na decisão e na percepção do jogo, rápidos e fortes. Isso é o ideal. Assim, adaptam-se sempre ao que o jogo pede. Não acredito naquelas coisas do terem que se complementar. Um alto e um baixo e rápido. Para quê? Importa é o que são capazes de fazer e não a morfologia e outras características isoladas.
O que é que vocês consideram mais difícil de implementar numa equipa, a nível de organização coletiva? 
DB: Constante criaçao de centro de jogo – Linha de passe a esquerda, direita, frente e trás da linha da bola. Porque exige perceber muito do jogo, exige sacrificio e muitas vezes os jogadores estao sempre a dar a linha de passe como deve ser e nao recebem a bola, logo … aziam e deixam de o fazer. ]E natural, mas é por isso que é tao dificil estar o jogo todo a jogar assim. Todos decidem melhor quando teem muitas solucoes, mas estar sempre a criar essas solucoes é muito dificil. 
VB: A organização ofensiva, fase de criação. Porque exige muito mais do que ideias, mas também qualidade dos intervenientes.
8 – Quando é que marcam uma conversa informal no Norte?
B: Vivemos todos longe. E como deves imaginar não temos possibilidades de nos deslocar ao Norte que não seja para compromissos profissionais ou familiares.
PM: Era giro. Em breve deverei estar como prelector numa formação por ai. Mas, ainda é apenas uma possibilidade.
O que falta, na vossa opinião, para termos na televisão um programa semanal de efectiva discussão futebolística e não um teatro de 2 horas em que tudo se discute, menos futebol?
Se eu tiver um filho a jogar num clube amador e, não querendo que o puto se torne profissional, o que posso fazer com ele (em casa ou num parque qualquer) para ele ganhar umas noções de jogo interessantes que os nabos que o treinam não façam já ? (já varias vezes me chega a casa a dizer que o treino foi correr 2 horas) 
DB: Isso dificilmente vai acontecer, porque as televisoes precisam de audiencia para conseguirem ganhar dinheiro. E existem muito menos pessoas realmente interessadas em falar do jogo, do que pessoas interessadas em ver confusao e gritos e ofensas. Logo… duvido que seja facil manter um programa onde se realmente fale do jogo. 
Se ele chega a casa varias vezes a dizer que o treino foi correr 2 horas, assumindo que ele joga futebol e nao atletismo… o meu conselho ]e mudar de clube. Ou de desporto. Ir cuscar os treinos dos clubes a volta, seja de futebol ou de futsal, e ver se eles tambem treinam atletismo… ou se jogam. 
Gostava de perceber melhor os conceitos de treino. 
Vocês têm alguma livros que aconselhem a leitura? 
Até para acompanhar melhor os vossos raciocínios. 
B: O melhor livro são as ideias. E de seguida a prática. Se tiveres ideias facilmente chegas ao exercício. Depois na prática conseguirás também perceber, se estiveres atento, o que deves melhorar teoricamente para que da próxima vez corra ainda melhor.
PM: Procura formações também.
Qual a melhor postura defensiva que uma equipa devia assumir quando um avançado da equipa contrária, se coloca em linha entre o central e lateral da equipa adversária?
VB: Não defendemos marcações individuais. Isso conta pouco. Mais importante é saber onde está a bola, e onde estão os meus colegas.
B: Depende da bola.
Pelo que entendo os níveis de forma física de um atleta são muito difíceis de gerir. Em algumas modalidades, por exemplo individuais olímpicas ou o ciclismo, todo o planeamento está feito para o pico de forma coincidir com a prova mais importante. Mas no futebol (e outras modalidades colectivas com competições longas) esse gênero de planeamento é impossível, como se planeia nesse caso?
VB: O pico de forma no futebol é muito diferente do de modalidades individuais. Estar óptimo fisicamente poderá não significar estar no melhor momento em termos de rendimento. Tudo depende da confiança e da interação dentro de um modelo. Procura-se o tal pico do ponto de vista colectivo. Treinar conteúdos e não capacidades. Estas vêm associadas aos conteúdos.
B: Planeia-se para que se atinja um nível óptimo de rendimento (físico, técnico, táctico, mental) que garanta vitórias para se chegar ao objectivo estabelecido, sem grandes oscilações durante a época.
Quando fazemos um exercício de ataque, por exemplo um 3×2 3×3, que instruções damos à defesa? Explicamos o que o ataque vai tentar fazer? Explicamos como defender, posicionando os jogadores como devem defender?
DB: O ataque é assim tao bom que seja preciso dar instruções a defesa? Em cada 10 situações, o ataque marca golo 8x? Se so marca 3 ou 4… deixa la estar a defesa sem instruções. Se for sempre golo, aquilo que nos utilizamos é contenção na bola, e 2 coberturas. Varia consuante a bola esta dentro ou for a, mas no geral é por ai
B: Depende do foco do teu exercício. Se for ofensivo não digo nada aos defesas. Se for defensivo digo como devem defender segundo as minhas ideias. 
PM: Tudo tem a ver com sucesso. Se o objectivo é ofensivo, temos que garantir condições para haver sucesso. Seja pela superioridade numérica, seja pelas ferramentas que lhes damos para resolver os problemas. Quando o sucesso for alto, então estará na hora de mexer na defesa. Tudo depende da altura da época em que estás, dos conteúdos que dominam.
Para quem queira seguir a carreira de treinador, uma primeira experiência com equipas de miúdos é o caminho recomendável ou iniciar numa equipa sénior é que é o caminho certo?
DB: Depende, do que se quiser fazer x anos depois. Treinar crianças exige coisas muito diferentes de treinar adultos, apesar de ter coisas em comum, é muito muito diferente. Logo.. se querem treinar seniores, deixem os miudos estar tranquilos.
B: Não existem caminhos certos para nada. Há vários caminhos que vão dar ao mesmo sítio. Cada um faz o seu.
Como têm vindo dizer ao longo do blog (talvez não exatamente com estas palavras): uma boa organização ofensiva é aquela em que em todos os momentos o portador da bola tem (varias) linhas de passe que aproximam a equipa da baliza e/ou aumentam a probabilidade de sucesso de cada lance.
Uma vez que na organização ofensiva há inumeras situaçoes, ou seja, o portador da bola pode estar ou na linha, no meio, mais à frente, mais atras, etc., os jogadores adversarios tbm podem estar mais ou menos pressionantes, a marcaçao pode ser mais ou menos cerrada, a ultima linha pode estar mais subida ou mais descida… O que pretendo perguntar é com estas inumeras situaçoes que pode ter a organização ofensiva: qual o método a utilizar para que os jogadores percebam onde devem estar e o que devem fazer em cada situação para que o portador da bola tenha mais opçoes de escolha que levem ao sucesso do lance? 
DB: O metodo é viver essas situações. Não vale a pena dar palestras de 2 horas se as pessoas não viverem isso. Viver, parar, corrigir, viver de novo. Parar, perguntar o que está bem e o que está mal, viver de novo. Aproveitar quando alguma coisa acontece bem para valorizar para ver se fica na cabeça, e voltar a viver e a errar. Valorizar o bom, e dar-lhes na cabeça quando sai mal. E … com um bocadinho de tempo, fazer os jogadores perceberem que joga mais tempo quem cumpre. E que quem nao cumpre senta ao lado do treinador. 
Se depois não ganhas o jogo… ja foste.
B: Treinar essas situações que falaste em termos de posicionamento do adversário. Mais menos pressionante. Com mais ou menos jogadores. Com mais ou menos espaço.
O que é que há no modelo de ancelotti para ter ganho 3 vezes a champions, mesmo jogando (pelo menos no real) com sectores/jogadores afastados, predominantemente por fora, construçao/criaçao entregue às individualidades?
B: Há um treinador que tem um relacionamento fantástico com a esmagadora maioria dos seus jogadores. E há muita, mas mesmo muita, qualidade individual. Só os que treinam os melhores jogadores do mundo, ou candidatos a tal, podem almejar a tal objectivo.
VB: A Champions é a melhor e mais prestigiada prova do mundo, mas como qualquer outra que se dispute a eliminatórias não é certo que seja a melhor equipa a vencê-la. 
Inversamente, o que é que falta ao modelo de wenger (se é esse o problema) para que ganhe mais vezes, apesar de ter sempre um jogo de qualidade, bastante mais evoluído que a maioria dos rivais?
B: Mais evoluído em alguns aspectos. Defensivamente é uma nulidade. Não sabe encurtar espaços em função da zona da bola, e não sabe como reagir de cada vez que perde a posse. Em alguns jogos é até pouco competente onde deveria ser o melhor – a atacar. Não é estável nem constante. Tem muitas lesões todos os anos, e isso é outro grande impedimento à regularidade.
Finalmente repito uma questao que ja alguem fez: que leituras aconselham a quem quiser, de forma descomprometida, aprender um bocadinho mais sobre o jogo?
DB: As ideias que temos, e a maneira como olhamos para o jogo e o treino é fruto de mil e uma coisas. De muitos livros, mas de muito mais do que isso. Os livros do Mourinho quando apareceram eram revolucionarios, mas o Team Building do Rinus tambem. Tal como o Sacred Hoops do Phil Jackson, ou os filmes todos que ha para ai de futebol Americano ou de basket. Tudo pode server para mexer com coisas. 
Lembro-me de falar com um colega sobre o Whiplash, que é basicamente um filme sobre um gajo que esta numa escola de musica e ]e baterista. Nao tem nada a ver com futebol, mas tem muito a ver com lideran;a, com motivaçao e com mais uma serie de coisas. Ha videos no TED brilhantes, como o de um baixista que mostra que a maneira de ensinar musica ]e completamente errada e que ninguem tem de saber ler pautas para saber tocar um instrumento (tal qual ninguem tem de passar horas e horas a fazer passe frente a frente, para conseguir jogar) 
E… aprendemos muito mais com outras pessoas, com a experiencia, com ver e experimentar, com discutir. E continuamos a ter tudo para aprender.
B: Ler, ver, ouvir, muita coisa que não tem nada a ver com futebol. É aí onde se aprende demasiado sobre o jogo. Vi um Ted, imagine-se, de um Maestro, e aprendi tanto sobre futebol. O mesmo sobre um vídeo de um cineasta, onde aprendi imenso sobre o treino. O vídeo é de 1989. É incrível a quantidade de coisas que se aprendem que a partida se pensa que não têm nada a ver, mas têm tudo. O importante é querer aprender. E para aprender, aprendemos com tudo. É só relacionar depois, e filtrar o que nos interessa. 
Sobre o outros aspectos do jogo
PM: Há formações interessantes também. Pessoalmente pego nos principios do jogo e dou-lhes a minha interpretação para chegar onde quero. Começa tudo ai.
O que é para vocês, intensidade? Quer intensidade individual, quer coletiva.
B: É um atributo mental. Assim como a criatividade. Mas tem expressa-se pelo físico e pela técnica. Intensidade é, para mim, o jogador estar no sítio certo à hora certa – quando não tens a bola; e desenhar e executar a jogada de forma adequada. Para exemplificar, Messi é o jogador mais intenso que conheço com bola. Mas Iniesta e Busquets também são dos mais intensos que já vi. Para não falar dos reformados Xavi e Pirlo. Portanto tem muito a ver com velocidade a que se percebe o contexto, e que se decide de acordo com o mesmo. Com e sem bola.
PM: Tem tudo a ver com a velocidade com que te adaptas. Com bola ou sem bola tudo a ver com velocidade a que crias uma nova situação de jogo mais vantajosa que a anterior (principios gerais do jogo – Promover superioridade numérica, rejeitar inferioridade). Portanto intensidade também pode ser abrir a passada se falamos do ponto de vista defensivo. Isso para mim é muito mais importante que aquela intensidade com que se cataloga habitualmente os jogadores que vão muitas vezes ao choque.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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