Criar condições para jogar em todos os momentos.

Tem sido referido o quão difícil está ofensivamente o jogo em ataque posicional com a sofisticação dos métodos defensivos.

Linhas sempre juntas, por vezes baixas, coberturas, equilíbrios e sempre com a devida concentração. Cada vez mais, contrastando com o que se via há cinco, seis anos atrás, as equipas defendem zona, como defendeu desde sempre o “lateral esquerdo”. Quem tem Iniesta, Silva, Messi, Thiago e mais um par ou tripla de outros que tais vai conseguindo desmontar as melhores teias. Todavia, mesmo os muito bons jogadores têm cada vez mais dificuldades para ofensivamente desequilibrar consecutivamente em espaços tão curtos.

Jogos desequilibrados no jogar e na qualidade individual das equipas acabam demasiadas vezes com resultados surpreendentes ou no minímo não desnivelados, tal como voltou a acontecer no Euro 2016. Tudo porque defensivamente a organização de hoje é bastante superior a outrora. Demasiados são os jogos em que quando individualmente as equipas se equivalem, são as saídas rápidas após a perda que determinam vencedores.

Sobre isso, Laureano Ruiz, professor de excelência de La Masia, ousou afirmar que Guardiola e Johan Cruyff o imitaram. Porém, com alguns erros.

Em tempos não muito idos, José Mourinho afirmou que quem não aproveita o contra ataque é estúpido.

Laureano vai mais longe e defende que pressionar e tentar asfixiar o tempo todo é um erro. Há que na própria estratégia permitir as saídas adversárias com bola para posteriormente aproveitar o posicionamento mais ofensivo (mais largo, mais afastado, mais profundo) do adversário. Nos dias de hoje, em jogos cujos jogadores e colectivos se equivalem. Em jogos sem Messis e Iniestas cuja capacidade para desequilibrar por mais curto que seja o espaço é extraterrestre, as palavras de Ruiz fazem todo o sentido.

 

-Se escribió que usted fue el que plantó la semilla, Cruyff evolucionó la idea y Guardiola la perfeccionó. ¿Fue así el ciclo?
-Nada de semillas. Yo fui el que inventó el método. Cruyff y Guardiola lo copiaron, pero yo veo defectos que siempre existen en las imitaciones.

-¿Qué defectos vio?
-Cuatro rasgos. 1) Dominar, avasallar constantemente al adversario. En ocasiones, es mejor que el rival respire y se adelante, para agarrarlo de contraataque. 2) Con los ataques continuos del Barsa, existe el riesgo del contraataque rival ya que a la espalda de los centrales hay 40 metros libres, lo que supone que si no son velocísimos y superiores en el uno contra uno, las jugadas de gol del rival sean frecuentes. 3) El Barsa quiere penetrar siempre por el centro. Con el rival abierto, me parece correcto. Pero si los 11 rivales están metidos en la cueva, se debe intentar penetrar por las bandas. Y 4) También si el rival está en la cueva, los tiros lejanos pueden ser gol o hacer que el rival, temeroso, se adelante y aparezcan espacios libres. El Barsa no tira y quiere entrar con el balón hasta la cocina…

Sobre Rodrigo Castro 219 artigos
Rodrigo Castro, um dos fundadores do Lateral Esquerdo. Licenciado em Ed física e desporto, com especialização em treino de desportos colectivos, pôs graduação em reabilitação cardíaca e em marketing do desporto, em Portugal com percurso ligado ao ensino básico e secundario, treino de futsal, futebol e basquetebol, experiência como director técnico de uma Academia. Desde 2013 em Londres onde desempenhou as funções de personal trainer ligado à reabilitação e rendimento de atletas. Treinador UEFA A.

4 Comentários

  1. Excelente post. O contra-ataque esteve fora de moda. Por exemplo, o Nuno do entredez diz que aprendeu com o Guardiola que é possível usar os extremos como engodo para depois atacar o centro. Ora o contra-ataque por vezes é uma coisa parecida com isso que faz.

    Parabéns pelo post.

  2. “Jogos desequilibrados no jogar e na qualidade individual das equipas acabam demasiadas vezes com resultados surpreendentes ou no minímo não desnivelados, tal como voltou a acontecer no Euro 2016.”

    Caro Marco van Basten

    Presumo que esteja a referir-se aos resultados da Islândia.

    Não duvido que tenha havido uma verdadeira melhoria a nível individual e colectivo da Islândia, mas penso que grande parte do êxito deve-se à maioria dos jogadores jogarem em ligas nórdicas, ou seja, estão com pouco tempo de competição nas pernas após a paragem de Inverno enquanto que para os jogadores das selecções principais estão no final da época.

    No seu juízo perfeito não acredito que haja muitos que defendam que os islandeses são melhores que os ingleses ou portugueses, mas como eu digo, isto são TORNEIOS DE VERÃO, não há muito a analisar.

    “Laureano vai mais longe e defende que pressionar e tentar asfixiar o tempo todo é um erro.”

    Em jogos com equipas equivalentes, é um erro, porque isso pressupõe que a equipa “joga à defesa”, quando deve lutar pela posse de bola e quando a tem obrigar a equipa adversária a correr atrás dela mas tendo sempre como objectivo a procura do golo.

  3. Na frase:

    “Demasiados são os jogos em que quando individualmente as equipas se equivalem, são as saídas rápidas após a perda que determinam vencedores.”

    Acrescentaria que são as saídas rápidas e as bolas paradas, cada vez mais importantes.

  4. Precisamente pelas ideias expostas neste post e no outro que fala da existência de duas balizas, é que eu sempre defendi que a Alemanha deste Euro dificilmente ganharia a esta Itália ou até mesmo à França ou a Portugal.
    A Itália, para além de ter muitas pernas na defesa, foi a melhor Itália que vi até hoje na organização defensiva. E depois saia sempre em contra-ataque ou procurava movimentos de rutura. A França e Portugal maus na transição defensiva mas sempre com muitas pernas na organização defensiva e a jogarem no contra-ataque.
    Ora, juntando todos estes aspectos mais o facto da Alemanha atacar com 10 jogadores no meio campo adversário, com o Kroos imediatamente à frente da linha defensiva (referencia ao post das duas balizas: não acredito que uma equipa que jogue com ele os 90m tenha sucesso em todo o tipo de competições) e jogar sem extremos e com alas que não “conseguem” ir para 1vs1 (salvo quando jogou Draxler e/ou Sané (não conheço este último)), a Alemanha ficava quase como presa fácil para estas 3 equipas porque:
    1) como tinha posse de bola, praticamente não tinha ocasiões de contra-ataque onde é realmente forte;
    2) com equipas a fechar o meio e com muitas pernas lá atrás, não tendo ninguem que tentasse furar (1vs1) fazia com que fosse mais facil defender;
    3) atacando com 10 ficava muito muito fragil aos contra-ataques adversários (e a França com a qualidade individual que tinha, lá chegou ao golo);
    4) em organização defensiva na minha opinião fraca, muito graças ao posicionamente do Kroos e ao desgaste fisico provocado no seu companheiro de meio campo que fazia KMs a fazer movimentos de rutura e a correr para trás na transiçao defensiva, por muito pouco que a Italia nao fez golo.

    Em suma, grandes posts que o Lateral Esquerdo nos tem dado 🙂

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