Atitude Competitiva

Quantas vezes afirmamos a falta de aposta por parte dos treinadores nos talentosos, e lhes imputamos responsabilidades sobre a não concretização do potencial que se adivinhava, e ainda os acusamos de colocarem os mais abnegados em primeiro lugar e apenas dar espaço nas suas equipas para um, dois, ou mesmo nenhum grande virtuoso?

Com a evolução continua do futebol para um jogo cada vez mais rápido e onde se percebe que todos estão mais preparados para aproveitar os espaços, e um número reduzido de jogadores em acção defensiva, é fundamental que os jogadores estejam preparados para jogar os dois momentos do jogo: ofensivo, defensivo. E com a evolução contínua das estratégias colectivas para colocar dificuldade nas rotinas habituais que cada equipa pratica, é imperial que o jogador esteja pré-disposto a jogar não só com o talento, mas com todas as situações que o jogo possa proporcionar. Não é bonito o jogo sem bola, de agressividade nos duelos, de determinação para recuperar defensivamente ainda que tal implique um sprint de trinta metros. Da concentração para não ser ultrapassado, do espírito de sacrifício para compensar a equipa quando desequilibrada, da entrega às tarefas menos estéticas e que menos notoriedade dão. Cumprir com rigor com os movimentos da equipa sem bola (ofensivos ou defensivos), e disputar cada bola por forma a beneficiar sempre a equipa, é a diferença entre um jogador que é dispensado logo no início de uma época por outro que até é mais curto na relação com a bola. Longe vão os tempos em que Maradona, Cruyff, Pele, Zico ou Platini podiam passear pelo campo. Hoje há Ronaldo, Messi, e Zlatan. Mais nenhuma equipa abdica de um jogador na espera de uma acção brilhante que pode ou não aparecer nos noventa minutos. E é preciso não esquecer que tanto Ronaldo, como Messi, ou Zlatan, nos primeiros anos nas equipas seniores não eram poupados a esse tipo de tarefas. Pelo contrário. Eram os próprios que queriam competir à todo momento contra os graúdos, ainda que que o desafio passasse por uma disputa de bola ou uma situação defensiva. Não queriam perder a bola, queriam desfeitear quem lhes aparecesse pela frente, mas não gostavam igualmente de ser ultrapassados.

Será que a diferença entre a afirmação de um Iuri, um Matheus, um Gelson, ou um Podence não passa sobretudo pela cabeça do próprio jogador? Pela percepção que tem do compromisso que deve assumir para com as tarefas do jogo propostas pelo treinador, e fundamentalmente com o cumprimento dos objectivos do treino? Só jogar com a bola no pé não chega, e o Sporting é exemplo disso. Tem muito talento, mas é preciso que o talento seja competitivo.

Num jogo entre onze jogadores dotados técnicamente que só jogam com a bola no pé e onze abnegados banais na relação com a bola, quem julgam que sairá vencedor? Hoje entendo melhor do que nunca que os treinadores são demasiadas vezes injustiçados pelas difíceis escolhas que têm que fazer.

Talento, Inteligência, e Atitude Competitiva, são três bandeiras fundamentais do futebol moderno.

17 Comentários

  1. “Num jogo entre onze jogadores que só jogam com a bola no pé e onze abnegados banais na relação com a bola, quem julgam que sairá vencedor?”

    Para melhor perceber esta pergunta, terias que dar o exemplo de jogador de uma e de outra equipa.

  2. na mouche,parabéns Blessing!mas na minha opinião os jogadores pela velocidade do jogo e pelo aumento de conhecimento dos treinadores e logo do estímulos dados pelos mesmos estão cada vez mais competitivos,antigamente sim nota se um grande diferença,alias bastava fazer uma pelada defesas vs atacantes e geralmente ganhavam os defesas!

  3. Blessing, partindo deste raciocínio, posso interpretar que na tua opinião o Oliver não se impões no Atlético por culpa própria e não por culpa do seu treinador?

    • Não, na minha opinião. Dos médios criativos que me lembro (sem pensar muito, e tirando o Modric) Oliver é o que mais trabalha. Não se impõe, porque o treinador tem um sistema de jogo que não o beneficia (como JJ tinha com o Bernardo, ou como o Benfica B tem com o João Carvalho, por exemplo), bem como jogadores que dão mais aquilo que o treinador do Alteti considera fundamental para o modelo de jogo dele.

  4. Artigo interessante, e um pouco no seguimento disto, gostava de também ler um sobre o emprestar os jovens para ganharem minutos de competição vs mante-los no plantel para treinar toda a semana com colegas de qualidade superior

  5. jogar sempre,mesmo que baixem para uma divisão menos competitiva,os que tem realmente o que é preciso para serem craques,fazem disso motivação e voltam.

    • Mas será que no fim da temporada isso representa uma maior evolução? Dando um exemplo, será k o Gonçalo Paciencia evoluiu mais estando emprestado à academica onde fez 30jogos do que se tivesse ficado no plantel do Porto onde estaria diariamente exposto a situacões mais complexas graças à maior qualidade dos colegas, mesmo sabendo que jogaria 10 jogos na temporada (e a maioria na “b”)? Não ponho em causa que assim seja, mas acho um topico que merece ser explorado e explicado para leigos como eu poderem perceber melhor algumas decisões tomadas no k a gestão da formação diz respeito (e não podemos falar so dos craques, esses representam uma minoria)

  6. Nuno leigos somos todos,quando o assunto é futebol então mais ainda…não existe a meu ver uma chapa 45 ou seja cada caso é um caso,funcionou para o Rui Costa,João Mário,Ricardo Carvalho,Miguel Veloso,etc como muitos se perderam no caminho!o que eu quero dizer é que os verdadeiros craques(para mim tens que ser craque se jogas em um dos 3 grandes), fazem das adversidades forcas e com naturalidade voltam e impõem se!

  7. Espero bem que o Iuri aproveite a 200% esta oportunidade porque está a ficar tarde para ele se mostrar no futebol competitivo. Mais uma época a jogar numa equipa onde é muito superior aos colegas só fará pior ao seu ego e espirito competitivo. Ou acorda, ou tem Gelson, Matheus e para quem desconhecia Podence à espreita para ficar com o lugar que já deveria ter sido dele há 3 anos.

    • Caro David Manteigas

      O rendimento de Iuri no Moreirense foi bastante aceitável, no Sporting terá maior concorrência, tanto João Mário como Gelson dão mais garantias ao JJ.

      Se não houver saídas, continuar a rodar é a melhor opção.

  8. Penso que também a própria modernização do futebol levou a que hoje vários jogadores tenham muita coisa ao seu dispor e acabam por ficar mimados, e isso nota-se sobretudo em alguns momentos ofensivos, mas sem bola, e no momento defensivo.

    Um pouco à imagem daqueles pais que dão tudo aos seus filhos e depois ficam mimados e conseguem sempre o que querem com uma birrinha.

    Claro que difcilmente o Iuri Medeiros será assim. Mas mesmo não sendo um alto nível, já é uma minoria.

    Porque muitos jovens jogadores da maioria (CNS, primeiras divisões distritais, campeonato de juniores), já têm bastante coisa ao seu dispor e ainda eles próprios têm telemóveis de topo e outras coisas…
    Vendo o jogador como uma pessoa em primeiro lugar, obviamente que este contexto de muitas benesses altera a personalidade de alguns, e isso reflete-se em alguns deles em campo.

  9. Um caso claro disso é o Djuricic. Muito talento, mas muito pouca disponibilidade para qualquer outro momento que não seja o ofensivo.

  10. No caso do Iuri, eu não achava que era o Maradona mas depois da época no Moreirense o mínimo era ficar no plantel, não? Foi o melhor jogador do campeonato fora os 4 maiores. Na situação dele, depois de ter feito uma temporada daquele nível, em que partira a loiça em quase todos os jogos a jogar no Moreirense, também não corria. E a questão é que ele até corre. Não cerra os dentes mas ocupa os espaços, trava linhas de passe. Ofensivamente, é talento e mais talento.

    É surreal alguém achar que não tem lugar no plantel do Sporting.

    • Ficar no plantel para ser mais um? Ou ficar no plantel por convicção do treinador que pode acrescentar valor? O que fez no Moreirense, que está registado, não elimina o facto de agora estar no Sporting novamente. E estando no Sporting novamente, implica que se tem de mostrar, e provar, que está preparado para as exigências do treinador do Sporting. Porque as exigências do treinador do Moreirense eram outras, e ele já não é treinado pelo mesmo treinador. Se ele cumprir com o que o treinador quer, e se o treinador achar que acrescenta valor, de certeza que ficará. Se não, não só não vale a pena ficar, como ficando arrisca-se a perder uma época. Ficar por ficar, mais vale mais um empréstimo a um clube da liga ou do estrangeiro. Talvez um que lute por objectivos diferentes do Moreirense, com outro tipo de exigência.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*