Jogar dentro, jogar fora. Conquistar espaços.

“Arranjar mais espaço na zona central (entrada de Gonçalo Guedes) que depois também liberta mais espaço nos corredores.”

Rui Vitória, explicando algumas mudanças na partida da Taça.

Desde há muito que se referencia o corredor central como o corredor onde tudo acontece. E uma das vantagens de se conseguir ter bola por lá, é precisamente a imprevisibilidade que podes colocar no teu jogo. Com bola no meio, obrigas adversários a concentrarem-se e ganhas espaço nos corredores laterais como mencionou Rui Vitória. Se não se concentrarem no meio os adversários, mais fácil combinar e chegar à finalização.

Por exemplo. Se o extremo recebe a bola proveniente do defesa lateral do mesmo corredor, na maioria das vezes estará apertado, a receber de costas, e com enorme aglomerado de jogadores. Porém, quando a bola entra no corredor central, imaginemos que num médio interior, o lateral adversário, por forma a evitar que a bola entre na profundidade no espaço central – lateral, tem de juntar à linha defensiva, mais dentro. O que naturalmente possibilita que o mesmo extremo, só porque a bola vem do corredor central, já possa receber no pé, com espaço, e já devidamente enquadrado com baliza adversária e pronto para ter uma postura mais ofensiva (progredir, preparar drible…).

Quando se fala na importância de fazer a bola entrar dentro, não significa que o caminho será ou deverá ser unicamente aquele. Tudo depende da forma como o adversário reage posicionalmente. Se fecha corredor central, há que ir aos laterais. Ou para atrair ou para desequilibrar. Como Rui Vitória tão bem referenciou, chegar ali, permite-te conquistar espaço no campo. Espaço no jogo. Espaço que é tempo para decidir e desequilibrar.

Mesmo quem crê que a melhor forma de procurar as zonas de finalização seja por incessantes cruzamentos e colocar superioridade numérica na área, tem de chegar com bola dentro, obrigando adversários a concentrarem-se no corredor central e então ter espaço para os extremos receberem com tempo para enquadrar melhor as suas acções.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Acho que um dos principais problemas do Benfica na 1a parte foi a incapacidade de colocar os seus jogadores a receber a bola no corredor central. outra coisa que me surpreendeu foi a capacidade física de uma equipa do 3º escalão.

  2. O problema das equipas chamadas grandes quando jogam com equipas de escalões inferiores é mais mental do que tático.
    O Benfica entrou em campo com aquela atitude de “estes tipos são fraquinhos e mais minuto menos minuto nós marcamos um golo e fica resolvido”, a questão é que hoje em dia as equipas dos escalões inferiores também trabalham com qualidade, isso viu se no jogo de ontem, a equipa do Primeiro de Dezembro demonstrou que tinha a lição bem estudada.
    No Benfica ontem claramente dois jogadores não aproveitaram a oportunidade para marcar pontos, foram eles Celis e Carrillo.

    http://benficanascidosparavencer.blogspot.nl/

  3. Estava há pouco a ver o City e a pensar no seguinte:
    Não sei qual foi a percentagem de posse de bola mas devia andar nos 70\30. No entanto recordo-me somente de uma situação clara de finalização criada pelo City, logo a seguir ao 2º penalty. (os próprios penaltys não são situações muito perigosas. O 1º talvez, se Silva fica com ela controlada, mas mesmo assim ainda havia muitas pernas). No fundo parecia um jogo da liga portuguesa entre um grande e um que joga para a manutenção, o que na premier league não é muito habitual, pelo menos com equipas do meio da tabela. Muitas vezes até os últimos, jogando melhor ou pior, mas discutem o jogo até ao fim. Embora fosse clara a estratégia de contenção do Everton, fiquei com a ideia que não pegaram mais no jogo porque o City não deixou, que era onde queria chegar.
    Naquele constante sufoco que o City impõe aos adversários não acabará por vezes por dificultar a criação de espaços ao nem sequer permitir ao bloco oposto que saia dos últimos 30 metros? Eu percebo que aquela posse e paciência é tanto uma manobra ofensiva quanto defensiva, mas para a criação de espaços não facilitaria deixar o adversário “mover-se” um pouco mais? Por outro lado, como é que isso se consegue sem ceder o “controlo” nem perder intensidade?

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