Como se tomba um gigante

Sanjoanense, Académica, Real, Vilafranquense, Torreense, cinco equipas a fazerem a festa e a assinalar uma eliminatória da Taça de Portugal onde houve fartura de “tomba-gigantes”. A explicação fácil do excesso de confiança estará, no entanto, longe daquilo que terá acontecido em cada um destes encontros.

Se excetuarmos a Académica, que em currículo e em plantel em nada ficava a dever ao primodivisionário Feirense, todas as outras equipas fizeram surpresa em casa. Perante um fim-de-semana de muita chuva em todo o país, o estado dos relvados terá imposto a sua quota-parte de dificuldades às equipas da Liga NOS.

Em Torres Vedras, os sinais de incómodo dos jogadores do Nacional da Madeira foram visíveis desde a o primeiro minuto. Sobretudo para os sul-americanos, Victor García, César ou Washington Santana, o campo com várias poças e muita lama foram uma dificuldades que demoraram a entender. Para outros, como Salvador Agra, a dimensão do terreno nunca lhe deu a liberdade para soltar a sua velocidade.

Uma equipa como o Nacional, habituada a jogar na expetativa durante toda a época, sentiria sempre muitas dificuldades num contexto em que lhe era pedido exatamente o contrário. Por isso é que, entre dois conjuntos de divisões afastadas, foi o Torreense quem mais vezes se sentiu em condições de jogar pelo chão, de elaborar a sua construção em passe, sobretudo na primeira fase, de habitar espaços entre linhas da defensiva adversária.

Sublinha-se, ainda, a quantidade de talento que se pode encontrar num terceiro nível em Portugal. Stephen Eustáquio, de apenas 19 anos, joga como um experiente médio-defensivo (com capacidade de condução com bola) da primeira divisão. Tiago Esgaio, hoje com mais espaço, foi também enorme na forma como permitiu superioridade na zona intermediária. Outros jogadores, mais rodados, como são os casos de Weliton, David Rosa ou Bonifácio, comprovam que se pode ser um excelente jogador fora do campeonato profissional. É a maneira como se treina, mas também a maneira como se vive, o que sai sublinhado deste confronto com o Nacional da Madeira.

O sucesso na Taça não é um prémio, mas apenas uma prova, com muito maior visibilidade, de que a equipa técnica do Torreense, composta pelo treinador Rui Narciso, e pelos adjuntos Paulo Catarino, Carlos Morais e Rogério Leonardo, tem a perfeita noção das suas forças e fraquezas, elaborando o seu plano de jogo de acordo com ambas. Pensar o jogo, estrategicamente, é saber entender que o sucesso é feito de uma rede complexa de elementos. Nessa rede, caiu hoje um “gigante”.

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Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

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