Análise do contexto – Um olhar sobre Busquets e André Gomes

Ao longo da 1ª parte, do jogo frente ao Celtic, foi notório o desconforto de André Gomes quando se vê obrigado a jogar por dentro.

Reparem em Busquets e percebam as diferenças. Ainda o passe não tinha chegado ao lateral já ele procurava visualizar o espaço envolvente. Uma, duas, três vezes. O olhar por cima do ombro procura entender o posicionamento dos colegas e adversários.
Recebe, roda, e assim que o faz, percebe a melhor opção.

A melhor, não é a mais fácil. À sua esquerda, surgem soluções que garantem espaço e tempo a quem receber o passe. No entanto, opta por colocar um passe vertical, procurando um colega em inferioridade numérica. Ultrapassou 4 adversários!

Agora reparem em André Gomes. Ainda antes de receber o passe, já está a indicar o caminho que quer para o lance. Coloca-se dentro mas na sua cabeça já só vê a bola a rodar para o corredor contrário.
Um tímido e repentino olhar não lhe garante a correta perceção da situação. A informação recolhida, não lhe permite tomar a melhor decisão. Jogou simples…jogou fácil. Bola para fora do bloco, novamente, e a jogada morre.

É complicado viver no corredor central, decidir em pouco espaço, dentro da estrutura adversária. Os estímulos surgem de todas as direções e, para além dos atributos técnicos, é necessária uma rápida adaptação a um contexto que varia a cada instante.

A boa decisão de Busquets não teve seguimento na cabeça de André Gomes. “Bastava” analisar melhor a situação, para que com dois toques, deixasse Messi de frente para 3 defensores.
Agir sem perceber o que nos rodeia é decidir sem saber quais as opções.

Também por isto, o constante incentivo ao “joga fácil”, não promove uma boa tomada de decisão.

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Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

30 Comentários

  1. Este video fez-me lembrar o Pogba. Tenho visto os jogos do United e é sofrível nas decisões e na perceção do melhor seguimento a dar. No jogo de ontem rodeado de Mata Rooney e Mikhitarian lá se conseguiu que não tivesse muito a bola. Pobga coloca a bola onde quer, mas o que quer normalmente não é o melhor para equipa. E Mourinho não parece preocupado com isso.. Está mais preocupado em que ele acerte na meia distância.

    Há coisas que me ultrapassam. Quem é que pôs este tipo a jogar no Barça… Quem é que dá 100M por um Pogba… E um João Mário só o Inter lhe pega.

    Deviam traduzir os vossos posts para inglês para chegar a (muitos) mais sítios!

    • “Há coisas que me ultrapassam. Quem é que pôs este tipo a jogar no Barça… Quem é que dá 100M por um Pogba… E um João Mário só o Inter lhe pega.”

      Caro Pedro Santos

      A insanidade é um estado habitual no futebol, inclusivé há quem acredite piamente que os jogadores valorizam-se nas selecções, mesmo após várias demonstrações contrárias, por exemplo, no Guimarães as diferenças entre João Pedro e Tozé acentuam-se a cada jornada que passa, enquanto João Pedro vai somando minutos e tendo uma participação cadavez mais regular, Tozé vai desaparecendo.

      Tozé era um jogador que se fartou de brincar nas selecções jovens, já João Pedro tinha que dar o máximo no clube para hoje chegar onde chegou.

      De qualquer maneira, nos casos que referes, até há uma razoável lucidez de quem decidiu.

  2. Na esteira do comentário anterior, e porque não vejo ninguém a escrever assim sobre futebol lá fora, posso voluntariar-me para traduzir os vossos posts para inglês, se estiverem interessados.

  3. Mas o passe de primeira para o espaço indicado não era demasiado arriscado? O defesa está muito perto e não me parece que a bola entrasse ali se o André tivesse feito como demonstrado…

    • Eu acho que o passe entrava sem problema. Mas parece-me que a questão é que ele nem sequer tinha a noção de que poderia fazê-lo, porque como se diz no post, já tinha decidido pelo mais fácil há muito tempo e portanto nem sequer olhou para o outro lado. Já tinha apontado para o Mascherano antes (não quer a bola..). Se olhasse teria visto a posição do Messi e dos dois adversários e teria percebido que havia espaço em frente do Messi para colocar a bola. Teria de ser de primeira e, sim, talvez arriscado. É a diferença entre uns e outros.

  4. A colocação do corpo do André Gomes também me parece que ajudou a essa situação.
    Ou seja parece-me que esteve quase sempre com os seus pés virados para a sua defesa enquanto que o Busquets coloca o corpo de outra forma.

  5. Grande estreia! Andava a esperar por um post destes há muito tempo. Ando a dizer isto desde que vi o André com o Barça a 1a vez. Joga fácil, não joga bem. Estar lá ele ou outro qualquer a devolver a bola pouca diferença faz. Não é criativo, não é excelente tecnicamente e passa o jogo a proteger-se a si próprio em vez de beneficiar a equipa. Chega ao fim com 100 passes certos mas 95 desses não trouxeram o melhor caminho para a equipa. O Barça só perde em tê-lo em campo em vez de qualquer uma das alternativas.

  6. para uma equipe como o Barça q faz jogo de posição, a jogar dessa maneira dentro ou fora do bloco nao vai longe, substituir Iniesta nao é facil, mas ao menos deve deixar a timidez e explorar as vantagens em jogar dentro do blovo adversário q o Barça tanto gosta, eu Sou do Real a jogar assim vai nos beneficiar, nao so mata as jogadas permite a equipe adversaria a se organizar, espero q ele se adapte pois acredito q foi contratado porque tem competência.

  7. Post maravilhoso.
    “Agir sem perceber o que nos rodeia é decidir sem saber quais as opções.”, compreendo perfeitamente o que pretende transmitir com esta ideia.
    Tal como para Bas Dost num post recente, quando se analisa uma decisão “não se pode” avaliar somente a melhor jogada possível em oposição ao que o jogador fez, neste caso A. Gomes. A falha de André Gomes aqui, como o texto afirma, é não ter sequer visto as opções que tinha. Mas imaginemos que até as teria visto, só que por qualquer circunstância em vez de Messi, à direita de A. Gomes, estava Scott Sinclair (para efeitos de hipótese). Nesse caso poderíamos presumir que jogar seguro seria a melhor decisão.

    Lembram-se do golo de PT frente à Croácia? Renato Sanches porventura decidiu bem aquele lance por justamente não ter dado a bola a Ronaldo. Não digo que Sanches jogou como jogou por causa disso, mas naquele caso foi uma decisão correcta. Ronaldo estava em melhor posição mas por Nani ser um jogador muito muito capacitado, seria mais sensato deixá-lo desenvolver a jogada.

    Mas antes disto importa mesmo ver quem toma a decisão. A. Gomes não tem o talento de Iniesta nem de Messi. Pelos seus padrões e olhando as suas melhores qualidades, podemos também dizer que jogou bem. Isto relaciona-se com aquilo que o Blessing diz muitas vezes sobre Adrien, por exemplo.

    Mas o mais importante é mesmo a ideia principal do post: A. Gomes não viu sequer as opções que tinha. Isso é o “grave”.

  8. A diferença que existe na caixa de comentários entre analisar uma jogada dum jogador do Barça em comparação com lances semelhantes protagonizados por jogadores do Benfica/Sporting/Porto…

    Posto isto, penso que o André Gomes ainda está em fase de adaptação ao modelo de jogo do Barcelona e tem medo de arriscar e perder bolas.

    O tempo dirá se temos jogador para este Barça.

  9. Caro Bruno Fidalgo

    Trata-se apenas do realçar as diferenças de quem tem a “escola” do Barcelona e de quem ainda agora entrou.

    O conhecimento que os dois têm do modo da equipa actuar está em patamares diferentes, logo a confiança que cada um transporta para dentro de campo não é a mesma, Busquets é um titular absoluto, André Gomes prepara-se para ser o futuro substituto de Iniesta.

  10. Ainda não percebi uma coisa, já há textos exclusivos aos patronos? Vou ao site do Patreon mas não encontro lá nada novo para além do texto do Gelson na Seleção.

    • ainda n… mt brevemente! e estarão aqui no site, mas de conteúdo fechado… acesso com log in que darei em breve. quem gere o site está a ultimar tudo…

  11. Concordando em parte com o que é dito, acho que há vários problemas no texto.

    O primeiro é com a ideia de que a bola, ao entrar no bloco, cria necessariamente uma vantagem qualquer que deve ser aproveitada, e que, por conseguinte, tirar a bola de dentro do bloco equivalha a matar a jogada. Por vezes, a bola deve entrar no bloco apenas para voltar a sair. Não estou a dizer que este é um desses casos, mas parece-me errado presumir que é sempre mau tirar a bola de dentro do bloco. Neste caso específico, é diferente a bola chegar ao Mascherano com um só passe lateralizado (directamente do Busquets) ou chegar lá depois de um passe vertical do Busquets para o André e depois de o André jogar atrás: obriga o sector médio do Celtic a apertar brevemente (aliás, há um central que sai ao André) e obriga o segundo avançado do Celtic a recuar. Não é um ganho significativo, e não estou a dizer que a opção do André tenha sido a melhor, mas não concordo que isto seja equivalente a matar a jogada. Enquanto entra e sai, os jogadores do Celtic movimentam-se em função disso e isso faz com que o Celtic não se disponha em campo da mesma maneira no momento em que a bola chega ao Mascherano.

    O segundo tem a ver com a diferença que há em analisar a jogada do ponto de vista da câmara que filma o jogo e analisá-la do ponto de vista do jogador. Eu concordo que, ao contrário do Busquets, o André peca por não procurar perceber o contexto que o rodeia antes de receber a bola. Agora, não sei se podemos criticar isso e, ao mesmo tempo, criticar a decisão. Ele não procura ver o que se passa à sua volta, por isso não sabe, ao receber, se o central do Celtic que lhe sai ao encalço já está em cima dele ou não, e se portanto tem ou não espaço para segurar e decidir em conformidade. Em função dessa falta de conhecimento, optou por não se enquadrar, preferindo uma solução mais fácil. Não terá sido a melhor decisão, em termos gerais e do ponto de vista de quem está a ver o jogo de cima, mas parece-me que foi a melhor do ponto de vista dos seus olhos. Ou seja, acabou por tomar uma boa decisão (a de jogar fácil quando não sabia se podia enquadrar-se), depois de ter tomado uma má (a de ter dado uma opção no centro, de costas, sem tentar perceber o contexto que o rodeava).

    O terceiro é o de que ter a jogada na cabeça e indicar o caminho é necessariamente errado. Não há mal nenhum em pensar naquilo que o colega pode fazer, e não há mal nenhum em achar que o colega vai fazer uma determinada coisa. E não há mal nenhum porque, apesar disso, o André não se esconde, e vem dar a opção no centro. O André não peca por ter pensado que o Busquets ia lateralizar; peca por não ter tentado perceber em que condições podia receber a bola depois de ter dado, e bem, uma opção vertical. Ou seja, por não se ter adaptado rapidamente à nova circunstância.

    O quarto tem a ver com a ideia de que esta jogada ilustra uma diferença gritante entre o André e o Busquets (ou o Iniesta). Há dezenas de situações por jogo em que o Busquets ou o Iniesta optam por soluções mais seguras. E optam por elas porque nem sempre interessa assumir um pouco mais de risco (por pouco que seja), porque muitas vezes interessa mais especular, ou mesmo porque nem sempre se predispõem a identificar opções menos evidentes. Não sei mesmo se, nestas circunstâncias, o Iniesta teria tomado uma decisão diferente. O Celtic está completamente desorganizado (é um dos centrais que vem pressionar o André), e por vezes é mais difícil ler um lance nessas condições. E a dificuldade que resulta dessa desorganização podia ser suficiente para que, mesmo o Iniesta, se decidisse por uma opção mais segura.

    O quinto tem a ver com a possibilidade de este lance ser ilustrativo do que é o futebol do André Gomes. O André chegou agora à Catalunha e a diferença no seu futebol é absolutamente irrefutável. Não transporta uma única vez, coisa que fazia amiúde em Valência. Não se ter enquadrado neste lance, para mim, é um sinal do quão diferente está, para melhor. E não é verdade, de modo algum, que passe o jogo a passar para os lados e para trás, que não procure soluções mais complicadas e que não aceite jogar dentro do bloco. Não o fará tantas vezes e com tanta qualidade como o Iniesta, mas fá-lo. Entra em tabelas, não se esconde, dá os apoios que deve dar, raramente prende a bola, etc.. Pode não ter tomado a melhor decisão neste lance, e pode não ser o jogador mais criativo do universo, mas tem alguma criatividade, tem qualidade para estar no Barcelona e, mais do que isso, tem modificado a sua maneira de jogar em função daquilo que é o futebol do Barcelona.

  12. Boas, Nuno.

    No lance analisado, a entrada da bola naquele espaço, é claramente vantajosa. A equipa adversária está desorganizada e existe uma distância entre jogadores que permite ao Busquets ser vertical, ao mesmo tempo que sugere a aceleração. Com aquele passe ultrapassa 4 jogadores e deixa o André em condições de progredir.

    Eu não afirmo que é sempre mau tirar a bola dentro do bloco. Obviamente que não o é.

    Quando refiro que mata a jogada, falo do possível aproveitamento em relação a disposição do adversário. Colocar a bola fora do bloco naquela situação é reiniciar algo que tinha condições favoráveis para avançar. Dá tempo para o adversário se organizar e a oportunidade de explorar o desequilíbrio desaparece.

    O facto de ele não saber que existe determinada solução, não significa que ela não exista. Ele erra porque não percebe o contexto e não toma a melhor decisão porque não a descobre. Não me parece que as coisas possam ser divisíveis. Existem inúmeros jogadores que não têm consciência da existência de determinada solução…e não é, devido a essa limitação, que passam a decidir bem.

    Terceiro ponto. Estamos de acordo. Ter a jogada na cabeça não é errado, errado é não ser-se capaz de ajustar a cada instante. É isso que critico. Ele até poderia pensar que o melhor era jogar fora mas nunca poderia abdicar de ler o que se passava em seu redor. O jogo muda a cada instante.

    Quarto ponto. É uma análise a um lance, à cerca das diferenças que se encontram na forma como se recolhe informação. Só.

    Eu não disse que isto ilustrava o futebol do André. O que referi foi, que foi visível, durante a primeira parte, o seu desconforto em jogar em espaço interiores. E foi evidente. Se puder, veja um lance ao minuto 37.11.

    Não fiz mais nenhum comentário relativamente à qualidade e performance global do André.

    Cumprimentos.

  13. Bruno, não é bem reiniciar. Há coisas que mudam, enquanto a bola entra e sai do bloco. Eu concordo que ele podia ter recebido e dado no Messi. Aquilo com que não concordo é que essa decisão fosse assim tão óbvia para o jogador que estivesse na posição do André. Foi por isso que disse que é preciso olhar para a decisão do ponto de vista dele. Ele faz o movimento para dar a linha de passe e fica de costas para a pressão dos adversários. É verdade que podia ter olhado antes para perceber se, de facto, ia ter tempo para dar mais do que um toque na bola, mas não é de todo inegável que, ao fazê-lo, percebesse igualmente que poderia ter espaço para colocar no Messi. De novo, é uma daquelas situações em que me parece muito fácil analisar de cima, mas que não sei se é assim tão fácil de analisar estando na pele do jogador em questão. De qualquer modo, aceito que tenha sido uma má decisão.

    Sobre a possibilidade de dividir os dois momentos, parece-me importante que o façamos. Imagina o mesmo lance, mas com a diferença de que o defesa lhe ia morder os calcanhares no momento da recepção. Não olhando para analisar o contexto em que ia receber, o André tinha 2 hipóteses: 1) segurar e enquadrar-se; e 2) dar de primeira no Mascherano como deu. Ao passo que, no primeiro caso, acrescentaria à má decisão de não olhar para perceber o contexto a má decisão de rodar e de enquadrar, no segundo caso, jogando pelo seguro, salvaria a má decisão inicial de não olhar entregando com segurança. Como é óbvio, não é o facto de ele não ter consciência de que a melhor decisão era outra que faz com que tenha decidido bem. Mas, não tendo o conhecimento suficiente (por culpa própria, é verdade) para tomar a decisão de rodar sobre si próprio, não te parece que era demasiado arriscado fazer uma coisa diferente da que fez? Para nós, que estamos a ver o jogo com o privilégio de um ponto de vista superior, parece óbvio que não era arriscado segurar, rodar e entregar no Messi. Mas isso é para nós. Do ponto de vista dele, a informação não é a mesma. Podia, é certo, ter feito mais para recolher mais informação, mas com a informação que tinha tomou uma decisão segura. Isto é diferente de “jogar fácil”. Se ele estivesse de frente para o lance, seria na mesma mais fácil jogar para o lado ou para trás. Mas, nesse caso, tinha toda a informação de que precisava para avaliar o risco da sua decisão. Nesse caso, sim, era censurável. Neste caso não tinha toda a informação. E, como tal, decidiu em conformidade com a informação que tinha. É como quando um lateral que, não sabendo se tem um adversário pronto a finalizar nas costas ou não, decide ceder canto após um cruzamento que acaba de passar pelo segundo poste. De acordo com a informação que tem naquele momento, o risco de fazer outra coisa é demasiado grande.

    Por fim, o lance do minuto 37.11 até ilustra melhor do que este o teu ponto. Nesse caso, o André podia perfeitamente ter aceitado a tabela do Busquets (que aliás fica aborrecidíssimo com ele), até porque o Busquets podia perfeitamente ter soltado na esquerda antes e não o fizera, escolhendo a combinação com o André para furar pelo meio. Ao escolher atrasar a bola e sair do bloco, o André desrespeitou sobretudo o esforço que o Busquets tivera para ganhar aquele espaço. Aquilo com que não concordo é que estes lances sirvam para ilustrar qualquer espécie de desconforto. Da mesma maneira que se encontram decisões destas, em que ele parece preferir a opção mais fácil, encontram-se facilmente decisões opostas. Aliás, 20 segundos depois desse lance, o André recolhe uma bola no meio-campo defensivo, fica de costas para o opositor, mas, desta vez, não entrega de frente; segura a bola e vai à procura do apoio frontal do Rakitic. Que o tenha feito é incompatível com a ideia de que se sente desconfortável em espaços interiores. O André pode nem sempre tomar a melhor decisão nesses espaços, e pode renunciar mais vezes do que devia às vantagens posicionais que os colegas lhe possibilitam, mas isso não tem de implicar necessariamente desconforto. Pode ter a ver com instruções específicas que tenha, pode ter a ver com momentos específicos do jogo (o lance que mostras é aos 2 minutos), pode ter a ver com as necessidades de adaptação a um estilo de jogo e a um contexto competitivo completamente diferente, etc..

  14. Muita coisa muda enquanto a bola entra e sai do bloco, uma delas é a organização do adversário.

    A decisão não era óbvia e ação não era fácil. Até por isso, coloquei o “bastava” entre aspas.

    Relativamente à divisão do momentos, não estou de acordo.
    Jogar de forma segura não significa tomar a melhor decisão. O André jogou fácil e simples, sem que isso signifique que jogar fácil e simples seja uma má opção. Significa apenas, que nem sempre jogar fácil, representa tomar a melhor decisão.

    Eu percebo o que diz, quando refere que decidiu em conformidade com a informação que tinha, e acho o exemplo que dá perfeito para clarificar também o meu ponto de vista.

    Para mim, se o lateral ceder canto, não tendo ninguém nas suas costas, a decisão nunca será a melhor, mesmo que ele não saiba se existe ou não alguém pronto a finalizar. A decisão poderá ser a mais segura e a mais aconselhável…mas, tendo em conta as possibilidades de ação existentes, não é a melhor.

    O mesmo acontece com o André. Ele toma a melhor opção dentro das que “define” como possíveis. Mas existiam mais. E não é por ele não ter tido capacidade para as identificar que elas deixam de contar para avaliação da qualidade da decisão.

    O desconforto de que falo é para mim visível no lance referido na publicação. O André desloca-se para dentro mas não demonstra à-vontade para receber a bola ( o gesto que ele faz, ao indicar o passe lateralizado, poderá sugerir até, alguma insegurança). Se ele estivesse confortável para receber dentro, teria, a meu ver, de preocupar-se em analisar o contexto para onde se deslocava. Se ele estivesse confortável dentro do bloco, não teria agido de forma tão limitadora.

    • A deslocação para um espaço interior não é suficiente para descredibilizar essa ideia de desconforto? Ele indica o passe lateralizado, mas não fica escondido, à espera que o Busquets decida como ele pensou. Pelo contrário, vai-lhe dar uma opção no centro, dando aliás dois passos ao lado para abrir a linha de passe, para que o Busquets tenha outra coisa ao seu dispor para além do passe lateralizado. Ao fazê-lo, sabe que o Busquets pode escolher passar-lhe a bola. Isso não é incompatível com a ideia de desconforto? E claro que ele analisa o contexto no momento em que faz a deslocação. Só que esse contexto já não é o mesmo um segundo depois. O que ele não faz, e isso concordo que é uma falha, é analisar o contexto depois de o passe ter saído na sua direcção. E, como não o faz, decide em conformidade com o contexto que tinha analisado um segundo antes. Não é a melhor decisão, estamos de acordo, mas não me parece que isso provenha de qualquer espécie de desconforto. Como referi, há contra-exemplos em todos os jogos em que ele tem participado, e há contra-exemplos claríssimos no jogo contra o Celtic. Assim como há exemplos de jogadores perfeitamente confortáveis a jogar dentro do bloco que por vezes tomam decisões parecidas. Com as devidas diferenças, o lance do 2 a 0 do Messi ao Real, em 2011, nas meias-finais da Champions (https://www.youtube.com/watch?v=2pWt_vG9_Ug), mostra o Busquets a receber do Messi entre linhas, com todo o espaço do mundo para se enquadrar, sem ninguém à ilharga, e a fazer algo muito diferente: amortece a bola para que seja o próprio Messi, que vem de frente, a aproveitar esse espaço. O Busquets não analisa o contexto senão no momento em que se desloca para a posição, e renuncia deliberadamente à vantagem posicional que o passe do Messi lhe proporciona. Fá-lo por excelentes razões, é certo, mas fá-lo contra aquilo que, no momento em que o passe sai, parecia ser a melhor decisão, que era rodar sobre si próprio e conduzir em direcção à baliza adversária. Ao Busquets, porém, nunca passou pela cabeça invadir aquele espaço para ser ele a conduzir. Invadiu-o apenas para dar um apoio ao Messi, e para devolver de frente. Tinha a jogada feita na cabeça, e mesmo que o Messi não iniciasse a marcha, ele tirava dali a bola, jogando para trás e renunciando à vantagem que o passe do Messi tinha criado. Tal acção denota desconforto? Claro que não.

  15. Deslocar-se para o meio ao mesmo tempo que pede para que não jogue nele? Sim, parece-me.

    Nem todas as linhas de passe que se dão têm como intuito receber o passe. Mas claro, não estou certo que tenha sido o caso.
    Ainda assim, fica claro que ele não queria recebe-la.

    Durante a 1ª parte, aos 2, aos 15, aos 23 e aos 37. Alguns exemplos.
    Mas não acho que valha a pena discutir isso, até porque não era o objetivo do texto avaliar a performance do André.

    Sobre o Busquets e esse lance…epá brilhante a decisão e a execução. A mim parece-me algo plenamente consciente. Ele ainda não recebeu a bola e já o Messi tinha acelerado. É quase instantâneo o movimento do Messi.

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