Guardiola a perder faculdades?

Num grupo de futebol, um amigo questionava a possível dificuldade que teria Guardiola a implementar conceitos. Sobretudo porque o City tem revelado alguns processos mais rudimentares sem bola.

Quando há a oportunidade de se passar pela prática, percebem-se pequenos pormenores que fazem toda a diferença. Há quem nunca aprenda, e há quem nunca queira aprender. E todo o produto final é resultado das adaptações feitas em função das dificuldades que o treinador enfrenta, naquilo que os jogadores não lhe dão. Simplesmente porque não são capazes. Um modelo de jogo, se pretender aproveitar os melhores jogadores nunca será o que sai a cem por cento da cabeça do treinador. Porque haverá sempre resistências que não serão ultrapassadas pela forma como vários jogadores não cumprem pequenas coisas. Jogadores que apesar desse handicap, são suficientemente bons para acrescentarem outras valências do ponto de vista técnico ou de decisão, e portanto capazes de fazer com que no fim do dia, entre o deve e o haver acabem por ser mais úteis que outros colegas capazes de cumprir tudo na ocupação dos espaços, mas com carências determinantes noutras variáveis.

E isto, não se relaciona somente com a mentalidade britânica. É assim em todas as ligas, em todos os países. Do sector profissional ao amador. E portanto, para Guardiola tal não será novidade. Porventura, poderá até ser mais difícil de implementar processos comuns a todos em campeonatos latinos, do que propriamente na Premier League.

O que se deve retirar da passagem de Pep pela Premier é que o treinador não tem a influência que o grande público lhe concede nos resultados finais. Para o bem ou para o mal. Ou seja, a melhor equipa da história não a seria se mantivesse Guardiola, mas não beneficiasse de Messi e Iniesta. Assim como nada garante que qualquer outro treinador (Conte, por exemplo, que lidera a Premier) faria mais pontos que o City fez até à data.

Quem esperava que Guardiola chegasse à actual Premier League, onde todas as equipas têm orçamentos astronómicos, e possuem nos seus quadros vários jogadores de nível europeu ou mundial, e somasse vitórias sem fim, só demonstra que não tem noção da verdadeira influência de um treinador nos resultados da sua equipa.

Guardiola continua a ser o melhor. E possivelmente terminará a temporada com o titulo de campeão. Porque é muito bom treinador, mas sobretudo porque tem muita qualidade ao seu dispor. Todavia, se não acontecer, tal não lhe retirará o epíteto de “melhor” porque ele não o é pelos resultados que obtém ou obteve.

Há dez anos, tinham muito mais interferência no jogo os bons treinadores. Porque havia uma clivagem muito grande entre as equipas que eram organizadas e as que não o eram. Nos dias de hoje, gostando mais de um estilo ou de outro. Gostando mais de uma organização ou de outra, já não é fácil encontrar equipas sem o “dedo” do treinador. E se sempre foram os jogadores a fazer a diferença, hoje que todos os treinadores sabem minimamente organizar uma boa zona defensiva, muito mais serão estes a determinar resultados. Por muito que se continue a querer ver milagreiros em algumas figuras que orientam do lado de fora a sua equipa.

Paulo Fonseca em nove meses esteve presente em quatro partidas entre o Shakhtar  e o Sporting de Braga. Venceu duas, perdeu duas. O Shakhtar venceu as quatro.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

23 Comentários

  1. This is lateral esquerdo bitches!!!!

    Tenho adorado os videos explicativos mas também já sentia falta dos teus textos geniais!

    Abraço do teu ex colega

    • Isso ainda é como o outro… escrever mal o nome do meu clube do leste favorito é que é mau 😛 – Shakhtar

      abraço Pedro

      Teria muita coisa a comentar neste teu texto, desde o porquê de considerares Pep o melhor treinador do mundo quando não ganha nada realmente especial faz mais de 5 anos, passando pelo achares que há 10 anos era mais fácil 1 treinador numa equipa fraca se sobressair quando tivemos ainda agora excelentes trabalhos de Ranieri e Fernando Santos e finalizando na desculpabilização de um treinador projectando a culpa nos jogadores por não compreenderem as ideias do mesmo.

  2. Não posso concordar com o artigo na totalidade. É verdade que um treinador não se pode avaliar apenas pelos resultados. Mas também é verdade que o Guardiola anda literalmente a inventar.
    Começando pelo início. Pep está a tentar pôr a jogar o City, como pôs a jogar o Barça e o Bayern. A diferença, é que o campeonato inglês não é o mesmo que o Espanhol e o Alemão. A discrepância de orçamentos, e consequentemente, de qualidade já não é abismal. Guardiola não pode jogar numa tática de 3 defesas (e vocês dizem-me: ah, mas o conte joga e vai em primeiro. é verdade, mas para além desses 3 defesas, tem mais o alonso que é lateral de raiz, moses que defende bem como ala, e tem matic e kante á frente da defesa). E é este ponto que quero assentar. O city joga com demasiados jogadores ofensivos. quando tem a bola, é um espetáculo. grande técnica, futebol rápido, boas movimentações… o problema é o jogo sem bola. aí sim, reside o principal problema do city. primeiro porque joga apenas com um médio de propensão defensiva e espera que jogadores como silva e de bruyne ( médios ofensivos de raiz) tenham agressividade a fechar espaços . e segundo, porque a defesa dos citizens não tem estado nada segura (a começar pelo guarda redes) (o diego costa fez o que quis dos centrais). Uma coisa é ter busquets, iniesta, xavi, vidal, xabi alonso… outra é esta equipa do city… é boa, mas não chega aos calcanhares dos referidos.

    • Então lendo o comentário, o pep devia mudar toda a sua ideologia de jogo, que implementou nos clubes onde passou por estar numa liga diferente? O conte começou por fazer isso e viu que não era o caminho certo. O pep é o melhor treinador de sempre pelo seu modelo de jogo, agora o que precisa é de o conseguir implementar aos jogadores, e quando esse momento chegar a equipa vai ganhar ou vai estar mais próxima disso…

    • “…espera que jogadores como silva e de bruyne ( médios ofensivos de raiz) tenham agressividade a fechar espaços.”

      Mas porque razão não podem jogadores “ofensivos” ser também agressivos na ocupação dos espaços, sem bola? Onde é que está a incompatibilidade?

  3. Não parece contraditório que um bom treinador seja aquele que desenvolva no seu grupo comportamentos que os aproximem do sucesso, mas não possa ser julgado pelos seus resultados(não necessariamente titulos, mas sequencia de vitórias ou jogos sem perder)?

  4. O que torna este texto ainda mais elucidativo sobre a influência do treinador sobre o resultado final é que ele escrito por um treinador. O que torna o texto ainda mais revelador e sublime.

  5. Ate da para se parecer um “velho do restelo”, mas enquanto nao viverem a experiencia de um t-rex ter tido sucesso durante 15 anos a defender h-h e lhe quererem lavar as ideias para que ele entenda e valorize comportamentos zonais, nao vao perceber o que o Maldini quer dizer.

    Pep vai-se adaptar, porque os melhores assim o fazem. Mas aqueles que o acompanham agora, vao ser diferentes em janeiro, e depois do proximo verao tambem.

    Porque eh muito mais facil mudar pessoas, do que mudar mentalidades. E porque quem a vida toda jogou e teve sucesso de uma maneira, nao esta sequer interessado em experimentar diferente. “nao sentimos necessidade daquilo que desconhecemos”.

    (Desculpem la os acentos, mas estes teclados nao teem nada disso)

  6. Obviamente Pep não vai mudar. Mas tem “obrigatoriamente” que ajustar.

    Ontem, que estrondo! Obscena a facilidade até ao 3-0. Tão naif. Que encavadela. Isto assim também não… Acho que é demais.

    Obviamente qualidade de alguns jogadores. Mas inevitavelmente Pep tem que ajustar. Acalmar um pouco nas mexidas táticas entre jogos. Simplificar. Desembaraçar a complexidade que pede (ex. Zabaleta, 4-1-4-1/3-4-2-1, etc). Demasiado cedo para tanta mexida já.
    Percebo que adore atacar, e se prepare para o fazer em espaços curtíssimos como mais ninguém, focando mais isso no treino. Mas no balanço do ganho/perda não pode desvalorizar (terá forçosamente que melhorar) o processo pós-perda e sem bola. Globalmente para não ficar demasiado dependente da “inteligência” e qualidade de alguns.

    Cravar o “seu abcedario” antes de querer recitar poesia.

  7. Total football nunca existiu em Inglaterra e axo muito dificil que alguma vez venha a impor se! E preciso uma equipa hibrida para ser Campeao.
    Mas acompanho o processo do Guardiola no Manchester com muita atencao… Dar tempo e ver como se adapta!

  8. Guardiola teve este sábado o que Jesus teve em vila do conde. O primeiro jogo em que a sua equipa foi inferior esta época, mas também um jogo em que o adversário vai a baliza 3 vezes e ta a ganhar 3-0 aos 30 minutos.

    O trabalho do treinador é preparar a equipa para estar mais perto de ganhar e levar os jogadores a acreditar no mesmo. Jesus Guardiola Klop Mourinho são treinadores top pq o fazem, não significando isto que ganhem sempre.

    O único personagem mundial que desequilibra qq jogo que jogue é messi, e não um qq treinador.

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  1. Lições de Gaizka Garitano. Ou como a mentalidade espanhola parece tão adiantada. – Lateral Esquerdo

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