O jogador do futuro já está em campo

A decisão até pode passar por uma ação individual, mas não é aquele que se cinge a seguir à risca aquilo que mandam as regras do ‘bom futebol’, como, por exemplo, procurar sempre superioridade numérica com bola. Há situações em que inteligência, aliada à criatividade, resolve os problemas que são encontrados no jogo.

(…)

Tem muito a ver com a capacidade de decisão, daí que quanto mais inteligentes forem, individualmente, os 11 jogadores, mais próxima está a equipa de ganhar o jogo.

(…)

Tem a ver com a forma como vê o jogo e consegue ser rápido a tomar a decisão. Além disso, saber, como disse, onde está cada um e para onde será melhor jogar e não parar para ver e pensar o que fazer porque aí perde-se a vantagem de milésimos de segundo perante o adversário.

(…)

Parte [dessa inteligência] é já intrínseca, mas pode e deve ser sempre estimulada através de pensar o que fazer com a bola mesmo antes de a recebermos. A mim quem me ajudou muito nesse aspeto foi o João Mário. Fomos companheiros de equipa na B e ele achava que eu muitas vezes decidia só quando tinha a bola. Uma vez, num treino, chamou-me e perdeu tempo comigo. Falou-me de dois aspetos: de como controlar a bola e sobre a decisão.

Francisco Geraldes, em entrevista ao Mais Futebol

Há dias discutia com os companheiros do site se o jogador do futuro não estaria, já hoje, nas academias de futebol onde se pensa o jogo de maneira mais complexa e evoluída. Nesta entrevista, podemos imaginar João Mário e Francisco Geraldes, dois daqueles jogadores que, para mim, são já “treinadores” ao longo da sua carreira de jogador, pela forma como estão em campo, a conversar sobre temas que passam, dia após dia, aqui no Lateral Esquerdo.

Há pouco mais de uma semana, explorei no artigo “Uma questão de consciência ou como nunca ninguém está demasiado longe para decidir” uma ideia que está, na entrevista de Francisco Geraldes, posta na prática. Recordo.

Porque quem joga o jogo são os jogadores (num crescente quadro de tomadas de decisão com e sem bola, na proximidade ou no afastamento da mesma), mas quem joga o jogo dos jogadores são os treinadores, organizando a perspetiva macro para que na perspetiva micro o caminho para o golo apareça. O interessante, aqui, é que o treinador tem que estar sempre consciente daquilo que está acontecer perante cada um dos jogadores, da mesma maneira que devemos ambicionar que cada jogador tenha a mesma consciência daquilo que acontece a si, aos seus companheiros e ao seu treinador.

Link para o artigo

A teoria explicada pela prática dos melhores jogadores. Ou a sorte de termos grandes jogadores como Francisco Geraldes a ler os nossos artigos, a discuti-los connosco, unindo-se assim o jogador-do-futuro com o jogo-que-há-de-ser, numa dialética que gera a evolução do entendimento do futebol. Um verdadeiro prazer. 

P.S. – Façam como o Francisco Geraldes e, para além do blogue, não deixem nunca de continuar a ler aquilo que torne o vosso pensamento mais rico e mais diverso.

FG insta

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

6 Comentários

  1. O Chico realmente já é o jogador do futuro, alguém que entende perfeitamente que as qualidades físicas/ técnicas não são o garante para se ser jogador profissional. Este interesse e entendimento do jogo com esta idade só o pode tornar melhor jogador a cada dia que passa.

    Foge ao estereótipo daquilo que é o jogador de futebol (que se aplica em muitos casos) e só pode beneficiar da convivência de perto com JJ e de jogar num modelo que vai potenciar ao máximo o que pode dar ao jogo. Pela sua maturidade é um dos casos em que o empréstimo seria desajustado e deveria estar a treinar com os melhores, já.

    • “O Chico realmente já é o jogador do futuro”

      Caro Del Piero

      Já Palhinha é o jogador do presente, pois foi escolhido por JJ para regressar imediatamente ao Sporting mas também não admira, pois enquanto Palhinha a última vez que brincou nas selecções foi em Julho de 2014, já Francisco Geraldes a última vez que brincou foi em Novembro de 2016. E nem preciso de mencionar que Palhinha tem 1,90m e Francisco Geraldes tem 1,75m.

      Este é mais um exemplo/argumento que se enquadra na minha teoria.

  2. Não o conheço bem mas parece-me um excelente jogador. Com muito para dar.

    Agora, tendo em conta as (péssimas) opções do Sporting para o meio-campo não consigo entender bem o empréstimo e, sobretudo, o facto de não regressar já ao seu clube.

    Se é certo que poderia aprender bastante com JJ, não tenho dúvidas, também podemos imaginar que ou o senhor muda muito ou o perfil do Geraldes está bastante longe daquilo que o treinador do Sporting idealiza.

    Quem troca Palhinha, Gauld e F. Geraldes por Petrovic, Elias ou Bruno Paulista ou é cego ou é maluco.

  3. Concordo com a questão do perfil, mas neste momento ele deve estar mais próximo do perfil do Adrien do que qualquer um dos outros.

    Eu não colocava o Paulista no mesmo saco do Petrovic e do Elias. Tem muita margem de progressão, apesar daquela imagem de besta (capacidade física).

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*