A qualidade ofensiva do AS Monaco de Leonardo Jardim

É com muito gosto que tenho acompanhado a época de Leonardo Jardim.

Observando a equipa do Monaco é impossível não destacar a pertinência da sua organização ofensiva. Os líderes da Ligue 1 são o conjunto mais concretizador do campeonato.  É notável a relação existente entre as características dos jogadores e a forma como estas são potenciadas. O exemplo de Bernardo Silva é o reflexo daquilo que acontece com a maioria dos jogadores.

Partindo de 4-4-2 clássico, a equipa monegasca apresenta uma dinâmica interessantíssima. Ainda que seja completamente identificável o seu padrão de jogo, existe uma variabilidade posicional que considero chave, para o sucesso do treinador português.

Bernardo Silva e Lemar são os “médios alas” que mais vezes surgem no onze. Bernardo aparece vindo da direita para dentro, enquanto que no sentido contrário, surge o jovem francês. Ambos são capazes de alterar a forma como se mostram para receber. O português passeia classe por todo o campo. Colocado à linha, em zonas mais interiores ou mesmo no corredor central, é capaz de receber fora e dentro do bloco com a mesma qualidade. O mesmo acontece com Lemar que revela enormes facilidades para acelerar o ritmo de jogo, sobretudo em condução.

Esta capacidade de receber em diferentes zonas é importante. Por mais interessante que seja receber nas costas dos médios, se o posicionamento definido for sempre o mesmo, a situação será muito mais fácil de controlar, por parte do adversário. É também importante referir que estes dois jogadores conseguem combinar em zonas exteriores, posicionando-se “dentro” (nos corredores laterais) ou descaindo sobre o corredor central, onde geralmente ajudam a criar superioridade numérica ao mesmo tempo que libertam os corredores de fora para os laterais.

Esta capacidade de alternar posicionamentos aumenta a imprevisibilidade da equipa. É completamente diferente vir ligeiramente dentro para combinar ou fazê-lo de forma clara, no sentido de explorar ligações interiores no corredor central!

A tendência é para atrair dentro para que depois possam acelerar por fora.

Tanto em organização como em transição, o Monaco vive muito da capacidade ofensiva de Sidibé e Mendy. São comuns as variações de corredor com passagem pelos alas e seguimento nos laterais. Também por isso, a equipa apresenta um forte jogo exterior. É frequente a procura pelos cruzamentos. Através de uma boa ocupação das zonas de finalização, têm consigo finalizar com sucesso esse tipo de lances.

Ao contrário do que se possa pensar, cruzar não crime, muito menos sinal de incapacidade ofensiva. As condições em que esses cruzamentos surgem é que ditam a qualidade da ideia. O Monaco é muito competente na forma como potencia o jogo exterior. Para além da enorme capacidade ofensiva dos seus laterais, a orientação dos “médios alas” para zonas interiores, faz com que a equipa seja capaz de ameaçar os 3 corredores. Ainda que o faça com menor frequência, a equipa francesa é capaz de criar por dentro.

Para além da fantástica dinâmica que os alas apresentam, os avançados também se relacionam de forma harmoniosa. Germain e Falcao são dois excelentes finalizadores, sobretudo dentro de área. Ainda assim, a sua importância vai muito além da fase de finalização.

Germain é o avançado que procura maiores deslocamentos em largura, descaindo com maior frequência nos corredores laterais, quando os alas estão em zonas interiores. Falcao é muito capaz nos movimentos de apoio frontal, potenciados por movimentos contrários do seu companheiro. Quando Falcao baixa em apoio, é frequente vermos Germain a atacar a profundidade. O mesmo acontece em situações contrárias.

A mobilidade que equipa apresenta é bem interpretada por todos e por isso, os movimentos surgem nos timings corretos. Existe, claramente, um pensamento coletivo.

 

 

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

8 Comentários

  1. Sem retirar mérito da organização ao Leonardo Jardim (LJ), pois existe e mto, o seu maior mérito, na minha opinião, é retirar o máximo dos jogadores do ponto de vista da inteligência e percepção do jogo. Existem, situações, que, provavelmente, advém do momento e da percepção e inteligência dos jogadores na resolução das situações e não de trabalho táctico.
    German nas suas movimentações, e salvo as devidas diferenças, faz-me lembrar Jonas; e isso explica, no caso concreto, a inteligência do jogador. Isto replicado – a inteligência de jogo -,e na maioria dos jogadores do Mónaco existem estes predicados, é meio caminho andado para o sucesso! O trabalho de scouting, tb, deve ser valorizado e, depois, claro, o retirar rendimento dos jogadores pelo LJ.

  2. Excelente post.
    Nalguns jogos, ainda que não crucificando, achei um pouco abusivo a ida ao corredor para cruzar. Até de bem de trás. Definindo um bom ângulo. Legítimo com Falcao e até Germain, mas sinceros demais.
    No global, dinâmicas muito bem conseguidas. Com nervo.

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