Cristiano Ronaldo. A transformação de um extremo num goleador.

Nos últimos anos, o estilo de jogo de Cristiano Ronaldo mudou profundamente, transformando as características típicas de extremo – preferência pelo duelo individual, saída em velocidade e em dribles de difícil execução técnica em direção à linha de fundo para cruzar ou assistir um companheiro; ou vir de fora  para  dentro para procurar um ângulo favorável e atirar à baliza –  naquelas que definem um finalizador nato, um goleador, que é excelente no movimento de ataque à baliza, que sabe escolher o momento exato de impor velocidade sobre a bola e que ocupa zonas mais centrais e próximas da baliza.

Como resultado dessa mudança, Ronaldo tornou-se ainda uma maior valia para o Real Madrid. A importância dos seus golos para a produção ofensiva da equipa espanhola, bem como o desejo de Ronaldo de marcar mais golos de forma consistente foram determinantes na mudança da forma como apresenta o seu futebol. Em declarações à Marca o craque, galardoado quatro vezes com a bola de ouro, confirma isso mesmo: “Estou diferente agora, sou mais um jogador de área e não tanto de jogar na ala, porque lá marco mais golos, então eu mudei a minha posição ligeiramente”. Tendo marcado mais de 30 golos em todas as suas sete temporadas com o Real Madrid, o jogador português afirma-se como a principal referência do ataque da equipa madrilena.

Exemplo desta metamorfose no jogo de Ronaldo é que em vez de receber a bola em áreas do meio-campo mais afastadas da baliza e de partir para cima do adversário com o objetivo de criar uma oportunidade de golo, Ronaldo opta por circular a bola do lado esquerdo para o lado direito da frente de ataque beneficiando da colaboração dos seus companheiros. Como resultado disso, Ronaldo pode receber a bola mais para a frente, possivelmente com mais espaço, e ter mais oportunidades de visar a baliza adversária.

O português passa menos tempo a ocupar posições no meio-campo, onde as marcações são mais cerradas, e tem mais liberdade de procurar o espaço livre entre linhas ou nas costas dos defesas contrários onde a sua velocidade e rapidez de execução podem ser determinantes para ganhar vantagem sobre os seus oponentes. Isto por si só significa que Ronaldo está habitualmente mais avançado ao longo dos encontros, levando à teoria de que ele pode agora ser um jogador alvo no ataque que funciona como referência na área para os seus colegas. Além disso, a mudança na forma como o atacante do Real Madrid recebe a bola, leva a que seja gasto menos tempo com a posse contribuindo para uma maior verticalidade do jogo da sua equipa.

Cristiano Ronaldo tornou-se conhecido no futebol mundial pela velocidade e técnica com que executava as fintas com as quais desequilibrava e ultrapassava as defesas adversárias. Em cada jogo Ronaldo brindava as plateias com um manancial de truques executados a um ritmo intenso e com nota artística elevada. O extremo (acabara de se estrear na equipa principal do Sporting) suscitou o interesse de  Alex Ferguson que logrou fazê-lo ingressar no colosso Manchester United.  Excelentes desempenhos, quer no Manchester United quer no Real Madrid, renderam um papel preponderante a Ronaldo na manobra ofensiva das suas equipas, nas quais lhe era permitido percorrer todas as posições do ataque.

A vontade de melhorar

A grande exigência que Cristiano Ronaldo transporta para a sua vida profissional levou-o a melhorar todas as áreas de seu jogo de forma a se tornar um atacante completo. Em declarações à PokerStars, da qual é embaixador, Ronaldo tem uma afirmação que ilustra o seu caráter enquanto atleta de alta competição: “Quando jogo poker, trago sempre para a mesa a intensidade, intuição e determinação que me caracterizam no campo de futebol”. São esses os ingredientes que permitiram a evolução do jogador desde jovem promissor até ao patamar mais alto do futebol mundial.

Cristiano Ronaldo ocupava a posição de extremo direito no Manchester United. Juntamente  com Wayne Rooney e Carlos Tevez, Ronaldo ajudou a formar um dos tridentes ofensivos mais temíveis do futebol europeu. Era frequente cada jogador, mantendo as mesmas funções de ataque, trocar de posições para confundir e desequilibrar a estrutura definida pela defesa contrária. Ronaldo acabou por passar para uma posição de segundo avançado  sendo fulcral na manobra de ataque do Manchester United e no apoio ao ponta de lança.

Como avançado centro, Ronaldo era capaz de atacar a baliza adversária bem como recuar para o meio-campo para receber a bola e lançar a transição ofensiva. Esta pode ser considerada como a primeira grande mudança no estilo de jogo de Ronaldo. Esta tendência para ocupar posições  mais centrais no terreno de jogo manteve-se na temporada de estreia  no Real Madrid sob o comando de Pellegrini. Contudo, tanto José Mourinho como Carlo Ancelotti, privilegiaram a utilização de  Ronaldo como um extremo procurando obter do seu rendimento desportivo as características que o notabilizaram nos primeiros tempos de Manchester United.

No entanto, à medida que a obtenção de golos por Ronaldo foi sendo mais significativa a sua participação na fase de construção dos lances de ataque tornou-se menor. O que poderia parecer um declínio na influência direta de Ronaldo na construção da manobra ofensiva das respectivas equipas, e a perda das qualidades de avançado completo, é, na verdade, uma mudança estratégica fundamental no jogo de Ronaldo cuja idade deixou de permitir correr longas distâncias com a bola controlada. Independentemente disso, a maior maturidade de Ronaldo, bem como as excelentes movimentações que é capaz de fazer,  com bola e sem bola, permitem-lhe ser um jogador ainda melhor. Ainda que fixado no lado esquerdo do ataque, a facilidade  e rapidez com que Ronaldo se desmarca em diagonais para a área que lhe permitem fugir às marcações com facilidade, criando a oportunidade de ser servido por um companheiro de equipa, e o entrosamento entre Ronaldo e os seus colegas expressam a melhoria geral de Ronaldo como um finalizador e um jogador de equipa.

As mudanças no estilo de jogo de Cristiano Ronaldo são evidentes, tendo ocorrido por uma variedade de razões; adaptação às ideias dos treinadores, evolução natural do jogador, alterações táticas da forma de jogar da equipa, substituição de jogadores que atuam em posições diferentes por castigo ou lesão, idade, etc.

No entanto, ainda é difícil decidir em que posição a estrela do Real Madrid e da Seleção Portuguesa realmente rende mais. Ronaldo mesmo com a notória diminuição da habilidade de se superiorizar aos adversários no um contra um ainda mantém a fantástica capacidade de assumir a liderança do grupo e de transportar o jogo ofensivo da equipa como resultado das corridas diagonais constantes. Para além disso, por causa da objetividade do  seu jogo,  Ronaldo aparece em zonas de finalização com uma eficácia tremenda quer no jogo de pés quer no jogo aéreo onde é um exímio executante. Cristiano Ronaldo costumava ser um incrível e talentoso extremo mas, agora, é meramente o melhor atacante do mundo.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

4 Comentários

  1. Pedro não sei se tens acompanhado muito esta época m, mas esta também menos “guloso”. Em zonas em que em épocas anteriores procurava de qualquer maneira a finalização agora já assiste os colegas.

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