Identidade tática – O exemplo do “ser Porto”

“Representa união, garra, acreditar até ao fim e saber que não há nenhuma equipa igual ao FC Porto.”

Significado de “ser Porto”, segundo André Silva

Olhando para o passado do FC Porto, nos últimos anos de sucesso, encontramos uma identidade coletiva que, para além dos traços comuns relatados pelo André Silva, foi construída através de um conjunto de pressupostos táticos que dão um significado muito valioso ao “ser Porto”.

No futebol, é fundamental existir uma relação muito próxima entre aquilo que é a cultura e personalidade do clube, com a ideia de jogo proposta para a equipa.

“Ser Porto” ou “jogar à Benfica” terá de ter, obviamente, um reflexo tático para que as características como a “raça” ou a “vontade” sejam identificáveis, no contexto de um jogo que é sobretudo tático. Parece-me evidente que existem alguns princípios de jogo que enaltecem, muito mais que outros, as virtudes necessárias para que se caracterize a equipa como estando à imagem do clube.

Se a “garra”, o “querer” e a ambição surgirem no vazio, desprovidos de qualquer sentido tático, é provável que nos deparemos com um jogo pobre e sem intenções coletivas dignas de registo.

Quando se quer ser dominante e controlador, quando se tem como objetivo subjugar o adversário ao nosso poderio, é imprescindível que tenhamos um conjunto de comportamentos que se relacionam com essas intenções.

As equipas de Vítor Pereira transpiravam “Porto” em todos os momentos de jogo. O desejo do domínio era marcado pelo controlo equilibrado da posse. A capacidade para atacar pelos três corredores, que tornava a equipa imprevisível e flexível era reflexo de um “jogo” pensado para mandar.

A reação voraz à perda da bola espelhava a determinação pela reconquista do poder. A vontade de ter bola era tanta que a equipa não conseguia respirar tão bem sem ela.

Não basta querer assumir o protagonismo. Uma identidade autoritária exige qualidade de jogo. Qualidade de ideias.

Era por aí que se destacava a equipa de Vítor Pereira. O FC Porto era uma equipa agressiva em organização ofensiva, com pausa e paciência para acelerar nos momentos certos. Valorizava a posse e um jogo apoiado que servia as características dos seus jogadores.

A postura em organização defensiva transmitia a coragem de quem não queria esperar para atacar. A personalidade da equipa estava estampada na forma como os jogadores pressionavam, coletivamente, a saída do adversário.

Eram estas, algumas das dinâmicas do último FC Porto campeão.

O Porto, o Braga, ou qualquer equipa que pretenda transmitir sensações de domínio, de superioridade e qualidade, terão de ter em conta o impacto das ideias que levam para o relvado.

Acredito que existirá sempre a tendência para valorizar os corajosos e os talentosos, os determinados e audazes mas se o projeto de jogo não contemplar princípios que promovam taticamente essas virtudes, elas desaparecerão rapidamente.

 

 

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

7 Comentários

  1. A melhor critica ao Porto de NES que já li/ouvi até hoje. Parabéns.

    P.S. Não sei se era um dos objectivos do post, se não for, e não invalida a minha leitura, peço desculpa.

    Abraço

  2. Curioso ver que a saída de bola era feita com os 2 centrais + gr. E hoje Vítor Pereira optar por jogar num sistema de 3 centrais. É um treinador que não me importava de ter no Benfica.

    • Dois centrais mais gr quando o adversario nao colocava os avançados a pressiona-los. Porque aí o Genio Moutinho descia em apoio. Engraçado como o meu Porto tem lá outro Genio do mesmo calibre mas a ideia do mister lhe rouba 50% da influencia no jogo.

  3. No meu ver , não tem nada haver em criticar o NES .

    Cada treinador tem a sua estratégia e a sua filosofia de jogo . Não podemos comprar tácticas ou maneiras de jogar , porque os jogadores são diferentes . Por uma estratégia diferente não quer dizer que não seja boa , o que interessa é que a equipa entenda o que treinador quer e que consiga resultados .

  4. Não é de todo o estilo e traço do NES. Nem tem que ser. Cada um com a sua ideia. E pode ser Porto, obviamente, também. Agora para jogar de determinada maneira, ter sucesso e fazer acontecer muitas vezes, tem que ter a equipa muito melhor trabalhada, dentro desse estilo que propõe. Não pode depender tão pouco do que consegue fazer.

  5. Sendo ou não crítica ao Porto de NES, facilmente se comprovam grandes diferenças.

    Acrescento uma pequena crítica ao Porto de NES, apesar de não o ter acompanhado muito: se a partir da entrada do Soares a equipa melhorou muito a nível ofensivo (dado que o grande objetivo do momento ofensivo é fazer golo), isso demonstra bem que este Porto está bastante dependente de algumas individualidades.

    Claro que quem tem os melhores jogadores à partida jogará melhor, mas a melhoria a nível de produção de golos desde que chegou Soares parece demasiado grande. Provavelmente por este Porto não criar de forma frequente situações de finalização de fácil resolução, o que implica que os avançados tenham bastante qualidade para conseguir marcar golos de forma regular.

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