A limitação de um modelo encantador

Já por aqui partilhei algumas opiniões sobre o Nápoles de Maurizio Sarri. Para além da brilhante proposta defensiva, assente numa organização forte onde sobressaí a capacidade da última linha defensiva, o treinador italiano criou um modelo que valoriza a posse e a procura constante pelo homem livre.

O Nápoles tem, muito provavelmente, um dos melhores modelos de jogo da Europa. A forma como constroem e forçam a entrada por dentro desde a 1ª fase é fantástica. A equipa privilegia imenso o jogo interior e, ontem, frente ao campeão europeu, voltaram a mostrar como se pode explorar o corredor central. A colocação de jogadores entre linhas, a condução e ligação em passe dos centrais, a procura pelo apoio frontal ou em diagonal, a ligação que fazem com o 3ºhomem…são ideias que promovem a qualidade de jogo da equipa.

Ainda assim, e sobretudo porque o Real Madrid defendeu, quase sempre, de forma assimétrica, seria importante que a equipa italiana tivesse dado maior largura ao seu ataque, sobretudo na sua fase de criação. A equipa não é tão forte na circulação em largura e por isso vimos sempre um jogo vertical e, em alguns momentos, menos pausado em relação ao que seria aconselhável.

O Nápoles é fortíssimo a jogar sobre pressão, em espaços reduzidos, no entanto, o facto de existir uma opção exterior que tornasse o campo maior implicaria um alargamento na distribuição horizontal do Real. A equipa de Zidane quase nunca foi obrigada a bascular e defendeu sempre um espaço muito curto em largura. O conceito de amplitude relativa pode funcionar, mas dificilmente terá sucesso se o posicionamento do lateral for tão baixo.

Mesmo assim, o Nápoles revelou muita da sua qualidade ofensiva e criou boas situações de finalização.

Defensivamente, assistimos a uma equipa bem preparada do ponto de vista estratégico. Em transição estiveram fortíssimos assim como nos momentos de organização. Para quem acha que é impossível defender e pressionar alto contra um adversário quem tem Bale e Ronaldo, vejam a forma como se colocou durante quase todo o jogo, a linha defensiva do Nápoles. Só é possível fazê-lo através comportamentos de excelência como foi o caso. O constante cuidado com a colocação dos apoios, a forma como encurtam através de deslocamentos laterais, as rotações em função da orientação do adversário, o controlo da profundidade, os ajustes e reajustes…fantástico.

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

8 Comentários

  1. Acho que o facto de o Hysaj não ter o mesmo perfil do Ghoulam faz com que o Nápoles tenha um jogo demasiado curto em largura e muito a pender para o lado esquerdo.
    Com um LD aberto e um bocado mais profundo na construção o RM ia passar um ainda pior bocado com aqueles meninos Mertens e Hamsik a aparecer sempre nas costas dos médios e com a ausência de cobertura dos “extremos” do RM.
    E a diferença foi mesmo isto: jogadores melhores dum lado (com uma organização inexistente) ganharam a jogadores mais fracos potenciados por uma organização top. Feliz o jogador que pode treinar todos os dias com mentes destas.

  2. Que sonho de post Fidalgo!
    Este blog ctg, Nuno, Cristovao tornou-se ainda melhor! E n era facil!
    Pedro, estive na 2a feira… melhor formação que já presenciei! Parabéns pelo conteúdo e clareza! O tempo voou!!!!

    Parabéns para todos… um dia é para avançar para congresso !

  3. Belissima análise!
    Creio que a falta d largura pela direita pode estar relacionada com a presença de Ronaldo naquele lado, de qualquer modo o Ghoulam é muito mais ofensivo. Parabens pelo site vou continuar a acompanha-lo e aprender mais futebol

    • Eu não tenho acompanhado o Nápoles, mas foi logo isso que pensei…

      Pode ter a ver com apanhar o Ronaldo do seu lado, ou pelas suas caraterísticas…

      Concordo que o Hysaj mais aberto e profundo iria criar ainda maiores dificuldades, mas não iria isso também abrir espaço no corredor lateral que o Ronaldo ou Benzema pudessem aproveitar em transição? Especialmente num jogo em que o Nápoles, no máximo, só podia sofrer 1 golo…

  4. Eu simplesmente adoro esta equipa do Nápoles. Fantástico. O Sarri merecia um prémio qualquer daqueles que só dizem ‘obrigado, boss’.

    A este nível, a grande limitação deles é não poderem juntar atletas como CR, Messi e outros aos excelentes jogadores que já possuem.

    Sobretudo nas laterais e numa ou outra posição.

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