Local certo à hora certa. O factor mais no futebol.

Tendemos sempre a valorizar o que conhecemos. No jogo, o fácil de descodificar será sempre o golo, o drible e o desarme. Por isso, ainda na recente eleição para melhor jogador do mês da Liga nacional, o podium entregue a Soares, Mitroglou e Bas Dost.

Ainda que o jogo seja muito mais complexo que o momento em que alguém salta para de cabeça terminar em beleza o que todos os outros criaram, tantas vezes o mais fácil de adiantar nas convicções pessoais de cada um se centra no que é mais visível. Na correria, na bola que bate na rede. No último passe.

Barcelona weren’t even in the running for any titles in that spell. The press looked for a scapegoat, and I was the best target. I was slow. I was ‘out of date’. I should be put down. Barcelona couldn’t play at Europe’s top level with me in midfield and had to look for taller, stronger players.

We had a philosophy, but they wanted a change because of three or four years without a trophy. I understand criticism, but they were really strong. Some became personal, which affected my home life and hurt me a lot. It was like ‘Xavi has no merit

Xavi Hernandez.

Demasiadas são as vezes, em que porque o essencial é invisível ao olhos, que o talento escapa. Os melhores também terão a sua cota parte de responsabilidade. Porque percebem mais rápido o jogo e entendem a sua superioridade intelectual, sentem-se eternamente injustiçados e deixam de arregaçar as mangas. O mundo não os percebe e conspira. E o talento entrega-se.

Há também no futebol, quando se fala no percurso individual de tantos jogadores, muito do que é menos controlável. Sobretudo naqueles que nunca precisaram de suar muito para se apresentarem em grande nível.

Para um jogador cujas principais qualidades são aquelas em que ao mesmo tempo que são as mais importantes no jogo, são também as cujo entendimento do grande público e por vezes até dos outros agentes, as menos capazes de serem entendidas, estar no local certo na hora certa é sempre o factor mais.

O protótipo daquilo que é o jogador completo nos dias de hoje. Não alguém cuja notoriedade é sempre elevada, ou aquele que vence duelos consecutivamente, mas quem com a sua qualidade de decisões vai ligando as jogadas, mesmo que de forma simples. Alguém que comece a desorganizar o jogo mesmo em zonas que estejam pouco valorizadas por mais baixas. Alguém que mesmo que de forma despercebida vá simplificando o jogo para os colegas. Vá definindo cada ataque com qualidade. Mesmo que relevante em momentos aparentemente menos “decisivos” aos olhos de todos. E aparentemente porque se não há quem ligue as jogadas, não haverá momentos “mais decisivos”.

Aquele tipo de jogador que condiciona cada situação de jogo para tornar o lance mais passível de ser bem sucedido para os seus colegas, e cujas acções tantas vezes não são entendidas.

Demasiadas são as vezes em que os melhores precisam do contexto onde estão os melhores. Porque juntos funcionam. Porque a criatividade também precisa de ser entendida. Porque as ideias e o cérebro mais do que a correria precisa de estar contextualizada. E no fim do dia, será sempre o que não se entende e o que é menos notório e visível a ser desvalorizado.

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

1 Comentário

  1. Muito bom Pedro.

    Os treinadores, embora não tenham a capacidade total para alterar isso, deviam ter a obrigação de não deixar isso acontecer. Mas infelizmente muitas vezes juntam-se ao grupo que só valoriza aquilo que consegue ver.

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