Quando o igual se torna tão diferente

Se a história da Liga NOS estava marcada pelo encontro entre Benfica e Porto, a 1 de Abril, e por aquilo que as duas equipas fariam até lá chegar, a jornada 26 deu-nos dados interessantíssimos para que, tudo se mantendo igual nas condições pontuais, tudo se tenha tornado diferente no que toca ao contexto e como ele é percepcionado pelos atletas.

O FC Porto vinha de nove jogos a ganhar na Liga NOS, os últimos cinco sem sofrer golos, alimentando a ideia de aproximação ao líder Benfica que, no mesmo período, tinha cedido um empate caseiro frente ao Boavista e perdido na deslocação a Setúbal. Os encarnados já tinham vivido algo de semelhante na temporada passada, em sentido inverso, aproximando-se do então líder Sporting para, no encontro com os leões em Alvalade, os ultrapassar em direcção ao título.

Com o empate do Benfica no sábado, o FC Porto teve a oportunidade, mas também a responsabilidade, de chegar ao Estádio da Luz como líder. Mas será que a vantagem dos pontos tem o mesmo impacto que a vantagem da construção de narrativa do perseguidor que supera o perseguido na sua própria casa? O empate do FC Porto perante o Vitória de Setúbal parece ter mantido as coisas exactamente como estavam.

Era uma oportunidade que tínhamos, ser líderes (…) é uma oportunidade perdida.

Nuno Espírito Santo

No entanto, nada está igual. Os jogadores do FC Porto de cabeça caída no final da partida no relvado do Dragão e a injecção de adrenalina que o golo de João Carvalho terá significado para os benfiquistas, reescrevem a história da antevisão do clássico de 1 de Abril. Vai ser o FC Porto quem chega, mesmo a apenas um ponto, vindo de uma “oportunidade perdida”, enquanto para o Benfica o seu carácter de resistente perante a adversidade de uma temporada marcada por dificuldades terá vindo ao de cima com os resultados (mas sobretudo com a ordem de realização dos mesmos) deste fim-de-semana.

É verdade que, entre esta jornada e a próxima uma grande parte dos jogadores das duas equipas vão servir as respectivas seleções, num período em que os ganhos e perdas emocionais desta semana se poderão diluir. Mas nunca a mesma diferença de pontos pode ser vista como uma situação igual, quando o contexto foi marcado por eventos que conduziram a uma constatação diferente dos factos apresentados.

Sobre Luís Cristóvão 103 artigos
Analista de Futebol. Autor do Podcast Linha Lateral. Comentador no Eurosport Portugal.

3 Comentários

  1. Sim, e também bastaria a simples inversão dos dias com os mesmos resultados para as conjecturas se alterarem. Se o Porto tivesse jogado sábado e empatado, um hipotético empate do Benfica no domingo também inverteria este “agora”. De facto é muito interessante e com várias hipóteses isto a que o autor chama de “construção de narrativa do perseguidor”.

  2. Sim isso é bem verdade, mas também há outra perspectiva. O Porto empata com o Vitória de Setúbal mas esteve muito mais próximo da vitória, quer em termos de produção ofensiva quer em termos de segurança defensiva, do que o Benfica em Paços. E isso assusta-me, porque nos últimos jogos o Benfica tem estado muito mais débil quer defensiva quer ofensivamente do que o Porto.

    Saudações de um Benfiquista

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