Um jogo que se quer prazeroso

Como desfrutei como quando era pequeno nunca mais aconteceu…

Thiago Alcantara, quando questionado sobre se atravessava o momento mais feliz enquanto jogador.

Escrevia o genial Ricardo Ferreira no seu texto mais recente:

Cada vez vai ganhando mais força a ideia da importância do Futebol de Rua, das suas características singulares, e da prática sistemática que este promove. Da forma como esse contexto, desprovido de adultos, liberto da pressão que o erro significa para os mesmos, leva a criança a ser o “cientista”, experimentando, aprendendo o jogo com este como o professor, proporcionando-lhe evolução, fazendo emergir o talento e até conhecimento.

O contexto, o envolvimento, as vivências. A prática intensiva e o desenvolvimento da motivação são de facto o que faz a diferença no explorar do potencial do jovem jogador.

No “Código do Talento”, o desconforto do erro é mencionado como determinante no desenvolvimento de talentos. São como “pontos de referência para o aperfeiçoamento”.

Nos dias de hoje em Portugal, há pouco espaço e tempo para as crianças se divertirem e abusarem da prática livre de amarras e condicionalismos. Daquela que tanto contribuiu para o aparecimento de Thiago e do seu irmão Rafinha enquanto jogadores. Numa sociedade que cada vez mais encaminha os jovens para os videojogos, é determinante que no pouco tempo de prática que tantas vezes sobra, que esta para além de dirigida de forma a potenciar o máximo de tempo de empenhamento motor, em contexto de jogo, que possibilite a experimentação, esteja também liberta das ordens que vêm da bancada, que nada mais fazem se não coarctar as posibilidades de desenvolvimento da criança.

Que para além de não aprender e não compreender, não desfruta.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. “Um jogo que se quer prazeroso”

    Caro Paolo Maldini

    Grande contraste com as palavas de Abel Xavier: treina a dor, luta contra a dor e vence a dor.

  2. A sociedade não encaminha as crianças para os videojogos, apenas. A sociedade encaminha os pais a encaminharem os filhos para tudo o que é escola de futebol, desde os três anos. É uma estupidez, não tem outro nome. Depois, uma horda de treinadores formatados, cria milhares de jogadores-robot, tudo igual, tudo muito certo, sem pingo de criatividade. Vão surgindo seres raros, que fora das escolas não largam a bola, Bernardo, Gelson, Renato. Poucos mais. A esmagadora maioria é de protótipos do que esses treinadores e pais conhecem e desejam. Até aos 10 ou 12 anos, devia ser proibido jogar futebol em escolas, os miúdos deviam jogar entre eles, arranjem-se espaços e os pais que deixem de ser maricas (aí os pedófilos, ai os carros, ai os cães) ou Donas Dolores em potência e deixem as crianças em paz.

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  1. A bola que incomoda. O contexto social e a formação de jogadores. – Lateral Esquerdo

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