A estratégia de Mourinho e um Ajax inofensivo

Acredito que não tenha andado longe do que imaginou José Mourinho, a primeira parte do jogo de ontem. A estratégia do português assentou nas marcações individuais e em alguns ajustes necessários, na hora de criar superioridades.

À exceção de Rashford e de um dos centrais (dependendo do lado onde caía o avançado), todos os jogadores tinham um jogador como referência. Os ajustes surgiam em função de algumas trocas posicionais e da forma como o Manchester tentava recuperar a bola quando esta entrava nos corredores laterais.

O Ajax foi incapaz de se adaptar aos problemas impostos. Sánchez, o central pela direita, caiu diversas vezes no engodo criado por Mkhitaryan e Rashford. Os laterais foram sempre conservadores e nunca fizeram com que os médios alas do United se juntassem à linha defensiva. Younes, à esquerda, raramente deixou a linha lateral para retirar proveito dos métodos defensivos do adversário. O mesmo aconteceu à direita com Traoré, ainda que, em alguns momentos, tenha procurado desequilíbrios em zonas mais interiores.

Não é fácil desbloquear este tipo de postura, principalmente, quando se enfrentam jogadores poderosos do ponto de vista físico. Para quem procura praticar um jogo posicional, na procura do homem livre que surge nas costas do adversário é difícil enfrentar equipas que, à partida, não concedem esse espaço. As soluções têm de ser diferentes. Atacar adversários que defendem homem-homem exige comportamentos diferentes daqueles que se têm quando enfrentamos adversários que defendem de forma zonal.

Quando a principal referência do adversário é bola, a tendência é mover a oposição através da circulação. Contra equipas que referenciam um opositor de forma direta, o adversário tem de ser movido através de arrastamentos e ações coletivas que promovam a criação de espaços. O Ajax, durante toda a primeira parte, não me pareceu trabalhado para criar nem aproveitar os espaços provenientes dos arrastamentos que surgiram com frequência. Os centrais conseguiram conduzir e progredir mas, na maior parte das vezes, o jogo holandês bloqueou à entrada do último terço. Mérito da estratégia de Mourinho e demérito da incapacidade da equipa de Peter Posz.

Com bola, o Manchester não existiu nestes primeiros 45 minutos! Seria interessante ver como reagiria a equipa inglesa perante uma situação de desvantagem.

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

2 Comentários

  1. Obrigado por este post
    Conseguem arranjar um jogo (do arquivo….) onde perante este tipo de marcação se mostram situações onde se ultrapassa bem criando sistematicamente situações de perigo?

  2. Grande análise Bruno, mais uma vez. Concordo com tudo, e acho que o Mourinho não irá promover um jogo de mais posse e recuperação da bola em zonas mais adiantadas enquanto a qualidade individual da defesa não melhorar. Tem de ganhar títulos, e com esta defesa na minha opinião só dá assim, a focar-se em anular a qualidade ofensiva do adversário, e esperar que numa bola parada ou no contra-ataque marquem. É verdade que gastou 100 milhões no Pogba (podia ter gasto em centrais e laterais de qualidade), mas também acho que o impacto do mesmo no jogo ia ser maior do que foi.

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