Final da Liga Europa

Todos querem muito encontrar um vencedor ou um derrotado para lá do resultado. Afinal, Mourinho foi um génio porque anulou completamente o adversário ou não?

Há sempre muito de capacidade de uns e incapacidade de outros numa partida. Outras tantas vezes é somente a aleatoriedade que determina o vencedor.

Não foi o caso na final da Liga Europa. O Manchester United venceu porque estava mais preparado para vencer.

Um jogo tremendamente aborrecido por dois factores chave. 1) A forma como o United abordou o jogo. Não é bem uma crítica à competência. Se Mourinho sabia o que aconteceria no factor chave dois, e sabia-o, porque como ninguém conhece adversários e prepara os jogos, importava mais vencer novamente um troféu europeu e voltar à Liga dos Campeões, do que se propor a um jogo que lhe deixasse mais dúvidas sobre o resultado final. Ou seja, a crítica é ao bom gosto! 2) A forma como o Ajax foi completamente incapaz de demonstrar ser a equipa inteligente e atractiva que tem conquistado a Europa foi no fundo o que permitiu que o plano de jogo do Manchester corresse na perfeição sem qualquer sobressalto.

Tudo a começar na incapacidade do Ajax para provocar o adversário logo na sua construção.

Dois centrais que não eliminavam Rashford para iniciar progressão, ou porque faziam passe sem fixar o inglês, ou porque estavam muito juntos. Quando progrediam, não atraiam elemento da linha média, para tocar no homem livre (imagine que central atrai Fellaini a sair a si, o homem livre passa a ser o jogador que ficou livre da marcação do belga). Se é possível e por vezes até fácil “brincar” com quem opta pelo Homem a homem em todo um sector, aproveitando sucessivamente o jogador que fica livre para receber, o Ajax nunca foi capaz de o fazer. E como não foi capaz de o fazer, os seus médios praticamente nunca recebiam a bola enquadrados com a baliza adversária. De costas para o jogo e com pressão, sempre obrigados a tocar a trás, sob pena de perderem a bola num momento em que a equipa estava aberta.

Nunca foi capaz de ter um avançado a ofertar apoios frontais aos centrais para depois ligar com médios, que recebendo um passe que vem da frente para trás, já estariam enquadrados e de frente para o jogo!

Foi tremenda a incapacidade do Ajax para ter um jogo inteligente, e aproveitar o método defensivo que Mourinho levou a jogo. Se Mourinho sabia que assim seria, e naturalmente que muito provavelmente saberia, decidiu bem. Matou os holandeses por não os deixar ter criação. Se não sabia, terá apenas jogado à sorte! Nunca em mil anos tal estratégia resultaria perante uma equipa com outros argumentos.

Não é por acaso que a percentagem de finais vencidas pelo treinador português é avassaladora. Porém, se se poderá aceitar neste jogo específico o que o United apresentou no relvado (sempre partindo do princípio que Mourinho sabia exactamente o desconforto e incapacidade que provocou no adversário com as suas decisões), é impensável que esta seja a forma com que o Manchester pretende vencer jogos de forma continuada. Demasiado pobre o jogo do United, limitando-se a esperar o momento, sem nunca procurar o protagonismo que se impõe num clube desta dimensão.

Em suma, Mourinho tinha de vencer, e se identificou esta a forma mais segura de vencer o troféu em função das características e intenções do Ajax, não há como o criticar. Porém, continuar a vencer de forma regular implica uma mudança total ao jogar apresentado na final da Liga Europa. Na próxima temporada com o reforço do sector mais recuado e consequente saída do onze daqueles em que não confia porque têm muito erro, o jogo tem de ser o oposto do demonstrado no dia de ontem.

Se tu queres pressionar a bola a todo o momento, não jogas curto

P.S. – A curiosidade do golo de Pogba ter chegado da forma como o Ajax o pretendia fazer, e a estratégia de Mourinho inviabilizou. Uma recuperação alta.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

5 Comentários

  1. Sobre o “imagina essa estratégia com outras equipas/equipas de Guardiola” parte de duas premissas questionaveis: 1) Mourinho é burro ou 2) Mourinho é não adaptavel.

    Isso levando em conta que tem no curriculo sim uma goleada historica de um time de Guardiola, mas que, analisando o retrospecto, se mostra um resultado completamente pontual.

  2. Mourinho a ser Mourinho, nada de novo portanto. Dá pena ver um jogador como o Mkhitaryan completamente amarrado e sem bola.

    O que mais me impressionou durante o jogo foi o central de Ligt. Ele é de 99! Qualidade com bola, óptimos pés, rápido, bom controlo de profundidade, apesar de ter o outro central horrível ao lado e capacidade física de se impor em todos os duelos.

    Não há gif do centralão a tentar dar uma cueca no Rashford para sair a jogar? Ahahahah

  3. Espectacular este post também.

    Eu joguei andebol de alta competição, este estilo de defesa pode surpreender ao início, mas num jogo inteiro seria um mimo de festival de combinações em jogadas de 4×4 3×3 2×2 etc.
    É engraçado como algumas bases de outros desportos podem ajudar noutros

1 Trackback / Pingback

  1. Mourinho, a final da Liga Europa. O que eles podem e querem dar. Ainda o modelar e o desmontar. – Lateral Esquerdo

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