Levei muitas duras porque só queria fintar… O César Prates, que atacava a bola e tinha uma grande qualidade, passava-me a bola e eu não a devolvia porque queria fazer uma finta ou uma brincadeira. A bola perdia-se, equipa adversária recuperava-a e o César tinha de recuar à pressa. Quando finalmente a bola saía, o César olhava para mim e, Jesus, só não me comia, porque não podia…
Ricardo Quaresma
Há ene condicionante e variáveis na hora de formar um plantel. Decisões a serem tomadas que têm de ir muito para lá das qualidades futebolísticas dos jogadores.
A importância de ter vários tipos de perfil / personalidades, bem como pessoas com diferentes expectativas é determinante para gerir a felicidade de um grupo.
Quando a visão de determinado clube passa por formar e apostar nos jogadores formados, por forma a valorizá-los ao máximo. Seja para retirar rendimento desportivo, seja para retirar dividendos económicos, há algo que é determinante. Muito dificilmente os mais jovens atingem o seu potencial máximo se não coexistirem com os mais velhos nos seus primeiros anos de sénior. O primeiro passo para se poder apostar de forma gradual nos mais novos é ter referências no mesmo grupo.
O respeito que sempre existe quando se pisa o mesmo espaço de gente dez ou mais anos mais velhos, e sobretudo com um historial importante, faz aumentar a responsabilidade. A concentração e a atitude competitiva. A vontade de crescer mais.
Durante a presente temporada tive oportunidade de trocar ideias com o treinador de um dos jovens em ascensão em Portugal. Treinava e jogava na segunda Liga, e… “Está muito fácil para ele. Tão fácil que está a perder concentração e está a facilitar. Tem de ir à equipa principal para quando errar ter o X e o Y a buzinar-lhe aos ouvidos para ver se cresce”
Mais depressa se cresce com um gajo chato dentro de campo, mas que é um exemplo quer de conquistas quer de entendimento do jogo, do que com outro fora dele. Porque são sempre esses as referências dos mais jovens.
Estávamos nos EUA e íamos jogar Barcelona-Milan. Antes do jogo, no túnel, vi o Rui Costa junto à equipa do Milan com as vedetas todas. Repito-me, sou envergonhado por natureza. Fiquei com receio de ir lá e ele não me falar ou só falar por falar. Fiquei no meu lugar, encostado à parede. Nisto, o Rui veio ter comigo, deu-me um abraço, um beijinho e puxou-me para o lado do Milan. Cumprimentei todas aquelas vedetas e ele começou a elogiar-me. Isto são coisas que não se esquecem, sobretudo para um miúdo de 20 anos. Além de ter sido um craque como jogador, daqueles que não te importas de pagar o que quer que seja para o ver em ação, também é um craque como pessoa
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