Que a Premier League é um campeonato com características únicas e díspares de todos os outros campeonatos do futebol mundial, ninguém tem dúvidas.
Porque todas as equipas conseguem reunir um leque de jogadores de elevado nível (numas mais noutras menos vasto), e porque a cultura própria do futebol britânico como que impõe um jogo de permanente busca pela baliza adversária, priorizando a velocidade com que se chega à baliza adversária sobre a inteligência com que se o faz, a Premier é uma competição à parte de todas as outras.
Menos bem jogada do ponto de vista do controlo e da inteligência, mais emocionante e rica no que quase todos pretendem de um jogo de futebol, isto é, remates e perigo a rondar as balizas.
Não é somente a cultura britânica que impõe o jogo mais rápido. Embora não deva duvidar do quanto a bancada influencia o curso de várias tomadas de decisão, também a primazia por um investimento muito grande em termos ofensivos de todas as equipas menos candidatas na Premier League tornam possível a cada equipa fazer golos sem precisar de elaborar em demasia o seu jogo.
Em suma, a qualidade individual em cada frente de ataque chega a ser tanta para o contexto Premier League, que uma bola batida rápida na frente para um avançado em inferioridade numérica pode facilmente tornar-se num lance de golo.
Provavelmente em nenhuma outra Liga do mundo, os avançados de qualquer uma das equipas têm qualidade para bater sucessivamente nos duelos cada defensor das melhores equipas da competição. Em Inglaterra, o forte investimento que se faz notar demasiadas vezes em cada um dos elementos ofensivos de qualquer equipa da Liga, condiciona também todo o jogo. À pressa pedida pela bancada, vem uma sensação de sucesso quando se faz a bola chegar aos melhores, mesmo que não de forma elaborada.
A sensação de frustração para quem pensa e pretende um jogo pensado, por perceber que demasiadas vezes o sucesso chega aos trambolhões, é grande. E nenhuma outra Liga no Mundo exige tanto como a Premier League em termos de adaptabilidade e percepção do contexto para se definirem ideias. Também por isso a Liga Inglesa, mesmo que menos bem jogada que tantas outras, é o desafio da vida para os melhores treinadores.
Até o City é afectado por isso. Ao ver o jogo e os passes ‘fáceis’ falhados pelo Fernandinho por puro frenesim apercebi-me do quanto o City tem necessidade de quem saiba imprimir pausa. Em espaços mais recuados falta ali uma âncora, jogadores como o Xavi, um Busquets, um Xabi; duvido que seja o Gundogan com a pobre sorte que ele tem tido.
E em espaços mais ofensivos talvez até foi por essa necessidade de ter mais um para além do Silva que saiba pausar e acelerar conforme o contexto (mais que pela capacidade de desequilíbrio individual), que ele foi buscar o Bernardo (viu-se bem a diferença quando ele entrou no lugar do Sané, que esteve mal).
Nem a propósito, acabei de me deparar com um velho artigo do Perarnau que vai de encontro ao artigo. Um abraço.
http://www.marca.com/blogs/perarnau-221/2016/01/25/los-equipos-no-se-entrenan-no-tienen.html
Off topic: Pedro, não consideras que o golo do Everton é um conjunto fabuloso de boas decisões?
sim, Duarte!