Horripilante mas não surpreendente. Benfica em Vila do Conde.

Mas, primeiro destaque para quem mais o merece.

Se o Benfica passou por tamanhas dificuldades tal deve-se naturalmente a muitas responsabilidades próprias, mas sobretudo a uma proposta e a uma estratégia de jogo ousada, que colocou a equipa encarnada em muitas dificuldades.

Sem a coragem para jogar no seu meio campo defensivo, o Rio Ave nunca teria encostado o Benfica às cordas da forma como o fez até a fadiga se instalar, e portanto o mérito maior é para não só uma ideia de jogo, mas para os executantes, que estiveram a um nível altíssimo.

E é muito de coragem que se definiu o rumo da partida. Enquanto todo o quarteto defensivo do Benfica estava mais preocupado em proteger-se do erro, e não se mostravam para receber, ora ordenando portador para bater, ora obrigando-o a fazê-lo porque não abriam o campo, a linha defensiva do Rio Ave demonstrou uma competência com bola que simplesmente Eliseu, e os centrais encarnados não têm. E se não se acentuou ainda mais as diferenças, foi porque Felipe Augusto tem melhor saída que Fejsa. Mesmo sendo inferior em tudo o resto.

Ofensivamente, Benfica sem nunca conseguir construir, porque equipa demasiado junta e com os elementos da rectaguarda mais preocupados em não cometer erros do que em tratar do processo ofensivo, e defensivamente, porque o Rio Ave demonstrava coragem, a pressão encarnada era insípida. Não só raramente recuperou a bola, como pelo facto de não o fazer, a equipa dos Arcos saía com bola dominada perante uma equipa que já estava desorganizada defensivamente por ir pressionar.

Pizzi, os alas e os avançados saíam para recuperar, eram batidos e o Benfica ficava a defender somente com 5 atrás da linha da bola. E foi talvez a opção de continuar a tentar pressionar, quando o Rio Ave saía com tanta facilidade, o maior erro encarnado ao longo de toda a primeira parte. Nunca recuperava e ficava desequilibrado atrás. Juntar as linhas, manter Pizzi e os alas baixos, sendo mais paciente no momento em que pretendia recuperar, teria valido mais recuperações e mais transições. Assim, cansou a equipa e não foi mais vezes batido por mero acaso.

Muitas leituras poderão surgir. O que é garantido é que Rui Vitória não pede aos centrais para não abrirem, nem a Eliseu para se esconder e ordenar bater a bola. A realidade é que a última linha encarnada, ofensivamente não tem a qualidade necessária para servir sucessivamente uma equipa da dimensão do Benfica. E porque percebem as dificuldades próprias porque passam, protegem-se. De todas as equipas que em campos mais reduzidos, decidirem pressionar o Benfica, raríssimas serão as vezes em que o Benfica irá conseguir ligar a construção com as zonas de criação. Porque não adianta pedir ou querer a equipa aberta, quando os jogadores para não somarem perdas por saberem das dificuldades próprias com bola, simplesmente se escondem, juntando-se para não receber.

Na temporada passada, desde bem cedo avancei aqui a superioridade gritante do Benfica sobre os rivais, porque na sua construção com Ederson, Grimaldo, Semedo e Lindelof tinha sempre saída e chegada a zonas prometedoras. E não terá sido por acaso que dos quatro apenas transitou para a nova época quem esteve muito tempo de fora por lesão. Na presente temporada, e comparativamente com os rivais, há um deficit claro de qualidade com bola nos jogadores que… mais tempo a tocam! E não haverão movimentos ou posicionamentos que se possam imaginar, quando não há qualidade suficiente para o contexto em questão. E se os próprios a percebem, e percebem… mais tenderão a proteger-se…

 

 

Destaque individual:
Rúben Ribeiro. Venceu em toda a linha o “duelo” pessoal com Pizzi. Qualidade técnica e entendimento do ritmo de jogo como poucos em toda a Liga. Aos 30 já não jogará num patamar muito mais elevado. Há que o apreciar enquanto continua a este nível, porque em Portugal, jogadores com esta capacidade para entender e pautar todo o jogo com as suas decisões e gestos técnicos são muito poucos.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

16 Comentários

  1. Excelente (como sempre) a análise !!! Confesso que a ver o jogo o problema do lado esquerdo da defesa do benfica com os charutos para a frente já tinha reparado e acho que não é de agora. Mas ontem até meti a viola no saco e parei de criticar o Eliseu porque toda a gente com quem vejo bola diz que é embirração minha … pois não penso que seja e um jogador que defensivamente para mim é fraco (ficará provado na champions se o grimaldo valha nos deus não recupere).
    Em todo o caso penso que o problema do benfica ontem foi ter defrontado uma equipa que curiosamente a sair a jogar lembrava é muito o benfica do ano passado. Não obstante também não deixa de ser verdade o seguinte : i) apesar do salvio ser um jogador limitado em termos de decisão muitas vezes que raramente passa uma bola, também não deixa de ser verdade que com ele no lugar do rafa talvez tinh ganho o jogo o benfica pois o rafa (Sr 15 milhões perante o guarda redes na pequena área não teve arte nem engenho para Meter a bola na baliza, e este é o pecador maior deste jogador valeu 15 milhões mas não tem poder de concretização algum, podemos discutir hj faCe aos valores absurdos de transferências que foi uma ninharia para a sua qualidade talvez seja verdade mas para a realidade portuguesa todos sabemos que não); ii) o golo do rio ave surge no seguimento de uma excelente jogada mas de uma má abordagem do guarda redes que no chão soca a bola pra frente; e iii) provavlemente com o jogo de ontem fica provado que não é um gabigol que faz falta ao benfica e sim 2 laterais e um central que peguem de estaca… como diz o maldini e evident tínha 3 jogadores que participavam na construção a época em passada desde trás para termos nenhum como se vio no jogo de ontem !!!
    Maldini já agora para complementar a tua chamada de atenção pro Rúben ribeiro (totalmente justa) mas ontem em grande plano o Chico Geraldes e o Pelé (este jogador nao teria mais a acrescentar ao benfica que jogadores Que tantos outros médios que lá passaram nos últimos anos?)

  2. Na 2ª parte o Benfica melhorou, mas esta 1ª parte foi má demais. Creio que o Benfica enfrentou um dilema que não foi capaz de desfazer. As equipas que costumam jogar assim contra o Benfica, com coragem (palavra-chave neste texto) são essencialmente os outros 2 grandes e as equipas na Europa. E nessas situações, o Benfica prefere não pressionar e juntar linhas lá atrás. Talvez pelo nome do adversário ser mais “pequeno”, a verdade é que me pareceu que se sentiam obrigados a pressionar e a roubar a bola, e acabaram por não estar bem a pressionar nem a organizar-se.

    Laterais do Benfica hoje não têm nível para o Benfica. Frente ao Chaves já me pareceu a mesma coisa, no “conforto” da Luz a coisa tem corrido melhor. André Almeida com muitas dificuldades técnicas, na receção, na condução, e decisões piores ainda. Eliseu hoje foi um desastre. Não se mostrava para jogar, falta de CORAGEM, que não é própria de alguém com 30 anos e que já jogou em Espanha e na seleção portuguesa. São os 2 eventuais bons suplentes aqui e ali, mas sem dúvida que o Grimaldo é um grande upgrade, e acho que o Mato Milos será um upgrade também.

    Jonas e Seferovic estiveram mal, mostraram-se muito pouco para construir, pelo menos na 1ª parte. O suíço esteve particularmente desastrado, caindo muitas vezes em offside quando atacava a profundidade e quando recuava, perdeu muitas vezes a bola. Jonas na 1ª parte definiu mal muitos lances, nem parecia ele próprio. Os alas estiveram desinspirados, e mais uma vez Rafa não aproveitou a oportunidade que teve. Pizzi foi bem tapado, e das vezes que conseguiu jogadas de maior perigo, foi através de construção iniciada pelo Augusto, que mais uma vez, fez um bom jogo.

    Neste jogo, acho que se o Benfica tivesse jogado com Samaris, Augusto e Pizzi, não tinha perdido nada. Claro que é mais fácil falar depois, porque de fato Seferovic e Jonas não estiveram bem. E ainda haverá Krovinovic, que acho que vai melhorar esta qualidade com bola. Mas quando se tem 5 jogadores de qualidade técnica duvidosa (Varela, Luisão, Jardel/Lisandro, Eliseu e Almeida), o resultado pode muito bem ser esta que foi no jogo de ontem. Porque se os da frente não estão inspirados, e ontem não estavam, o que sobra?

    Zivkovic: mostrou-se bem mais e decidiu bem melhor do que Rafa. Tem de ser titular, do lado direito, porque do lado esquerdo o ano passado a coisa não resultou e perdeu protagonismo. Quando regressar Salvio, logo se verá.

  3. Mais que o R.ribeiro penso que o A.Geraldes foi a peça que embaraçou o pizzi e como tal o benfica não conseguiu jogar. Defensivamente o Andre tapou bem o pizzi, juntamente com o Ruben, e ofensivamente o Andre ridicularizou o pizzi e fez-lo perder a concentração. Tudo o resto concordo plenamente e põem a “nú” o que vamos ver do benfica com equipas do seu campeonato. Será um benfica “pequeno” À espera da sorte e da letalidade do jonas, dado que pouco se verá de futebol na vertente dos adeptos e apaixonados! Lembro que foi este tipo de jogo que fez com que o campeonato italiano deixasse de ser de topo, estando abandonado na europa e à mercê dos “mercenários” (comissionista e apostadores).
    Pretendo ver um benfica com defesa alta a pressionar as equipas pequenas, sendo necessario defesas que não tenham medo de ter a bola e conseguiam sair a jogar. Foi uma pena o lance do lisandro pois é o unico (a par do grimaldo e do jardel antigo) que o consegue fazer. Discordo tambem do filipe augusto pois reconhecendo alguma qualidade não possui o suficiente para ser titular no benfica.

  4. Maldini, estas a dizer que se o Benfica não tivesse uma saida de bola treinada como a do Rio Ave não conseguiria fazer melhor que o Rio Ave, ou toda a linha defensiva do Rio Ave é melhor que a do Benfica?

    De facto, é nestes jogos que o “golo do salvio” faz falta, pois de resto fica aquém de Zivkovic e Rafa, e por isso continua a ser 1 escolha..

    • estou a dizer que não tem nada a ver com treino. Porque o Benfica não treina para os seus laterais e centrais fecharem o campo… Mas, com individualidade e coragem. A linha defensiva do Rio Ave mesmo com bola não será melhor que a do Benfica (também não deverá ser mt inferior), mas passa mais pela Coragem (se um defesa do Benfica erra é falado a semana toda e fica no centro do furacão, um do Rio Ave é normal, dai uns terem-se protegido…para passar nos fios da chuva!)

      • Bem sei (e sei-o em grande medida pelo que aprendi neste blog) que o treinador, apesar de peça fundamental, não pode jogar pelos jogadores. Pelo que, essa questão da falta de coragem dos defesas do Benfica, para se protegerem das suas lacunas, me pareceu evidente neste jogo, que assisti no estádio. Também, a abordagem de grande pressão na frente, com o Rio Ave a sair desde trás com a bola controlada sem o benfica conseguir contrariar também foi evidente. No entanto, pensei que ao intervalo a abordagem do Benfica fosse corrigida pelo Rui Vitória, contudo, após o intervalo tudo se manteve tal como na primeira parte. Pergunto se neste enquadramento não se poderá atribuir uma parte grande da responsabilidade ao Rui Vitória, por não ter ajustado a abordagem da equipa face ao que o adversário estava a fazer e também por não ter conseguido incutir um pouco dessa coragem que falas aos jogadores, que, apesar de fracos com bola, não serão mais fracos do que os do Rio Ave, que o fizeram com sucesso durante grande parte do jogo.

  5. Se é pertinente essa questão da saída de bola e da desadequada pressão alta. Pergunto se na ausência de Salvio(quiçá o mais injustiçado jogador deste BENFICA) não teria sido mais adequado, jogar com o João Carvalho ou o Horta, encostando o Pizzi a zonas mais exteriores. Por outro lado, a substituição de Rafa parece ser uma péssima decisao naquela altura. Aproveitava para perguntar porque Rafa tem tão boa imprensa, dado que o seu rendimento é medíocre. Cumprimentos

  6. Isto é uma machadada nos Machadeses desta vida.

    Princípios, organização e coragem de jogar no campo todo.

    O Benfica, mesmo com algum défice qualitativo na defesa, vai continuar a ganhar os jogos quase todos porque na frente são muito fortes.

    As críticas feitas a Rafa, Pizzi e Jonas são algo injustas, a meu ver…

    No volley um grande passe surge depois de uma grande recepção, que irá originar, na maior parte dos casos, um grande remate e ponto.

    Aqui será a mesma coisa, mas mais complexa, os artistas à frente só poderão jogar e mostrar-se se atrás as coisas fluirem.

    Como não aconteceu, foi o que se viu.

    Há muito trabalho que está por fazer, penso eu.

    Um abraço,

  7. Salvio! Salvio! Salvio! Salvio!

    Além de jogar muito, como é louco, arrisca, força, fura, nem que seja à bruta. Tendo uma técnica individual espantosa, muitas vezes resulta. Tem de jogar sempre. É o Isaías dos tempos modernos.

    Zivkovic: bastou entrar, que aquilo começou tudo a funcionar.

  8. Mas o SLB ganharia o jogo se o Sálvio jogasse? Leitura um pouco enviesada do jogo. Veremos os próximos capítulos.
    Quanto ao post estou de acordo com o Maldini.

  9. Tinha uma boa impressão deste Rio Ave, mas faltava-me um jogo com um grande para confirmar que a personalidade desta equipa se mantinha.

    Confortável na troca de bola na defesa pressionados, a sair a jogar no Cássio como se de outro central se tratasse, sem problemas de recolocar a bola ao meio, rasteira e pelo chão ao médio que recua para receber a bola, como se ensina a qualquer miúdo que não se deve fazer pelo risco de falhar o passe.

    Muita qualidade, uma pena que a imprensa inteira, e a blogosfera em particularm se dediquem a dissecar uma exibição que realmente foi razoável do Benfica em vez do grande jogo que fez o Rio Ave. Com critério, sem perdas de tempo e sobretudo com uma qualidade e personalidade tremendas. Fazem mais falta equipas destas na Liga Portuguesa. Ah, e o Rúben Ribeiro… Uma pena os trinta anos, como é possível um jogador com esta qualidade ter uma carreira tão humilde?

  10. Excelente análise e mostrei a todos aqueles meus amigos que acham que uma defesa(e guarda redes) destas chega para as provas internas. Muita gente custa ainda a entender a pertinência de jogadores tecnicamente evoluídos nas posições mais recuadas e tenho tido várias discussões sobre isto desde a pré-época. O Benfica até tem o Lisandro mas esse tem outros problemas. Depois desta demonstração será provável que várias outras equipas pressionem alto contra o Benfica nos seus campos ou poucas têm capacidade para isso?

    • Sim, quando escrevi Lisandro lembrei-me que apesar de ter bons pés nem sempre toma boas decisões para além dos problemas de posicionamento

  11. Foi um mau jogo a todos os níveis, excepto do lado do Rio Ave, que mostrou vários atributos de qualidade.

    Mais uma vez ficou patente a falta de ideias colectivas para resolver problemas colectivos. O modelo de jogo do Benfica é o normal para uma equipa que passa 90 por cento do tempo em cima do adversário e não há cabeças escondidas. Certo. Mas continuam a faltar, após dois anos de trabalho, mais ligações com bola, mais ideias, mais soluções conjuntas e menos fé no Jonas e no Pizzi. São dois excelentes jogadores, bem, ao nível da liga portuguesa e da maioria das ligas do mundo são mesmo estratosféricos, mas são apenas 2/11.

    Dito isto, na verdade foi dos piores jogos que me lembro do Benfica nos últimos largos anos. Foi horrível até a nível individual. Acho que nos primeiros 30 minutos – até haver ali uma paragem para assistir alguém e o RV ter falado com alguns jogadores – nenhum atleta do Benfica acertou uma acção individual. O Jonas fez o pior jogo no Benfica, durante 45 minutos não recebeu uma bola e não acertou um passe, digamos assim!

    Apesar do grande jogo do Rio Ave, houve alguns momentos que poderiam ter sido aproveitados para arrumá-los ou para provocar um jogo diferente. Acabou por ser um jogo interessante com o Rio Ave em alta.

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