Teoria da Estagnação

É sobre o Standard-Benfica, desta quinta-feira, mas podia ser sobre qualquer um dos jogos do passado recente deste Benfica da segunda vinda. Estando lá tudo, não faltaram as indefinições constantes na circulação de bola, como não faltou a falta de autoridade nos duelos. Em suma, a pata em cima do jogo que este Benfica (no extremo oposto às promessas de Jorge Jesus) não consegue meter. Longe vão os tempos em que, por exemplo, os adversários entravam no Estádio da Luz sabendo que evitar golos no primeiro quarto-de-hora era tão necessário como difícil. Algo que acontecia por um acerto com bola muito mais ao nível do prometido, como também por uma intensidade e autoridade sem ela que nada têm a ver com que acontece hoje. E nas deslocações, até nas europeias, a maior qualidade do Benfica em relação a adversários do calibre deste Standard, poderia não se traduzir em goleadas estonteantes, mas estava lá o controle, com e sem bola, a autoridade e o saber feito de uma equipa completa. Porém, nos dias que correm, o estandarte europeu do Benfica é algo empoeirado, remendado, onde não se conseguem distinguir os valores constantemente prometidos nas pré-épocas. De tal maneira que um empate em Liege acaba por não ser o mais importante a retirar, sendo que a falta de calibre e acerto, essa sim, continua preocupante – não se podendo esperar resultados melhores.

Confiando no grau de dificuldade dos remates de longe, o Benfica parece não querer desfazer a linha defensiva querendo garantir que consegue controlar os adversários que sobram. Uma expectativa que já traiu os encarnados algumas vezes esta época. Fica o debate se a segurança atrás seria beliscada pela saída de um elemento à bola.



E se, como já dito, nem mesmo a melhor versão do Benfica de JJ conseguiria andar no último terço do adversário o jogo todo, os momentos sem bola seriam muito mais autoritários do que hoje se vê. Não que o posicionamento não esteja lá, mas o encosto permanente sem ganho de bola, ou real condicionamento, não resolve os espaços que se criam depois. Exemplo disso é o primeiro golo dos belgas, no qual o Benfica encostou mas não ganhou. E não incomodando, deixou sair circulação de trás, e deixou chegar ao corredor lateral, como (ainda por cima) deixou finalizar no meio dos dois centrais. De nada valem assim sistemas ou posicionamentos sem roubo efectivo de bola, como não vale que as bolas que se ganham sejam perdidas em indefinições que não deviam acontecer em equipas com ambições e expectativas tão grandes. E ainda que o Benfica tenha golo (marcou logo a seguir numa jogada em que a ruptura de Taarabt foi fundamental) nenhum modelo, ideia ou sistema aguentará tanta falta de acerto com bola, como de falta de autoridade sem ela. Outro aspecto a rectificar será também o facto de nenhum elemento da linha defensiva sair ao homem da bola, quando a linha do meio-campo fica batida. Algo que aconteceu contra o Rangers, como aconteceu agora no segundo golo do Standard (Tapsoba 60′).

São então demasiados erros que a apetência pelo golo (que acabou por surgir de penálti, aos 66′) não consegue equilibrar. Quão melhor seria manter-se a apetência e corrigirem-se os aspectos técnicos (defensivos e ofensivos) que bloqueam o que se espera do Benfica. Rui Vitória padeceu disso, Bruno Lage idem. Jorge Jesus chegou e confiou que a sua ideia seria melhor e que isso, por si só, chegaria. Mas mantendo-se a espinha dorsal de erros passados, a ambição e expectativa exagerada que criou, correm o risco de se virar contra ele e engoli-lo como Lage e Vitória foram engolidos. Isto porque este problema não se resolve com sabedoria táctica e raspanetes de meterem orelhas a ferver. Resolve-se com a qualidade individual que o Benfica parece não ter. São demasiados erros não forçados e totalmente individuais para que se pense o contrário.

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