“Quantas vezes terão jornalistas dos mais diversos cantos do mundo escrito que o estilo de Rui Costa era inigualável? Muitos. Nós, pelo menos, escrevemos algumas. Erradamente, vê-se agora. O estilo de Rui Costa não é inigualável. O de Witsel, como já algumas figuras tinham referenciado, é idêntico ao de Rui Costa: a correr, a passar, a recuperar, a lançar, a cruzar, a rematar. Vista de longe, a silhueta do belga é a silhueta do português… o estilo, porém, está lá.” A frase chegou-nos ao correio electrónico, enviada pelo João Antuntes, com uma solicitação para que a comentassemos, e terá sido escrita por Rogério Azevedo, no Jornal A Bola.
Começando pelo belga. Aparenta ser um jogador impressionante. Completo. Entra directamente no top três dos mais aptos do ponto de vista do somatário das capacidades condicionais (os outros são Hulk e Guarin), mas o seu futebol está longe de se esgotar nos traços físicos. Tem uma técnica muito assinalável, joga com imensa simplicidade, e como mencionado previamente, sabe tudo sobre o jogo. É um jogador que claramente faltava no arriscadíssimo modelo de jogo de Jorge Jesus. Por ele, algumas insuficiências defensivas poderão ser corrigidas. Não esquecendo nunca aquela passada larga que lhe permite aparecer nas zonas de finalização num ápice. Mesmo sendo um comentário tão arriscado quanto o modelo de jogo dos encarnados, diria que Witsel marcará como poucos os adeptos do Benfica. E num espaço muito curto de tempo, até porque não é minimamente expectável que por cá continue muitos anos. Como bem explicou Robert Waseige.
Depois de somadas tantas qualidades, teremos Rui Costa? Nem lá perto, caro Rogério Azevedo. Nem lá perto.
Quando me aventurei pela blogosfera percebi, com enorme espanto, que as qualidades de Rui Costa não geravam unanimidade. Hoje, sei que independentemente da demência que pode levar alguém a minorar o talento do português, Rui Costa é também responsável pela ausência de unanimidade ao redor das suas qualidades enquanto futebolista.
Reza a história que, para ajudar os seus, recusou uma transferência para Barcelona. A proposta da Fiorentina era substancialmente mais interessante para o seu Benfica, diz-se. Tão nobre decisão imortalizou-o no coração dos benfiquistas. Mas, e todos os outros? Aqueles que amam o futebol enquanto jogo. Não deverão sentir-se atraiçoados pela opção que tomou?
É que sabes Rui, os jogos do Barcelona eram transmitidos em Portugal! E foste tu que nos negaste a possibilidade de poder ver-te passear classe ao lado do Figo, do Ronaldo, do Guardiola, do De la Peña, do Hagi, do Prosinecki, do Soitchkov e do Rivaldo.
Figo é de Portugal, Rui Costa escolheu ser do Benfica. Uma opção que muito congratulará Batistuta e milhares de benfiquistas. Mas, que o impediu de ser de todos os portugueses. E o seu talento que é inigualável…
Witsel poderá construír uma carreira com maior notoriedade que o português. Até porque aparenta condições para o fazer. Mas, pela sua criatividade, o principal traço que os diferencia, jamais veremos dezenas de túneis aplicados a adversários de ocasião, sempre em progressão direccionado à baliza adversária. Jamais poderemos ver passes e mais passes de ruptura, a isolar os colegas. Aquele estilo de número dez, cabeça levantada e bola colada aos pés, é algo que terminou com Rui Costa e Zidane. O futebol mudou. É hoje mais difícil ser-se bom jogador, e ser-se bem sucedido. Todavia, não é necessariamente, na actualidade, um jogo mais belo.
Witsel é craque. Mas, Rui Costa?! Nem em sonhos, Rogério. É que nem em sonhos.
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