Bruno Alves, o futebolista para lá do Karateca

white corner field line on artificial green grass of soccer field

Alguns dados referentes à época 07 / 08:

FCP sofre apenas 13 golos, um registo bastante interessante, tendo em conta os anos anteriores. Dos 13 golos sofridos, somente 4 foram em casa (tendo 3 deles sido sofridos no último jogo do campeonato, no Estádio do Dragão, facto que impossibilitou o FCP de bater um recorde absoluto de equipa com menos golos sofridos no seu estádio, no campeonato).

Que responsabilidade poderá ter por tal facto, o odiado (pelos adversários) Bruno Alves?

Esqueçamos todos os defeitos inerentes ao seu comportamento para com colegas de profissão… de equipas adversárias.
Bruno Alves é, ou não, um jogador de grande valia?

Na minha opinião, SIM! É um defesa central muito interessante para completar uma dupla de centrais, que tenha um central mais rápido.

Cada vez mais, as grandes equipas procuram começar o processo defensivo ainda no meio campo ofensivo. Para tal ser possível, é necessário ter os sectores bem próximos, por forma a retirar espaço ao adversário (esta é, uma das principais caracteristicas das equipas de José Mourinho) e consequentemente colocar a linha defensiva bem subida no campo de jogo (para garantir a tal proximidade entre sectores).

No caso concreto do FCP, essa defesa alta coloca imensa pressão e reduz os espaços aos seus adversários. Na liga portuguesa, poucas ou nenhuma equipa demonstra ter qualidade para realizar a transição defesa-ataque circulando a bola de pé para pé, quando há pouco espaço, optando invariavelmente, essas equipas, por um futebol directo (mais seguro, pelo facto de evitar perdas de bola logo no meio campo defensivo), solicitando o avançado, para que este consiga “segurar” a bola o tempo suficiente para que a equipa ganhe alguns metros no campo.

É fruto desta forma preferencial de sair para o ataque das equipas que defrontam o FCP, que a importância de Bruno Alves ganha relevo. Bruno Alves é neste FCP, o jogador encarregue de procurar disputar a “1a bola” e impedir que o adversário consiga ganhar e segurar a bola, enquanto a equipa se espande no relvado (é no fundo o Costinha, ou o John Terry de José Mourinho). O que se verifica é que, fruto de todo aquele tamanho e principalmente de toda aquela impulsão, é praticamente impossível encontrarmos lances não ganhos pelo Bruno Alves, condenando logo à nascença os ataques adversários (que também não encontram soluções para realizar as suas transições em circulação de bola).

Sem ter dados objectivos, creio que o FCP, fruto desta forma de se posicionar no relvado (defesa subida, que motivou a troca de Pedro Emanuel por Rolando) e das caracteristicas de Bruno Alves, que tem a capacidade incrível de anular o futebol directo dos adversários, deve ser a equipa que consente menos ataques na liga. O resto vem por consequência (menos golos sofridos, mais pontos…). Além de que, numa liga onde a maior parte das equipas tem poucas soluções para além dos cantos e livres indirectos para fazer golos, Bruno Alves pode mesmo ser ouro!

P.S.- A clareza como ele ganha os lances é tal, que por norma a bola acaba sempre nos pés dum colega de equipa, ou na pior das hipoteses de volta ao meio campo ofensivo do FCP.

P.S.II – Estou convencido que acabará por ser o próximo português no Inter de Mourinho (Apesar do propalado interesse do Barcelona, não lhe consigo augurar muito sucesso numa liga como a espanhola).

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

7 Comentários

  1. “Apesar do propalado interesse do Barcelona, não lhe consigo augurar muito sucesso numa liga como a espanhola”
    Depois de dizeres isto ainda achas o Bruno Alves um jogador de grande valia? É verdade que é forte, tem raça, disputa cada lance com ferocidade, mas essa agressividade quiçá exagera só serve para esconder um mau sentido posicional e escassa inteligência de jogo. Ganha vários lances pelo ar, em que impõe o físico e a boa capacidade de salto, mas numa liga em que as equipas ataquem bem, sem ser com futebol directo, Bruno Alves não passará de um jogador mediano.
    A análise está muito boa, com grande lucidez, mas não concordo com a suposta qualidade do Bruno Alves. Ou seja, as características que tem são boas para anular o jogo directo da maior parte das equipas portuguesas, mas numa equipa que ataque com critério (Arsenal por exemplo) são postas a nu as suas deficiências.

  2. Ola refutador,

    Bruno Alves é, a meu ver, um jogador mt interessante, para determinado contexto (no qual não se enquadra a liga espanhola).

    Era essa a ideia que queria passar.

  3. Pb
    Eu percebi o que quiseste dizer, aliás tive oportunidade de elogiar a tua análise ao jogador. Acho que um jogador, para ser considerado bom, deve ter, acima de tudo, boa capacidade de tomada de decisões. Os outros atributos, como a força ou a técnica, são importantes, mas não são determinantes se um jogador não tiver percepção do que é melhor para a equipa e que como deve enquadrar essas virtudes no colectivo. Daí não considerar Bruno Alves um jogador de qualidade, pois não tem essa inteligência de jogo. E um jogador inteligente adapta-se a qualquer campeonato.
    Abraço

  4. Professor, finalmente a render-se aos jogadores portistas, hein?

    Parabens pelas analises! Tem sido uma experiencia mt proveitosa e enriquecedora trabalhar consigo!

  5. Faço minhas as palavras do refutador. O Bruno Alves é, neste momento, um dos defesas europeus mais forte, se não mesmo o mais forte, no futebol aéreo. A sua capacidade no ar é notável. Mas isso, como foi dito, tem relevância apenas num campeonato cujas equipas, por falta de qualidade ou de critério, abusem do futebol directo. No Porto, é um jogador, portanto, útil. Na selecção, nas fases de qualificação, provavelmente também. Mas contra equipas que troquem a bolinha no chão, esse mais-valia deixa de ser relevante. Seria importante, para que Bruno Alves fosse completo, ter um bom sentido posicional e ler bem os lances. E isso não acontece. Tivemos o exemplo do Arsenal, com o Bruno Alves aos papéis. Tivemos exemplos de jogos na selecção em que cometeu falhas imperdoáveis. Temos o exemplo do Sporting, que invariavelmente contraria o bom rendimento defensivo do Porto porque joga de pé para pé. Contra equipas assim, Bruno Alves não é um jogador extraordinário. Além de tudo isto, há ainda que dizer que não se pode medir a qualidade dos defesas de uma equipa pelos golos que essa equipa sofre. O Porto de Jesualdo é das equipas que melhor defende em Portugal, mas isto de uma forma colectiva. A zona de Jesualdo é forte e o seu pressing altíssimo. Nesse sentido, equipas como a maioria das equipas deste campeonato, que não conseguem contraria o pressing e a forma de defender colectiva do Porto, acabam por apostar no futebol directo, onde o Bruno Alves se impõe.

    Não acho que seja um grande defesa como não acho que o Pepe o seja, embora toda a euforia. Ainda assim, acho o Pepe melhor que o Bruno Alves. E, muito sinceramente, não estou a ver o Bruno Alves nem em Espanha nem em Itália. E muito menos no Inter. Para jogadores imponentes no futebol aéreo, Mourinho já tem o Materazzi. E a ver vamos se o vai utilizar. Para Bruno Alves continuar a render, do meu ponto de vista, só em Inglaterra.

    Abraço!

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