A percepção de Quique

white corner field line on artificial green grass of soccer field


No futebol, como em tudo na vida, é muito fácil encontrar defeitos quando as coisas não estão bem, e virtudes, quando o oposto sucede.

De Quique Flores sempre admirei a capacidade de procurar defeitos onde outros apenas sentem euforia e de perceber que há indicações positivas, onde o comum dos mortais só vê defeitos. Creio que só com esta mentalidade se pode evoluir para patamares de rendimento superior.
É incrivelmente mais fácil formar a ganhar, mas é decisivo ter-se a capacidade de perceber que mesmo na derrota, há sempre pontos positivos, que indiciam que há uma evolução em marcha, e que nem tudo é passível de ser mudado.
Ainda mais difícil que contratar jogadores de qualidade individual indiscutivel, papel tão bem cumprido por Rui Costa no Benfica 08 / 09, é formar uma equipa na verdadeira acepção da palavra.
Da eliminação aos pés da super sensação equipa matosinhense, sobram também indicações positivas, de que há de facto uma evolução no pensar colectivo que Quique Flores tem procurado impor no seu Benfica.

A destacar:
1 – Os 4 do meio campo, são agora, efectivamente 4 no meio campo. (Foram 2, quando Reyes e Di Maria jogavam e não conseguiam compreender a dinâmica da equipa nos momentos defensivos. Foram 3, quando Amorim ocupava o lado direito do meio campo, e em Matosinhos, o meio campo do Benfica, foi efectivamente constituído por 4 jogadores, bem próximos e disponiveis para contribuir para o sucesso da equipa em todas as fases do jogo);
2 – O posicionamento da linha defensiva do Benfica, está cada vez mais próximo do idealizado por Quique (defesa alta, relativamente próxima dos médios, encurtando o espaço entre os sectores, naquele que tem sido o principal defeito do Benfica 08 / 09);
3 – O pensamento e execução colectiva dum pressing efectivo, que obrigou demasiadas vezes o adversário a sair para o ataque com futebol directo e com poucas possibilidades de sucesso, face ao acerto de Luisão;
4 – Evolução na capacidade dos jogadores sem bola contribuirem para oferecer opções ao portador da bola. Momentos houve em que alguns jogadores eram forçados a resolver em termos individuais problemas que eram de toda a equipa, por não terem opções de passe.
P.S. – Pode afirmar-se que perante tal investimento, bem mais seria de esperar por esta altura da época. Concordo em parte, sabendo no entanto, que só quem nunca esteve no terreno, não compreende a dificuldade de se criar um colectivo partindo do zero. O maior elogio que se pode fazer a Quique Flores na data presente, é que o Benfica começa a ser um pouco mais do que as individualidades. Geralmente, é na 2nda volta do campeonato que se percebe quem consegiu, de facto, formar a melhor equipa. Nada como esperar para ver.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

  1. Excelente, PB. Ainda bem que ainda há quem consiga ver para além da montanha.

    Concordo com o texto praticamente na íntegra, embora o ponto 4 me deixe algumas dúvidas. Não acho que, no aspecto concreto da disponibilidade dos jogadores sem bola para oferecem opção ao portador da mesma, estejamos ainda a um nível eficaz e satisfatório. Nesse particular, parece-me que a utilização de Binya é um erro por tudo o que (não) faz em campo. Mas o problema é maior do que um só jogador, é colectivo e demorará ainda algum tempo a ser assimilado. Claro que se, na posição do camaronês, jogarmos com Amorim, estaremos, em princípio, bem mais próximos de conseguir aquilo que desejamos, mas não parece ser dessa forma que Quique pensa e vê o jogo. Esperemos para ver.

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