Poderá José Peseiro, que acabou escurraçado de Alvalade, e que é tido pela generalidade dos adeptos, independentemente das cores clubísticas como um problema, e nunca uma solução, ter sido vitima de uma tremenda injustiça?
Apesar do indesmentível excelente futebol proporcionado pelo Sporting da época, os criticos garantem haver uma dicotomia. Jogar bem, em oposição ao vencer. Tal permissa, falsa quanto judas, foi sempre a principal forma de inferiorizar a qualidade do trabalho de Peseiro.
Contudo, é importante perceber, que no futebol, jogando-se melhor, está-se sempre mais próximo de vencer. Ainda que em determinados momentos possa não acontecer.
Na vertente táctica, a falta de equilibrio que por vezes a equipa exibia, foi sempre um dos principais defeitos no modelo de jogo adoptado. Em cada minuto, em cada ataque, parecia não haver meio termo. Ou marca ou sofre. Se por um lado, os pressupostos ofensivos inerentes a tais ideias permitiram aos adeptos leoninos, festejar, só no campeonato nacional, mais 27 golos que o FC Porto. Sim, 27. Por outro, terminar a Liga apenas como a 8a melhor defesa da prova, foi uma “proeza” quase impensável para um candidato ao titulo.
Peseiro sai com a imagem de um fraco perfil de liderança, fruto de diversos episódios absolutamente lamentáveis com alguns importantes jogadores.
Tão importantes quanto ingratos. Claro. Muitos, se tiveram oportunidade de disputar uma final europeia, a Peseiro devem agradecer.
Não acrescentou troféus às vitrines de Alvalade. Certo. No entanto, se questionarem qualquer adepto leonino, sobre a melhor memória das últimas décadas, Alkmaar, com Peseiro ao leme, por certo, jamais será esquecido. Não valerá tal memória bem mais que uma qualquer Taça da Liga ou Supertaça?
Na mente de Peseiro, três lances, que definem uma época inteira, perdurarão eternamente como “SES”.
– E se Liedson não comete, nos últimos momentos do jogo que antecedeu a visita á luz, o (estranho) disparate de pontapear, propositadamente, uma bola para longe? Disparate esse, que lhe valeu a ausência no mais decisivo jogo do campeonato. Mas, que por outro lado, lhe permitiu estar um pouco mais disponível físicamente para a final da Taça Uefa…;
– E se Ricardo, a 6 minutos do fim da partida na Luz, na penúltima jornada do campeonato e com o Sporting em 1º lugar, tem decidido socar a bola?;
– E se a bola rematada por Rodrigo Tello, 20 segundos antes do 3º golo do CSKA, após bater nos dois postes de Akinfeev, nobre guardião Russo, tem entrado na baliza?
Estamos mais uma vez em sintonia. E mais uma vez em clara oposição às ideias generalizadas. Peseiro, como Santos, vê o seu nome na blogosfera ser alvo de chacota, ridicularização e raiva. Porquê? Difícil de perceber. Ou simples: os adeptos de futebol não gostam, dizem eles, de “frouxos”. Mesmo que competentes, mesmo que conhecedores do jogo, mesmo que colocando as suas equipas a jogar futebol. Para o adepto típico, interessa é que o treinador “tenha pulso”, seja capaz de “gritar do banco”, ponha os “gajos a suarem as estopinhas”. Mesmo que a equipa saiba tanto de futebol e organização colectiva como eu sei do cultivo da batata no Burkina Faso. É por isso que o Camacho faz parte dos sonhos mais eróticos de grande parte dos benfiquistas.