Jaime Pacheco. Uma entrevista soberba (do ponto de vista dos tipos que fizeram os comentários na TVI ao Twente – Sporting).

white corner field line on artificial green grass of soccer field

As citações são retiradas de uma entrevista de Jaime Pacheco. Poderiam ter sido retiradas de outros seis ou sete pseudo-treinadores que ainda vegetam pelo futebol em Portugal.

“O plantel tinha bons jogadores que podiam ter produzido mais mas tínhamos muitos jogadores com as mesmas características: o José Pedro, o Wender, o Silas, o Saulo, o Marcelo, o Roncatto dentro dos mesmos padrões. Tinha jogadores que não sabiam tocar bombo. Com a bola, jogavam todos jogavam bem. Sem ela, acabou! A nossa equipa era muito frágil a defender. Melhorou com as entradas do Ávalos e do Diakité”.

É sabido que o adepto comum partilha e se revê em tais ideias. Para atacar são necessários 4 ou 5 jogadores talentosos, e para defender, 2 ou 3 africanos, e/ou sul americanos, cheios de força, capazes de, por um lado, correrem 13 kms por jogo, e por outro, dar umas valentes cacetadas em tudo o que mexa.

Talvez não fosse má ideia, alguém explicar ao Jaime Pacheco (e a tantos outros) que sem bola, o propósito do jogo, é defender a sua baliza. E não, defender os adversários.

Jaime, tu não precisas de onze africanos a correr atrás dos adversários! Onze Silas e/ou Zé Pedros seriam suficientes. A ideia é ocupar, de forma correcta, o espaço. Em função da bola, garantir a proximidade de todos os jogadores da equipa. Com os onze a ocupar correctamente o espaço, não sobra muito para correr a cada um…

Na época imediatamente antes, com Jorge Jesus e com Silas, Roncato e Zé Pedro a defenderem, a equipa sofreu menos 20 golos. E rever alguns conceitos sobre defesa, não?

“Mais uma vez. Se bem se lembram, há três anos, numa equipa com o Meyong, o Ruben Amorim e outros o Belenenses também desceu. Portanto, o problema ali é de fundo.”

O problema do Belenenses até pode ser de fundo. Porém, durante duas épocas não se notou nada (inclusivé foi possivel jogar quase de igual com adversários do nível do Real Madrid e Bayern). Será que a diferente (in)competência das equipas técnicas, poderá servir de justificação, para tal dicotomia?

“Olhemos para a última época. Entre os três grandes, qual a equipa na qual os três avançados mais trabalhavam em termos defensivos? Depois se vê quem ganha..”

Exactamente. São precisos os onze (nos quais se incluem os avançados). Para defender e, também, para atacar. Mas, repara. Correr de um lado para o outro, mostrando os dentes, não é propriamente defender com qualidade. Depois do elogio aos avançados do FC Porto, seria interessante que também se procurasse perceber a forma como os onze jogadores azuis ocupam o espaço defensivo…

“Também gosto muito do Luisão se ele jogar à sua maneira. É alto, feio, intimida mas tem de jogar simples.”

Exacto. É bom porque é feio e intimida.

“o Gattuso no Milan, o Bonini na Juventus, o André no FC Porto, o Essien no Chelsea, o Petit no Boavista e no Benfica… As melhores equipas do mundo têm sempre este tipo de jogador que nem sempre agrada muito mas que equilibra as equipas.”

Jaime, para equilibrar a equipa, não são precisos trolhas. Sao precisos jogadores que ocupem correctamente o espaço. A chave está no modelo de jogo preconizado pelo treinador, e na mente de quem está dentro do relvado. Repara, o Rúben Amorim não equilibrava a equipa do Benfica, porque corria kms. Equilibrava porque percebia o posicionamento defensivo a adoptar. Se tivesses sido capaz, poderias ter colocado o Silas a equilibrar a equipa. A questão está na ocupação do espaço (pelos onze!!!) e não nas loucas correrias (que dois ou três são forçados a dar, para compensar o mau posicionamento de 5 ou 6). Isso de meter os trincos a correr a largura toda do campo (enquanto que os extremos e os interiores ficam encostados ao seu adversário directo), é capaz de ser uma ideia um bocado estapafúrdia.

O Essien e o Gattuso equilibram a equipa, porque são inteligentes e porque estão integrados em modelos de jogo que fazem sentido. Sabem ocupar o espaço. Não equilibram a equipa por correrem mais do que os outros…

P.S. – Tivessem tais citações, sido retiradas, de uma qualquer entrevista na década de 80, e teriamos Homem (ainda assim, longe da vanguarda)!

P.S. II – Ainda hoje, muitos crêem, que uma equipa para ter sucesso, necessita de 2 ou 3 jogadores, capazes de correrem inúmeros kms, 2 ou 3 capazes de fazer uns dribles engraçados, outros tantos, com capacidade para fazer carrinhos (!?) e, claro, um que sirva de estátua, na grande área, esperando por um possível lance para finalizar. Tudo normal. Lamentável, é, ainda, haver gente a treinar equipas (somas de jogadores…) de futebol, com este pensamento.

P.S. III- Ver uns videozinhos das melhores equipas mundiais nunca fez mal a ninguém e, mesmo parecendo que não, qualquer um, consegue aprender algumas coisas…

P.S. IV – Por favor, não venha relembrar o titulo de campeão nacional. Esse campeonato, teria sido ganho pelo Boavista, até, com o plantel de 1987/1988 do Arrentela, e com o António Variações ao leme.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

9 Comentários

  1. O mais ridículo é que, com toda a literatura e informação que há ao serviço dos treinadores actualmente, este pateta mantenha as ideias antigas, sem as modificar minimamente e ainda tenha a presunção de as comunicar como se fosse uma coisa extraordinariamente inovadora…

  2. Eu tento acrescentar:

    Mais ridículo do que Jaime Pacheco não evoluir, não se actualizar… é continuarem a apostar nele, e nos outros "Jaimes" que andam por ai..

    Como é que ano após ano, esta "gente" continua a ter oportunidades em clubes com condições fantásticas?

    Pelos vistos.. as diferenças entre os clubes de bairro e os clubes da 1ª linha portuguesa.. não são assim tão grandes, as decisões parecem ser tomadas nas mesmas mesas do café do clube, patrocinadas pela mesma cerveja e pelos mesmos tremoços.

    Hoje no Record, logo na contra capa falavam de Flinstones.. não são só os comentadores que são da idade da pedra, muitos treinadores e dirigentes ainda pensam que estamos no tempo do H-H e dos centrais "feios, porcos e maus"

    Agradeço a este blog por ir colocando o dedo na ferida.

    Abraço!

  3. ah ah ah… nunca é demais escrever sobre o jaime pacheco… lindo… é um high light do nosso futebol, e so assim se percebe como os nossos dirigentes e quem contrata um treinador que nao percebe de futebol, é atrasado…. ainda ha gente que od quer a treinar o benfica, porto ou sporting… meu Deus, o mundo so pode tar louco….

  4. ah ah ah… nunca é demais escrever sobre o jaime pacheco… lindo… é um high light do nosso futebol, e so assim se percebe como os nossos dirigentes e quem contrata um treinador que nao percebe de futebol, é atrasado…. ainda ha gente que od quer a treinar o benfica, porto ou sporting… meu Deus, o mundo so pode tar louco….

  5. É treinador que vive do passado, pra ele o futebol não evoluíu e se tivesse no Benfica (deus me livre) o Binya teria ficado por exemplo… tb não percebo os dirigentes que apostam sempre nos mesmos treinadores…

  6. O homem foi campeão nacional… no Boavista! E fez excelentes campanhas internacionais… com árbitros internacionais! Afinal quem são os grandes treinadores do futebol português? O Quique? O Jesualdo? O Jesus?
    E só mais uma achega, que não tenho procuração para defender o Pacheco – o Belenenses conheço eu, é u cemitério de treinadores. O Jesus safou-se porque o Presidente CF lhe deu carta branca para treinar, contratar, despedir, e até para dirigir o clube!
    Saudações azuis.

  7. O problema aqui é "de fundo"! Atacar Jaime Pacheco para beliscar o Boavista! Mas o Boavista foi campeão à conta de trabalho e de qualidade, pois Sanchez, Pedro Emanuel, Litos, Rui Bento, Silva, Quevedo e todos os outros não eram jogadores de segunda! O problema é que o Farense e outros descem e por razões similares o Benfica é intocável num país cheio de vícios e de intocáveis (e quem diga Benfica, dirá FC Porto e Sporting CP em menor escala!). Por isso, parabéns ao Boavista, àqueles jogadores e a Pacheco, assim como à família Loureiro, que ergueu um clube que tão só João Loureiro não soube gerir a partir de 2001! O Boavista foi a pedrada no charco de um paízinho cheio de vícios, até no mundo do (seu) futebol. Admiro aqueles que, limitados e exogenamente condicionados ao seu espaço em meios extremamente viciosos, lutem por ser gente também! Parabéns e obrigado, Boavista e Pacheco de 2001, como de parabéns ficaram Pedroto e o Boavista de 1976 ou o Vitória de Setúbal de Fernando Vaz nos anos sessenta e depois com Pedroto, vice campeão em 1972, ou o Belenenses de 1973 e Alejandro Scopelli ou a Académica de Mário Wilson em 1967, ou o V. Guimarães em 1969 ou o Belenenses em 1946 (1946?!?)!!

  8. …e já agora, acrescento, concluindo:
    – Sabem por que é que as pessoas, neste país, sendo do Alentejo ou da Covilhã ou de Bragança, todavia acabem todas no Benfica ou no Porto ou no Sporting? Porque é mais "cómodo" sentirmo-nos junto dos vencedores, quando na vida somos perdedores (ainda que por vezes aparentando vitórias…)! É psicológico, agindo ao nível das "compensações"… . Os espanhóis têm garra (temperamento) e são lutadores; por isso é que, sendo de Valência, estão com o Valência CF, tal como os sevillanos são do Sevilla ou do Bétis; só neste país provinciano é que fogem todos para Lisboa – e agora para o Porto, que é o vencedor habitual destes tempos "modernos", para o qual se orientam os mais jovens, que já não são do tempo deles as façanhas de Benfica e Sporting.
    É por isso que reputo "isto tudo" (…) de um problema "de fundo". E vai ainda mais fundo o dito "problema"… – mas por aqui me quedarei eu!

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