Se não dá para ir e vir (como o Ramires), então não vás (como o Peixoto). Ou como Jesus venceu Villas Boas.

white corner field line on artificial green grass of soccer field
Quando saiu este post, a ideia era clara. O Benfica não poderia jogar no Estádio do Dragão, colocando tanta gente à frente da linha da bola, não precavendo as saídas para o contra-ataque do FC Porto.
O espaço sobre o lado esquerdo de Javi Garcia teria de ser preenchido, particularmente no momento em que há posse de bola, precavendo a sua perca. Era importante que sempre que possível, nos contra-ataques do FC Porto, o primeiro jogador a sair a Hulk (sempre que este recebesse a bola no corredor lateral) não fosse Fábio Coentrão (que deveria ficar atrás do tal jogador, numa posição de cobertura, garantindo situação de vantagem numérica no corredor lateral).
Não tendo Rúben Amorim, talvez Airton fosse a escolha mais lógica. Jesus arriscou César Peixoto e venceu. Mais do que por César, venceu porque soube precaver os ataques rápidos do adversário e ocupou um espaço fulcral. Venceu porque aprendendo com o erro dos jogos anteriores decidiu não envolver tantos jogadores na dinâmica ofensiva, e garantiu a presença de mais jogadores atrás da linha da bola.
Não se percebendo exactamente porque Walter não foi opção, é impossível não dissociar a incapacidade do FC Porto em ser mais perigoso com o desvio de Hulk para o corredor central. Sem tempo e espaço para enquadrar com a baliza adversária e para correr, o brasileiro é dez vezes menos perigoso.
Notas individuais.
– Saiba Sidnei ser um profissional responsável e seguramente que também tem potencial para mais tarde seguir para uma liga mais competitiva. É também pelo muito valor de Sidnei que David Luiz foi uma boa venda;
– Luisão fez um jogo extraordinário. “É um dos melhores do mundo a jogar em bloco baixo” afirmou Luis Freitas Lobo. Não se enganou. É pela sua liderança e cultura posicional extraordinária, que o quarteto defensivo SL Benfica é bastante fiável;
– Fábio Coentrão. A sua dinâmica ofensiva é algo de sublime. É muito rápido, tem muita técnica e é bastante inteligente. Será a próxima transferência do SL Benfica, para um grande europeu;
– Cardozo. Incrível capacidade de sofrimento. Demasiadas vezes só, perdeu-se a conta ao número de vezes que conseguiu “ganhar” e “segurar” a bola. Uma exibição pouco notória, mas bastante importante;
– César Peixoto. A sua exibição não foi tão notável como se pretende fazer crer. A decisão de Jorge Jesus colocar um jogador naquele espaço, sim. Apesar das muitas dificuldades físicas, César continua um jogador muito inteligente e com um sentido posicional muito elevado. Mas, tal não é novidade;
– Sapunaru, Maicon, Rolando e Sereno. Em qualidade individual, este é provavelmente o pior quarteto defensivo do FC Porto em muitos anos. Muito forte tem de ser a equipa colectivamente, para disfarçar as dificuldades individuais de todos eles. Fucile, Alvaro Pereira e Otamendi, fizeram muita falta. Tal como Walter.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

11 Comentários

  1. PB,

    Não consigo perceber como AVB não foi capaz de explicar aos seus jogadores que contra uma defesa com linhas tão recuadas era obrigatório circular a bola, fazê-la de isco para desposicionar a defesa do Benfica. Foi deprimente ver os jogadores do Porto a esbarrarem contra a parede montada por Jesus.

    Jogar tão recuado como o Benfica fez não te parece mais arriscado do que assumir o jogo com posse de bola? Entregar assim a iniciativa ofensiva ao adversário não muito mais perigoso do que controlar o jogo com bola?

  2. Luis, o Benfica só recuou tanto assim quando ficou com 10 jogadores. Até lá, tentou sp condicionar a saida de bola do FCP, e jogou sp subido no campo.

    Com menos um, era mais importante ainda evitar as transições rápidas do FCP. E isso, só seria conseguido sem avançar com muitos jogadores (ainda para mais, com um a menos em campo).

    O Porto pode ser uma equipa de posse como diz o AVB, mas é no contra-ataque que chega aos golos. E Jesus, retirou-lhes a possibilidade de contra-atacarem. A

  3. O Benfica jogou recuado… Mentir é feio.

    E os factos são indesmentíveis: aos 26 minutos estava 2-0 a favor da equipa "que jogou recuado", com duas bolas recuperadas ou sonegadas no meio-campo do FC Porco.

    E sempre a pressionar. Também concordo com a descrição do jogo do Cardozo e ainda englobava o Saviola – que desta vez largou o veludo e equipou-se com fato-macaco.

  4. Jesus esteve no seu melhor. Não só ganhou o jogo como mentalmente os jogadores do Benfica estão prontos para tudo. Eu era incapaz de imaginar uma eventual estratégia anti-Porto, ainda para mais numa altura em que AVB estava a conseguir aproveitar tão bem o potencial físico de Hulk, seja em iniciativas do próprio seja em espaços abertos para os colegas.
    Concordo contigo quando dizes que o Benfica desceu muito mais depois de reduzido a 10, mas mesmo antes o Porto nunca soube jogar bem com bola. Viu-se tantas vezes Rolando/Maicon/Fernando a fazerem passes directos para os extremos que apostaram sempre no 1 para 1, nunca exploraram incursões ofensivas dos médios. Não é possível fazer um futebol de posse a "comer" tantas etapas. Os centrais e o pivot-defensivo do Barça saem sempre a jogar com bola no chão. Às vezes não percebo quantos mais massacres do Barça serão precisos para o mundo acordar.

  5. "Não tendo Rúben Amorim, talvez Airton fosse a escolha mais lógica. Jesus arriscou César Peixoto e venceu."

    Nunca seria a escolha mais lógica porque com a introdução do Airton a equipa ficaria demasiadamente recuada. A introduzir uma mudança, essa teria de passar sempre por um médio com outro tipo de características: bom tacticamente, sim, mas capaz de se chegar, como Peixoto o fez, às alas em compensações. Teria sempre de ser não um pivot mas um Peixoto ou Amorim (ou outro, que não temos e devíamos ter no plantel).

    Mudando alguma coisa, esta foi a solução mais lógica. Claramente.

  6. Luis,

    "Os centrais e o pivot-defensivo do Barça saem sempre a jogar com bola no chão. Às vezes não percebo quantos mais massacres do Barça serão precisos para o mundo acordar."

    O futebol do Barça é bonito senhor, mas nem toda a gente tem tecnica para o praticar.

  7. Mike Portugal,

    Maicon e Rolando são mais fracos que os centrais do Barça, claramente, no entanto faço-te uma pergunta: os passes longos requerem menos técnica que os curtos?

    Toda a gente diz que é preciso muito técnica para jogar como o Barça, mas nem tentativas más de o fazer se vêem. Pode-se sempre usar uma alternativa de descer no terreno um jogador com mais qualidade no passe e no controlo de bola em zonas de pressão, aparecendo em zonas de construção de jogo no seu próprio meio campo. Os centrais do Arsenal não são nenhuns craques tecnicamente e não se põem a bombear bolas para o ataque sem passar o jogo pelo cérebro da equipa, que constrói um jogo pensado e não somente de transporte de bola. Claro que o "kick and rush" é muito útil se abordarmos o jogo de uma forma meramente física, mas o passe com a bola no relvado a envolver toda a equipa é, na minha opinião, mais produtivo. Mesmo do ponto de vista mental os jogadores sentem que são mais do que a soma de todas as peças, cria uma identidade à equipa e isso motiva-a. O jogo de ontem, se Hulk se lesionasse aos 2 minutos de jogo o que é o Porto ia fazer? Ia bombear a bola para quem e para quê? Moutinho e Belushi têm tanta qualidade que mandar a bola por cima deles sem que participem na construção do jogo é desperdiçar recursos.

  8. "os passes longos requerem menos técnica que os curtos?"

    A resposta é "sim", se estivermos a falar do bloco defensivo, uma vez que envolvem menos risco.

    E esse risco não está relacionado apenas com a qualidade técnica dos defesas, mas também com a dos médios; se estes não souberem procurar o passe e se não tiverem alta capacidade de recepção e de raciocínio rápido para fazerem circular a bola, o risco de um passe curto de um defesa, por mais milimétrico que seja, é de natureza elevada.

  9. A norte, nada de novo, naquela forma de intimidação tão sonsa: o habitual apedrejamento do autocarro do Benfica e das suas Casas. Das bolas de golfe – o tipo de recriação que tanto prezam – passando pela cópia foleira dos "mind games" de Mourinho, até aos barões do futebol português refastelados nas poltronas do estádio. Compreendo os seus azedumes, habituados a confundir um estádio com um coliseu romano, entre túneis e viagens de aconselhamento familiar, mas só que desta vez, sem o penálti da praxe e sem invenções tácticas, o vencedor foi outro. O graúdo deu uma lição de humildade ao miúdo, por isso, saúdem o campeão.

  10. Estava aqui uma conversa agradável de futebol e chegou o Dylan. São tipos como tu que alimentam esta parte do futebol. A remontada é dedicada a ti.

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