É a táctica, senhores. É a táctica!

white corner field line on artificial green grass of soccer field
“No “flash interview” ouvi falar de quebras físicas e logo dei por mim a pensar que a minha cruzada vai ser mesmo difícil. É que não consigo mesmo que se perceba que isso não existe. A forma não é física. A forma é muito mais que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física.” José Mourinho.
“A superioridade natural dos portuguesas podia ter dado em goleada, mas, na ponta final do jogo, o valor do golo singular de Nélson Oliveira esteve em risco com diversas oportunidades criadas pelo adversário. Face ao pouco valor demonstrado pela Guatemala até ao momento, fica a dúvida se o estoiro dos portugueses foi mental ou físico. Vamos ficar a saber contra a Argentina, de certeza.” Retirado do blog 442.
É impossível na segunda frase, referenciar qual das afirmações é mais bacoca. “Podia ter dado goleada” é genial. Não é aí que pretendemos pegar, porém.
O jogo teima em ser demasiado complexo, para quem não pretende retirar nada dele. A cruzada sobre como a táctica e a técnica prevalecem mais do que nunca sobre o físico só será ganha daqui por mais de uma década. Eventualmente. É que é não é nada fácil demonstrar por palavras, que um péssimo posicionamento em campo é a base de todos os males. Até do atingir a exaustão mais cedo. A verdade é que uma equipa com a qualidade da ocupaçao dos espaços, aquando da passe, como esta selecção portuguesa, tenderá a esgotar-se mais. As longas correrias serão como que obrigatórias face ao ridiculo posicionamento colectivo. 
Infelizmente, o péssimo Ilídio Vale também tende a ter esse tipo de pensamento sobre o jogo. Essa é a explicação para que vários dos jogadores convocados tenham uma relação medonha com a bola, e não sirvam para não mais do que para correr. Crer que a incapacidade para fazer três passes consecutivos, bem visível logo desde o primeiro minuto de jogo tem por base insuficiências físicas, é uma opinião que de tão estapafúrdia quase nem merece respeito.
A incapacidade para circular a bola, só pode ter duas explicações.
A) Má capacidade técnica. E é verdade que esse traço é perfeitamente visível, especialmente em vários centrocampistas. Comparar o lote de centrocampistas espanhois com o português é um exercício hilariante. Especialmente se olharmos para as características que se valorizam em Espanha. Ou crê que por lá não haverão também jogadores cuja única acção útil que são capazes de realizar seja o correr?
B) Mau trabalho táctico. E este é precisamente o ponto fulcral da selecção portuguesa de sub20. Visível em pormenores tão simples como a inexistência de movimentação. Os jogadores portugueses parecem estátuas pregadas ao relvado. Alguém já conseguiu ver algum centrocampista a baixar para pegar na bola? Claro que não. Ninguém trabalha para receber, e os jogadores de tão longe que estão uns dos outros, desconfia-se que nem cheguem  sequer a ver-se uns aos outros. O futebol da selecção é próprio da década de oitenta. Dez jogadores parados, e o portador da bola tentando desenrascar uma qualquer opção.
Reforçando. Ousar sequer pensar que o fraco rendimento da selecção ao longo do torneio pode estar, de alguma forma, relacionado com incapacidade física (logo essa característica que levou Ilídio a abdicar de jovens com muito mais potencial para colocar em jogo os maratonistas), é de uma atrocidade imensa.
A cruzada continua, porém. E tentar demonstrar a prevalência da táctica sobre os demais factores de rendimento, foi precisamente o que nos levou a avançar com este blog, há já alguns anos…
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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