
O melhor jogador do Sporting e seguramente um dos melhores da Liga voltou, e aparentemente sem limitações. E todos devemos estar felizes por isso. O russo tem soluções para tudo, e ainda oferece a criatividade e espontaneidade que tem escassado. Não foi só o golo que somou. Foi o golo e as combinações que promoveu que deram mais qualidade ao jogo do Sporting. No meio campo, no ataque, no corredor central ou no lateral, Izmailov tem o toque de classe, que o leão não pode abdicar.
O número de ataques, remates, oportunidades e até cantos, demonstra um domínio avassalador. Uma capacidade para asfixiar o adversário no seu meio campo defensivo, que nunca fôra vista na época transacta, e só passível de ser concretizada pela forma próxima como os onze jogadores leoninos jogaram no momento defensivo, e pela atitude reactiva na forma de pressionar, bem diferente de jogos anteriores. Verdade, que a opção (obrigação!?) em sair sempre em pontapé longo por parte do Olhanense, facilitou o jogo a quem o pretendia dominar. Nunca conseguimos colocar bolas nas costas, à distância a que se bate o pontapé de baliza. Teve, porém, a vantagem/desvantagem, dependendo da perspectiva, de nunca os algarvios terem corrido o risco de perder a bola na proximidade da sua grande área.
Quem pretende almejar a glória, garantidamente que não pode ceder mais de um, dois, três resultados desta natureza na sua casa. Há, ainda assim, imensos pontos positivos a reter. Todavia, nem só o resultado deixa de ser apreensivo.
– Pela ocupação do espaço, o Sporting voltou a ser dominador, e quem joga todo o jogo no meio campo adversário está sempre próximo do golo. E o Sporting, indubitavelmente esteve mais próximo do que nunca;
– Rodriguez começa a assumir-se como um reforço determinante. Domina como poucos o seu espaço. É forte, concentrado, e sabe tudo sobre o posicionamento defensivo. Não tem a classe de outros, mas defensivamente é o mais fiável dos quatro centrais;
– Muito bom o jogo de coberturas (apoio atrás do portador da bola, no caso da ofensiva, ou apoio ao colega que está com o adversário portador da bola) de Rinaudo, e determinante a sua reactividade a cada perda. É também muito pela forma como “cai” imediatamente sobre a bola, ou recuperando, ou travando desde logo o ataque adversário, que o Sporting se mantém subido;
– Autêntico caso de “Dr Jekyll and mr Hyde” a prestação de Yannick. Enquanto confiante estava a ter um desempenho muito positivo. Mesmo nas suas acções técnicas, que tantas vezes o traem. Subitamente, após a desvantagem no resultado, pareceu de volta ao registo habitual. Incapacidade gritante para definir todo e qualquer lance que lhe passasse pelos pés;
– Schaars e André Santos. Boa técnica e interessante simplicidade de processos. Posicionalmente pode-se contar com ambos para tudo. São abnegados, e é também muito pelas suas acções que a bola circula melhor. André Santos tem, e Schaars aparenta também, um déficit de criatividade. São óptimos quando se impõe jogar a dois toques. Parecem, contudo, incapazes de progredir com excelência, quando o espaço à sua frente assim o recomenda. Talvez se exija, num meio campo a três, jogadores com outro tipo de características. Matias e Izmailov, ou até André Martins, assim continue a demonstrar qualidade, serão previsivelmente jogadores importantes se Domingos pretender um pouco mais de rasgo criativo num sector tão determinante;
– Apesar de alguma falta de capacidade pare definir bem as jogadas no ultimo terço do campo de jogo, foram imensas as oportunidades de golo criadas. Essencialmente fruto do bom posicionamento leonino, que por si só, obriga o adversário a ver a meta de longe o jogo todo. Não deixa, porém, de ser preocupante perceber que demasiadas vezes, pareceu incapaz o Sporting de se aproximar do golo no momento de organização. E essencialmente pensar que a ineficácia no jogo de hoje, poderá não ter sido fruto de uma má noite, mas sim uma tendência mais do que confirmada, pelo histórico de golos de quem foi desperdiçando sucessivamente a hipótese de ser feliz. Bojinov ainda não se estreou, mas começa a perceber-se que poderá ser o reforço mais importante de todos. Assim os seus traços sejam o que continua em falta no sector ofensivo. Capacidade de definição, criatividade e eficácia na finalização.
P.S.- Quando há pouco menos de um ano atrás vi Wilson Eduardo, também num jogo contra o Sporting, pensei que jamais fosse capaz de fazer um golo daquela natureza. Então em Aveiro, em dez minutos rematou por três, quatro vezes. Em todos os remates, o gesto técnico e a potência do remate se assemelhou ao de um iniciado. Um golo, seja de que natureza for, não define minimamente a qualidade do jogador, e não se pretende aqui tecer qualquer juízo ao valor de Wilson, apenas deixar uma referência ao inesperado feito. Talvez, quando voltar a acontecer, já não seja inesperado.
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