Vitor Pereira no Monaco

white corner field line on artificial green grass of soccer field
“Eu devo-lhe dizer que trabalhamos, sempre em todos os nossos microciclos, a contenção, as coberturas e os equilíbrios defensivos. Mas existem coisas fundamentais para além destas, como por exemplo a identificação de referenciais de “pressing”, existe o atacar o adversário pelo “lado cego”, promover a organização de uma zona pressing inteligente e organizada, no sentido de levar o adversário a sair a jogar de determinada forma na primeira fase de construção, retirarmos espaço e tempo de execução ao adversário, é importantíssimo saber defender por linhas, e estas são as nossas principais preocupações que temos no nosso trabalho semanal.”
“Pressionar o adversário pelo lado cego é o aproveitamento dum mau posicionamento do adversário, dum deficiente ajustamento dos apoios na recepção da bola que normalmente “fecha” o campo. O que é que eu quero dizer com isto, imaginemos o adversário a sair a jogar pelo corredor lateral direito com o médio centro ou o pivot defensivo a receber passe interior com os apoios virados para esse corredor, voltados para essa lateral, portanto está-nos a dar o “lado cego” e normalmente isso acontece sempre, acontece na linha defensiva ou na linha média. Recebem quase sempre a bola dando “lado cego” e é isto que temos de aproveitar com uma aceleração, com uma acção pressionante sobre o “lado cego”, mas para isso temos de convidar o adversário a entrar na “zona pressing” que estamos a organizar, para depois acelerarmos sobre o adversário e recuperar a posse de bola.”
Sobre as referências usadas para pressionar.
“Passe devolvido entre central e lateral, passe longo do adversário, passe devolvido pivot defensivo central, são momentos que nós queremos aproveitar colectivamente para “saltarmos” em cima do adversário. Nós no fundo tentamos promover determinada forma de construção de jogo do adversário e posicionamo-nos para que esses momentos que são referenciais de pressão para nós surjam, para nos aproveitarmos colectivamente, através de uma identificação colectiva. Não queremos pressões individuais, porque isso desgasta e abre o nosso bloco defensivo. Nós pretendemos que momentos como passes devolvidos, receber de costas, passes longos lateralizados sejam identificados como referenciais de pressing colectivos, sejam identificados como momentos em que temos de “saltar” em cima do adversário. Não queremos um tipo de pressão constante, se pressionarmos constantemente o adversário, ele não sai a jogar, o adversário bate a bola na frente, não nos permite criar condições para..então nós temos que diferenciar ritmos defensivos, ou seja, nós temos de lhes dar a ideia de um momento calmo para um momento rápido.” Vitor Pereira.
Não se sabe de que forma Vitor Pereira operacionaliza as suas ideias. Não será seguramente com palavras, ou com insípidos exercícios que terá as suas equipas a comportarem-se como define teoricamente. Todavia, e mesmo que o estigma de André Villas Boas perdure, percebe-se que com maior ou menor capacidade de operacionalização, Pereira sabe do jogo.
Surpreendente o posicionamento defensivo do FC Porto no jogo da Supertaça Europeia. Sabendo da forma como demasiadas vezes progride o Barcelona no campo de jogo (formando triângulos no campo, sendo o portador da bola o vértice mais recuado, ficando com opção de passe sobre a sua direita e esquerda, nos vértices mais adiantados), o FC Porto, mais do que garantir a contenção (posicionar alguém entre a bola e a sua própria baliza), procurava, dependendo do espaço onde a bola estava, fechar as linhas de passe. Tapava as arestas, convidando o jogador culé a progredir com a bola no pé, uma vez que a oposição oferecida ia mais no sentido de cortar as linhas de passe dos tais triângulos que o Barcelona sempre forma.
Fosse o Barcelona uma equipa formada por jogadores que ao invés de perceberem o jogo, o tivessem decorado, isto é, fosse o Barcelona uma equipa com as combinações ofensivas definidas como que de forma mecânica, e a surpresa teria sido bem maior. O problema de enfrentarmos adversários super inteligentes é que mesmo que os possamos surpreender, eles revelam-se sempre capazes de reinventar o jogo.
Foi um FC Porto surpreendente nos momentos em que não teve a bola, mas ainda assim incapaz de travar o seu destino. Há que continuar a explorar estratégias para parar a melhor equipa da história. E a menos que passe a ser permitido entrar com quinze jogadores, para ao mesmo tempo cortar linhas de passe e impedir a progressão culé, ou não está nada fácil descobrir a fórmula. Valeu, ainda assim, a louvável tentativa. Vitor Pereira demonstrou que trabalha.
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Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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