Num momento em que o jogo é do ponto de vista técnico e físico, cada vez mais equilibrado (longe vão os tempos em que só os grandes clubes treinavam), as tomadas de decisão surgem como um dos traços mais decisivos no jogo moderno.
Por tomadas de decisão, deve entender-se, as opções que cada jogador toma a cada momento (com ou sem bola). Para onde deslocar? A que velocidade o fazer? Que espaço ocupar? Para onde desmarcar? Quando soltar a bola? e para onde? Quando progredir com a bola?
Cada situação de jogo tem uma forma mais eficiente de ser resolvida. Tal não significa que optando pelo pior caminho, se estará sempre condenado ao insucesso. Tão pouco que, optando bem, se será sempre bem sucedido. Significa somente que, optando bem, está-se sempre mais próximo de ser bem sucedido.
Exemplo simples. Numa situação de 2×1, o portador da bola deve progredir com a bola no pé, no sentido da baliza, soltando a bola, no timing correcto (bem próximo do defesa), para que a bola saia para as costas do defesa. O passe deve ser efectuado para o espaço (e não para o pé do colega, por forma a que este não trave a corrida). Ou seja, de uma situação de 2×1, pretende-se passar para uma de 1×0.
Se em dez situações de 2×1, o portador da bola (no momento inicial, antes do passe), for capaz de as resolver dessa forma, provavelmente a sua equipa fará 8,9 golos, ainda que nenhum marcado por si (uma vez que acabará por fazer o passe para o colega de equipa).
Se na mesma situação, o portador da bola optar por driblar o defesa, e mesmo partindo do princípio que os seus traços individuais são bastante bons, provavelmente, em dez lances, marca 4,5 golos.
Os jogos em que, optando mal, se chega ao golo, são óptimos. Porém, em termos globais, a equipa sai prejudicada. Os 5 golos marcados dão notoriedade aos olhos do comum adepto. Mas, não são o que de melhor poderia ter dado à equipa.
Quem toma as melhores decisões a cada momento, tem a sua equipa, sempre mais próxima do objectivo (marcar, não sofrer, ganhar). Mesmo que não obtenha tanta notoriedade.
A situação descrita é uma situação de finalização, por ser de mais fácil compreensão. Porém, é importante perceber-se que as decisões se aplicam em todas as situações do jogo. Por mais banais que lhe pareçam. É que, para se chegar a uma situação de finalização, há todo um trabalho prévio, tão importante quanto o último momento (que nunca surge, quando a fase que antecede a finalização não é eficiente).
Numa equipa desorganizada, talvez seja interessante ter jogadores que, jogando só para si, sejam capazes de tempos a tempos criar algo. Num colectivo que se pretende forte, tal não faz sentido.
Ontem, em determinado momento do jogo em Alvalade, Pereirinha identificou uma situação clara de 2×1 num determinado espaço. Decidiu bem. Procurou fixar o defesa para depois entregar a bola nas suas costas, criando um desiquilibrio deixando João Pereira sem oposição. O passe saiu um centésimo de segundo mais tarde que o que seria o ideal, e somente por isso foi interceptado.
Se passasse haveria algumas possibilidades de o Sporting ter criado um lance de perigo, num jogo que foi um verdadeiro deserto nesse aspecto. Não passou e Pereirinha foi brindado com um coro de assobios. Talvez para a próxima o miúdo dê logo a bola no pé. É certo que não falhará o passe se o fizer sem enfrentar a oposição, e assim não terá de se expor a uma situação seguramente indesejada. É também certo que não haverá desiquilibrio e que uns segundos depois do passe sair o Sporting estará provavelmente a ganhar um qualquer lançamento de linha lateral aplaudido por todos. Ficam todos felizes. Não peçam é resultados…
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