O estilo pausado e o estilo mais veloz

white corner field line on artificial green grass of soccer field
“Agora podemos optar. Com Salvio e Rodrigo temos mais profundidade e velocidade, quando colocámos o Aimar e o Carlos Martins ficámos com um estilo mais pausado.” Jorge Jesus.
Em tempos Jorge Jesus garantia que o trabalho de um treinador incidia sobretudo no processo defensivo. Ofensivamente a sua preponderância seria mais reduzida, havendo mais ênfase sobre as qualidades individuais dos atletas. 
Pelas suas declarações percebe-se que poderá estar a ponderar dois estilos de jogo distintos. A vertigem da velocidade e a paciência do toque de bola. O que Jesus parece ignorar, é que as equipas devem jogar o que jogo dá. E o que o jogo nos dá não se percebe antes do jogo, independentemente do adversário. Percebe-se segundo a segundo, decisão a decisão. Cada situação é uma situação. Por vezes, porque há superioridade numérica em determinado espaço há que acelerar. Outras, impõe-se mais toque, mais paciência. Uma situação ao segundo dez do décimo minuto de jogo pode pedir uma decisão a explorar a profundidade, outra cinco segundos depois pede outro tipo de decisão. Não faz sentido o estilo mais veloz ou o estilo mais pausado. Há que identificar cada situação de jogo, e são as situações de jogo que determinam a acção que cada jogador deve ter em cada momento. Há que ser veloz quando assim se impõe e há que ser pausado quando é isso que se pede.
Aimar não dá um estilo de jogo mais pausado. Aimar dá o estilo que se pede. Diria que mais que qualquer outro colega sabe interpretar quando o jogo deve mudar o ritmo. Se parece pausado, é porque o Benfica passa demasiado tempo em organização ofensiva. Contra imensos adversários atrás da linha da bola, não se pedem correrias.
E se Rodrigo ainda não interpreta com clarividência os momentos em que deve segurar ou ir para cima, tal apenas significa que tem de evoluir na forma como decide a cada instante, e não que deve ficar guardado para um estilo de jogo mais veloz. A Jesus não se pede que escolha o estilo mais pausado ou o mais veloz. Pede-se que escolha o melhor onze. E garantidamente que o melhor onze será aquele que tenha mais jogadores que saibam identificar e colocar em prática a velocidade ou a “pausa” quando o jogo o pedir.
A titulo de exemplo, considerar o jogo do Barcelona pausado é altamente redutor. É pausado quando o deve ser, mas é veloz, muito veloz, quando assim se impõe. Se a cada segundo houver espaço, tempo e condições de sucesso exequíveis para ser explorado o espaço nas costas da defensiva adversária, ninguém terá um estilo de jogo tão veloz como os catalães. Parece pausado? Pois claro, a maior parte do tempo, contra adversários com oito,nove ou dez atrás da linha da bola assim o exige.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*