Nas asas de Salvio e… Melgarejo.

white corner field line on artificial green grass of soccer field
“Numa situação de 1×3. Com a bola junto à bandeirola de canto, sofremos inacreditavelmente o segundo golo”. Pedro Caixinha.
Talvez sem intenção de o fazer, o treinador nacionalista acabou por explicar a força do Benfica. A única, no momento, e começa a perceber-se que assim será para a época, força do Benfica. As individualidades.
As individualidades vão ganhar jogos. Na luz em duas jornadas, foram os impulsos individuais que ofertaram os injustos quatro pontos somados. Ganharão o campeonato? Muito dificilmente quando há um rival que às individualidades junta o colectivo. 
Recuperando o comentário do Gonçalo Teixeira ao post anterior “Lembro-me duma célebre frase que uma vez pôs aqui. O Benfica golearia o Benfica e é verdade. Se o Benfica tem tido as transições ofensivas que o Nacional teve na primeira parte, teria goleado de certeza.”.
O número de ataques que o Nacional dispôs em situações de 4 ou 5 x 5, 4 ou 3, teriam sido suficientes para uma mão cheia de golos se os quatro ou cinco do ataque fossem Aimar, Salvio, Rodrigo, Enzo ou Cardozo. Continua-se para as bandas da luz a não ver a “big picture”. A preocupação com as capacidades de Melgarejo chega a ser patética. Não só porque o paraguaio no momento já nem sequer é um lateral inferior ao que ocupa o espaço do lado oposto, mas especialmente porque o problema do SL Benfica não é individual. Muito pelo contrário. Tal como em Setúbal, voltou a ser um rasgo de Melgarejo a desempatar o jogo. 
O problema do modelo de jogo de Jesus é a quantidade infindável de jogadores à frente da linha da bola. É a desocupação do principal corredor do jogo. O central. A cada perda, seguem-se ataques de enorme potencial de perigo do adversário. Com este modelo o Benfica é absolutamente incapaz de controlar o jogo. A cada minuto pode sofrer golo. Seria muito divertido ver esta equipa na Liga Espanhola.
A partida de Javi não teria de ser tão problemática como previsivelmente se irá tornar. Matic tem mais do que qualidade para preencher a posição. O problema é a ausência de colegas próximos. Repetindo. O problema não é individual. É do modelo que Jesus criou na Luz, e esta caminha para ser a pior versão dos Benficas de Jesus.
As individualidades.
Witsel. É melhor 6 que Javi Garcia. Todavia, é demasiado importante para passar o jogo (processo ofensivo e defensivo) todo atrás da linha da bola. Não pode ser ele o trinco do SL Benfica. Não pelo que dá na posição, mas pela imensa falta que faz noutros espaços. Também pela sua ausência o Benfica nunca entrou no bloco nacionalista na primeira parte.
Salvio. Para ser franco não recordava um Salvio tão capaz de desequilibrar. Tem sido o melhor jogador do Benfica na presente temporada. Impressiona bastante a facilidade com que ultrapassa quase sempre o adversário directo, obrigando desde logo a um desposicionar do adversário. Têm sido os impulsos individuais do argentino a empurrar o Benfica para os golos.
Melgarejo. É mais talentoso, tem mais técnica, mais velocidade e mais inteligência que Maxi. Por diversas vezes mostrou um conhecimento bastante aprazível da posição. Não foi somente uma vez em que foi Melgarejo a acorrer ao corredor central evitando que um adversário se isolasse perante Artur. Ofensivamente é a par de Salvio quem mais tem desequilibrado as defensivas adversárias. O futebol do Benfica tem imensos defeitos. Contudo, nenhum passa pela qualidade do seu lateral esquerdo. Mesmo em formação, já é uma mais valia. Depois de Witsel, Rodrigo e Gaitán(?!) é quem mais potencial tem para se tornar numa transferência de valores enormes dentro do plantel do Benfica. A lateral. Não a extremo. E neste momento, esta capacidade de Jesus para potenciar a qualidade individual dos jogadores é a única virtude que ainda o faz permanecer no cargo. Porque em tudo o mais Quiqueflorizou-se.
P.S.- Bastaram três jornadas para FC Porto e SL Benfica deixarem para trás a concorrência. Quantas faltarão para o FC Porto se isolar? Se nada mudar no modelo de Jesus, arriscaria afirmar que dificilmente o Benfica passará em ambas as próximas saídas.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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