O pior Benfica de Jesus

white corner field line on artificial green grass of soccer field
Não é só uma questão de individualidades e de plantel desequilibrado. É também muito uma questão de modelo. 
Falta um pouco mais de qualidade na ligação entre o sector do meio campo e o do ataque. Rodrigo é extraordinário na movimentação de ruptura, explorando as costas das defensivas adversárias. Tem melhorado a forma como recebe entre linhas. Percebe-se que já enquadra com facilidade, todavia, falta-lhe uma percepção mais criativa e colectiva de como resolver as situações de jogo, depois de receber e enquadrar entre linhas. Termina invariavelmente os seus ataques ou com remates (bem perigosos, é certo), ou com passes mal medidos (mesmo que cheguem ao colega, chegam a um espaço e a uma velocidade que não se pedia) ou mal pensados, porque explora opções menos interessantes. 
Onde há não muito tempo o Benfica era encantador (os apoios e a forma como Saviola ligava o jogo), agora apenas é rápido e demasiadas vezes atabalhoado.
A ausência de Javi Garcia faz-se notar, somente porque é um modelo que prefere ocupar pouco o corredor central, e nesse sentido, mais reactividade defensiva será sempre sinónimo de maior e mais rápida recuperação da bola. A percepção defensiva ao modelo de Jesus e a disponibilidade que Javi tinha para se dar ao jogo não será encontrada em jogador nenhum, por mais que se procure. E é muito pela importância desmesurada que Jesus dá ao seu “6” no momento defensivo que tanto perde o Benfica com a troca. É que ofensivamente Matic é até um jogador bem mais interessante que o espanhol. A sua capacidade de passe é infinitamente superior à de Garcia . A forma como o sérvio consegue pela relva em passe “rasgar” corredores e sectores é algo que Javi apenas ousará sonhar fazer.
Enzo é tecnicamente um jogador notável. É muito por essa qualidade que é raro vermos o argentino a perder a posse. Todavia, para quem joga em tal espaço, ainda se percebe que corre demasiado com a bola quando na generalidade das vezes não é isso que se pede, e que a procura receber demasiadas vezes à frente da sua linha, dificultando uma progressão colectiva apoiada. Há muito para trabalhar, não só no processo defensivo, onde recaíam as maiores duvidas, mas também no ofensivo.
Se defensivamente parece ainda mais vulnerável pela perca do seu seis, ofensivamente tem encontrado mais dificuldades em chegar de forma regular (minuto após minuto) com a bola dominada à área adversária. Ainda que em determinados momentos, pela velocidade dos seus jogadores vá criando um volume assinalável de lances de potencial perigo.
Mas, não há que desconfiar de tudo. Jesus, uma vez mais, parece ter acertado no defesa esquerdo. Exibição defensiva verdadeiramente assombrosa de Melgarejo. Não falha um posicionamento e não perde uma situação de 1×1 (muito, mas mesmo muito interessante a forma como vai recuando ligeiramente, quando o seu opositor directo tem a bola, esperando o aproximar da cobertura. Uma abordagem defensiva muito próxima da que tornou Paulo Ferreira milionário). Os três pontos de ontem são dele. Não só pela forma como individualmente inicia a jogada do empate, mas sobretudo pela forma inteligente e experiente (?!) como no último minuto de jogo e com o jogador do Beira Mar convicto que o empate estava feito, surge por trás e no ar (portanto legal) a encostar e desequilibrar o seu opositor. Notável!
Há não muito enquanto debatia ideias com um amigo, perguntava-me “como posso defender as bolas paradas defensivas. Não conseguimos ganhar uma bola”. A resposta foi “Na verdade não é preciso ganhar a bola, basta atrapalhar. Saltar contra eles quando estiverem no ar será suficiente para impedir a finalização”. É um pormenorzinho quase irrelevante, mas que faz toda a diferença. Costuma chegar com a experiência, e também aí tem sido notável a performance de Melgarejo. Ao contrário de Maxi Pereira, que defensivamente continua a perder todos os lances que aborda.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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