Sobre a periodização. Que modelo a seguir quando a modalidade é colectiva? Algumas citações de José Mourinho. E ainda a oposição no processo de treino. Actualizado.

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Muitos são os treinadores de modalidades colectivas que ainda seguem os modelos convencionais ou as adaptações que decorreram da original periodização de Matveev. Pensar que numa modalidade colectiva se deve traçar o caminho em função da componente física é ainda muito comum.

Esquecendo-se, todavia, que numa modalidade colectiva “…A equipa pode estar bem fisicamente e não jogar bem. O estado de forma é algo muito mais complexo do que a forma física”. (Faria 2011).

Sobre o seu planeamento, afirmou em tempos José Mourinho “Às sextas feiras treinamos a defender, aos sábados treinamos o ataque. Aos domingos, treinamos a transição da defesa para o ataque. Às segundas, treinamos a transição da defesa para o ataque e, às terças treinamos os livres.”

Ainda outras afirmações interessantes do treinador do Real Madrid e do seu adjunto, Rui Faria.

“Contrariamente aos outros, não considero a estabilidade numa equipa como factor para que o conjunto tenha sucesso. Uma equipa tem de ser ensinada de forma correcta pelo treinador, para que possa jogar à imagem dele e para saber desempenhar a sua função suficientemente bem para a executar de olhos fechados – e isto não implica ter as pessoas a trabalharem em conjunto durante anos. Trata-se de o treinador fazer as coisas certas, de trabalhar arduamente e de as sessões de treino serem proveitosas” 

“Quando estamos há quatro meses a trabalhar no 4x3x3 e há quatro semanas a trabalhar no 4x4x2, só numa situação muito pontual poderei fugir disto, colocando em campo um terceiro central ou mais um avançado.” 

“No “flash interview” ouvi falar de quebras físicas e logo dei por mim a pensar que a minha cruzada vai ser mesmo difícil. É que não consigo mesmo que se perceba que isso não existe. A forma não é física. A forma é muito mais que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física“. 

“Por exemplo, há dez anos, o Eusébio era treinador de guarda redes do Silvino no Benfica. O Eusébio colocava a bola à entrada da área e rematava com o intuito de treinar o guarda redes. O problema é que o Silvino não conseguia treinar porque as bolas entravam todas na baliza. Ele simplesmente não treinava porque os remates eram descontextualizados daquilo que é o jogo. Quando trabalho a finalização dos meus jogadores, coloco-lhes oposição, porque é isso que acontece no jogo. Ou seja, antes de rematar, os meus jogadores tiveram adversários pela frente.” 

Eles não têm de correr uma única volta ao campo, mas mesmo assim, estão mais cansados no fim da sessão do que estavam anteriormente. Todos os dias preparo os exercícios, a sua duração, o tempo de repouso entre os exercícios. Penso que eles começam a perceber a especificidade do treino. Os bons jogadores adaptam-se facilmente.” 

“No campeonato, quero jogar sempre igual, seja qual for o rival. A minha ideia é ter um padrão de jogo definido, capaz de jogar de olhos fechados. Na liga portuguesa, poucas vezes vamos defrontar equipas superiores a nós” 

Não acredito nos sistemas de jogo que têm a sua origem no gabinete, na reunião, na palestra com os jogadores. Acredito no treino, na explicação, na repetição sistemática.” 

“… não temos tempo para treinar aquilo que é fundamental para nós, quanto mais para treinar coisas que não fazem parte da nossa forma de pensar o treinoportanto elas não fazem parte da nossa natureza mesmo que tivéssemos tempo e que fique bem claro que elas não existem na nossa forma de treinar!” Rui Faria

Para nós, a adaptação concreta a partir das situações de jogo permite direccionar muito melhor a preparação do jogador, tendo em vista a competição. A questão é esta: cada um opta pelo caminho que está mais direccionado para o seu objectivo final. O nosso é colocar a equipa a jogar segundo o nosso modelo de jogo.” Rui Faria

Citando um comentário na última caixa de comentários, sobre o que o treinador leonino supostamente pensava que poderia ser a sua época “…Supostamente a partir do 1º terço do campeonato o Sporting mostraria a sua pujança.”, fica a questão. Afinal por onde caiu o Sporting? Foi pela capacidade física? Compare-se os últimos posts com imagens dos jogos de Sporting, FC Porto e SL Benfica, e perceba-se a organização táctica de uns e outros. Ter Rojo mais rápido e mais resistente faria como que o argentino deixasse de se deslocar para a linha lateral em perseguição de um adversário, abandonando o centro do jogo? 

“Nesta fase do campeonato a minha equipa já decidia com perfeição o que deveria fazer e neste esquema, o Costinha foi um jogador fundamental, com decisões sempre acertadas. Portanto, quando se dizia que nós estávamos melhor preparados fisicamente que os outros, ou até que a nossa preparação era diferente, eu sempre respondi que não se tratava nada disso…”  José Mourinho.
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Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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