Treinar só jogando. Take cinco mil quinhentos e trinta e dois…

white corner field line on artificial green grass of soccer field

É bem possível que sejam pouquíssimos os treinadores que considerem o jogo como uma forma de chegar ao que pretendem. Há treinadores que não sabem sequer o que pretendem. 

Centrando-nos nos primeiros. Não basta transmitir oralmente o que se pretende. É decisivo criar-se situações no treino o mais próximo possível da realidade do jogo, com condicionantes que potenciem o máximo de repetições daquele que é o objectivo principal.
E para aproximar o treino da realidade do jogo só há uma hipótese. Jogar. Ter oposição, ter um critério de êxito próximo da realidade do jogo (seja o golo, seja o chegar com a bola dominada a determinado espaço), e considerar sempre pelo menos dois momentos do jogo (organização / transição). 
Jogar com inferioridade / superioridade numérica pode eventualmente ser interessante, como forma de promover mais repetições de determinadas acções em determinados espaços, e de dar sucesso ao(s) grupo(s). Defender as transições ofensivas com inferioridade é sempre interessante (jogando com as posições dos jogadores que defendem. Por exemplo, defendem apenas centrais, trinco e lateral do lado oposto onde a bola foi recuperada, obrigando-o a “fechar” muito rapidamente), para que se percebam os posicionamentos a adoptar em função do (escasso) número de jogadores atrás da linha da bola, desde que se limite o tempo de ataque.
Exemplo de uma possível situação de treino, já vista aqui.

Aspectos a ter em conta:
Momentos do jogo a trabalhar
Objectivo geral
Objectivo específico
Critério de êxito
Estratégia para o uso de feedbacks
Tempo
Material
Exemplo
Momento do jogo: Organização e Transição ofensiva.
Objectivo geral: Tomada de decisão no processo de construção de jogo ofensivo em organização. Com e sem bola. Tomada de decisão na movimentação em transição ofensiva.
Objectivo específico: Movimentação do avançado (em organização e em transição) e ligação dessa movimentação com as penetrações dos extremos e médios. Timing para soltar a bola em situação de transição (vantagem numérica).
Critério de êxito: Número de desequilíbrios conseguidos pela movimentação do avançado. Mesmo quando não tocando na bola, permitiu espaço para os colegas desequilibrarem. Número de linhas de passe diferentes (sobre a sua direita e esquerda) que o portador da bola tem a cada instante. Em organização não explora apenas a profundidade, mas também baixa para apoio frontal, arrastando marcação e permitindo a entrada do extremo do corredor oposto ao da bola na zona entre central que fica e lateral. Dá linha de passe sobre o exterior se estiver próximo do extremo, permitindo as penetrações de um interior na zona do avançado. Em transição desmarca para o corredor da bola, enquanto o extremo conduz na direcção do corredor central, fixando o defesa antes de tomar a decisão.
Forma: GR+8×10+GR. (Ataque organizado x Transição ofensiva).
Condicionantes. Ataque organizado joga com 2 centrais, sempre no meio campo defensivo. Trinco, médios interiores, extremos e avançado. Só os centrais e trinco do ataque organizado defendem. Ataque organizado depois de recuperar a bola, tem de fazê-la entrar no seu meio campo defensivo, permitindo a reorganização defensiva da equipa da transição. Na equipa da transição os extremos e o avançado não defendem. A equipa da transição tem 10 segundos para finalizar após cada recuperação de bola.
Feedback: Direccionado somente para os objectivos específicos. Utilizado como reforço. Prescritivos e descritivos.
Por aqui, crê-se que mais de oitenta porcento do êxito (expectativa realista / resultado obtido) passa pelo trabalho de campo, durante a semana. O fim de semana é para divertir. 
Post de Outubro, recuperado agora com video de alguns momentos de uma sessão de treino do Paços de Ferreira de Paulo Fonseca.


Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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