Tremendo do ponto de vista táctico o clássico.
Dentro daquilo que os seus treinadores idealizam, duas equipas de nível mundial, na ocupação dos espaços. Nas permutas, nas referências para as acções, na velocidade a que se respondem (posicionalmente em conjunto com os colegas) às situações que mudam a cada segundo.
E se podemos classificar de nível mundial os comportamentos colectivos de FC Porto e SL Benfica, porque razão o sucesso a nível europeu não tem maior continuidade? Menor qualidade técnica, e de decisão e criatividade nas individualidades comparativamente com os grandes da Europa? Claramente que sim. Mas não só. E talvez não sobretudo por tal diferença. Muito passará pelo estímulo. Remetendo para o post das equipas B. Mais forte será quem mais e maiores estímulos enfrentar. Quantos jogos desta exigência competitiva (sem espaço para jogar, um segundo mais tarde, um metro mais ao lado, e o jogo está perdido) enfrentam FC Porto e SL Benfica a cada ano? Na presente temporada apenas Celtic (na forma como retirou espaço de jogo ao adversário) e Barcelona tinham colocado semelhantes dificuldades aos lisboetas, e Paris SG e Braga aos nortenhos.
Quando chega a hora de competir contra jogadores/equipas que estão habituados a níveis de concentração altíssimos todo o ano, fim de semana após fim de semana, é natural que quebre por quem enfrenta menor competitividade ano após ano. O que para uns será um esforço maior (mental/concentração/velocidade a reagir às diversas situações) por um jogo diferente, para outros será uma espécie de “just another day at the office”.
Talvez mais pela natureza atípica da partida do que propriamente pelas qualidades técnicas dos seus intervenientes, muitos erros técnicos (foi um jogo intenso, apaixonante. Diferente de bem jogado) e risco quase zero dentro do bloco.
E a excelência táctica do jogo e das equipas passa sobretudo por ai. Inacreditável como se consegue jogar em tão pouco espaço. Ter a última linha tão subida e ainda assim não se ser surpreendido com bolas em profundidade nas costas. Em noventa minutos apenas três bolas ousaram ultrapassar as últimas linhas, sendo que duas direccionadas para os corredores laterais (Uma para Defour, outra para Varela e a da perdida de Cardozo).
Natural pela quase total ausência de espaço que emergissem os defesas (todos, os oito, com prestações muito muito boas defensivamente). Muito mais fácil pressionar, não deixar enquadrar e desarmar do que construir em poucos metros povoados por imensas pernas.
Faltou dentro do “bloco” James Rodriguez. Mostrou-se Jackson. Que qualidade formidável. Foi o único jogador do FC Porto capaz de jogar sem espaço. Segurou todas as bolas, entregou-as quando e para onde devia entregar. Temporizou, escolheu a melhor opção. Enquadrou quando possível. Quando não, também não perdia a posse. No actual modelo do FC Porto mostra-se bastante mais nos movimentos a procurar a finalização. Contra Estoril (Taça da Liga) e SL Benfica, sem James, teve de adaptar-se e participar mais nas fases de construção. Mostrou ser um ponta de lança completo. Extraordinário em todas as fases. Técnica, muita inteligência, qualidades físicas interessantes. A tudo isto alia a excelência como também finaliza os ataques da sua equipa, e é fácil perceber que estamos perante mais um avançado fabuloso no FC Porto.
No SL Benfica, enquanto outros “chumbavam” emergia Matic. Se o nível for constante (e tem sido), é claramente o melhor médio da Liga portuguesa. Sem espaço, tudo o que fez ofensivamente foi brilhante. Não existiu Benfica sem o sérvio. De todas as vezes que o Benfica chegou ao último terço com bola dominada, Matic foi decisivo no início da jogada. Foi sempre o sérvio que desequilibrou o adversário na fase de construção. Foi o único capaz de, não só conservar a posse como construir dentro daquele espaço tão reduzido que as equipas ofereceram para jogar. Não é só a sua óbvia e inegável qualidade técnica. É a inteligência e criatividade que mostra quando tem a bola. Tem uma pequena singulariedade que por norma apenas se observa em jogadores com baixo centro de gravidade. O atrair para soltar. Não é só a qualidade do gesto técnico que faz a diferença quando solta a bola. O timing com que o faz é notável. Não se atemoriza e segura, segura, segura, chama a si um, dois, três adversários e faz a bola seguir pelo espaço de onde retirou os adversários. Fê-lo por diversas vezes. E faz bem Jorge Jesus a não conferir ao sérvio o típico papel de “6” nas suas equipas. Seria um desperdício não aproveitar a criatividade de um jogador desta natureza. É dez vezes mais jogador que Javi Garcia, e começa a incomodar que continuem a perguntar ao sérvio se será capaz de fazer esquecer um jogador que lhe é bastante inferior.
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