Fala Tozé Cerdeira. Treinador de guarda redes do Beira Mar

Com a preciosa colaboração do Blessing Lumeno, conseguimos colocar algumas perguntas ao treinador de guarda redes da equipa técnica de Costinha, no Beira Mar. Tozé Cerdeira.

Que variáveis considera quando constrói um exercício?
Na construção de qualquer exercício, tenho sempre em atenção alguns aspectos importantes. Em 1º lugar saber as características do adversário nesse microciclo. Os seus pontos fortes e onde nos podem causar problemas. As variáveis técnico-tácticas e físicas estão sempre presentes. No caso do GR, tenho sempre em atenção algumas características especificas do adversário; se jogam muito directo, de insistem nos cruzamentos, se o jogo ofensivo se baseia em demasia em colocar a bolas nas costas da defesa, se provocam o contacto físico em excesso, entre outros factores. Ora tudo isto exige um trabalho na componente psicológica, outra variável, que é trabalhado na execução do próprio exercício. Depois temos sempre de ter em atenção em que fase da época estamos, a condição física do GR, o nº de dias do microciclo…Todas estas varáveis têm de estar interligadas na construção de qualquer exercício.
Qual a característica que considera mais importante num jogador de futebol?
Sem dúvida nenhuma a INTELIGÊNCIA. Com esta característica, qualquer jogador sabe o que tem de fazer em campo e gerir todas as outros componentes, ou varáveis, exigidos a um jogador de futebol. Saber gerir os momentos do jogo, saber gerir o aspecto físico, e saber o momento certo para a tomada de decisão. A tomada de decisão, no caso dos GR, é aquele segundo que existe entre o céu e o inferno…
Porquê o 442 losango?
Basicamente porque é um sistema que privilegia a posse de bola, e enquanto a bola está na nossa posse, não existe o risco de sofrer golos. Quero no entanto salientar, que entrando nós a 3 meses do final da época, tivemos de nos sujeitar aos jogadores que estavam no plantel e saber se têm características para jogarmos nesse sistema. Construindo um plantel de base, escolhemos os jogadores com as características certas para o tipo de sistema que gostamos mais. Neste sistema podemos facilmente ver que tudo se resume a vários triângulos de jogadores. Assim facilmente se consegue uma boa posse de bola. Sistema com uma boa base ofensiva, onde facilmente se chega à área adversária com 3 ou 4 jogadores em posição de fazer golo…
Colectivamente qual a sua maior preocupação em termos ofensivos?
Criar situações de golo. Se criarmos oportunidades de golo, mais cedo ou mais tarde o golo vai aparecer. Preocupante é a equipa jogar bem e chegar ao processo ofensivo e não conseguir soluções pra a criação de oportunidades de golo. Basicamente é esta a maior preocupação… construção de oportunidades de golo..
Defensivamente, defende zona ou HxH? Porquê?
Misto. Zona na zona do 1º poste e depois marcação HxH. Pq? Responsabilização. O jogador sabe que aquele homem é seu, tem de o marcar até à “morte”. Se marcar golo, sabe que a responsabilidade é sua, e o jogador não gosta de ser responsabilizado por situações negativas…
A idade do atleta influencia no tipo de trabalho que fazes?
Só se tiver idade até ao escalão de Juvenil. Sabemos como gerir os GR em casos específicos, mas de uma forma geral o trabalho é igual para todos. Podemos é trabalhar de forma diferente em termos de intensidades, tendo em conta a idade, a forma física, técnica e mesmo psicológica. Mas de uma forma geral trabalham todos da mesma forma…
Quanto ao trabalho com GR, quais as principais qualidades que estes devem ter?
Para mim a mais importante é ser forte psicologicamente. Esta posição exige muito de nós, e em num segundo caímos bruscamente do céu ao inferno. Se defendermos bem, todos dizem que estamos lá para isso, se estivermos 89 minutos bem e falharmos um lance e for golo, somos apelidados de “frangueiros. Ninguém se lembra se um avançado da nossa equipa falhar um lance isolado á frente do GR, mas todos se vão lembrar do nosso “frango”. INJUSTIÇAS!!!! Mas vamos a outras questões: Como eu costumo dizer: “Tem de se nascer GR, pois só o Trabalho não chega”. Tem de ter qualidades inatas para ser GR, que depois de possam lapidar e “construir” um GR que possa jogar nos vários campeonatos profissionais. Existem as qualidades físicas inatas que podem ser aperfeiçoadas, tal como as técnicas, com muito treino e muita vontade de aprender e evoluir….
Como prepara o seu micro-ciclo de treino de GR?
Basicamente em conjunto com a restante equipa técnica. Eles precisam dos GR para determinados exercícios, e eu necessito que se trabalhem algumas situações de jogo, que não consigo trabalhar no treino especifico. Muitas vezes os GR integram exercícios de trabalho, onde jogam essencialmente com os pés, pois no futebol de hoje, jogar minimamente bem com os pés é fundamental… E esses exercícios são fundamentais, pois existe sempre um, ou mais, jogadores a pressionar e a fazer o GR pensar rápido. SITUAÇÕES REAIS DE JOGO!!!!!…
Com quantos GR costuma trabalhar normalmente? Porquê?
Normalmente com 3. Acho que até 4 GR por sessão é aceitável, mais não, pois tira-nos os benefícios exigidos e pretendidos numa sessão de treino. Normalmente 2 GR são necessários para o treino integrado, sendo que o outro fica comigo a realizar treino especifico. Se forem 4, rodam 2 a 2. De uma coisa faço questão: TODOS OS GR TRABALHAM DE IGUAL FORMA, DESDE O TITULAR AO NÃO CONVOCADO. Tirando claro, o treino a seguir ao jogo…
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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