Erros técnicos e tácticos. Quais podem valorizar, desvalorizar e corrigir os treinadores.

white corner field line on artificial green grass of soccer field
Para um bom treinador, seguramente que são os técnicos os mais preocupantes. Mas apenas, se forem regulares, pois tal indicia que são fruto de falta de qualidade e não de uma qualquer casualidade.
Os tácticos são passíveis de serem trabalhados, desde que haja um modelo de jogo e princípios de actuação comuns. Comportamentos padrão que possam ser aprendidos para cada situação de jogo. Aí com treino de qualidade, a competência do jogador dependerá sobretudo da sua capacidade cognitiva. 
Tecnicamente o jogo é bastante mais fácil para quem joga em espaços maiores. Ou seja, é bastante mais fácil para quem joga na defesa do que para quem joga do meio campo para a frente. Esta é a razão pela qual ainda muitos são os defesas com qualidade técnica bastante duvidosa que chegam ao profissionalismo e até a equipas de grande tradição. As lacunas técnicas podem não ser relevantes nos defesas, mas apenas se tacticamente os jogadores em questão apresentarem um nível elevadíssimo e sobretudo, se pensarmos que participarão num número reduzido de jogos no ano. André Almeida e Jardel tornaram-se jogadores de grande competência defensiva e provaram esta época que podem perfeitamente fazer parte do plantel de um grande clube mesmo tendo insuficiências técnicas latentes sobretudo quando comparados com os restantes colegas. Porém, essencialmente porque são utilizados em simultâneo com uma base com qualidade, e não são os próprios a tal base. Participando em muitos jogos a responsabilidade aumentaria e as lacunas seriam por demais evidentes. Entrar pontualmente é diferente. 
A competência do central brasileiro e do agora lateral português são fruto de um grande trabalho na vertente táctica de Jorge Jesus. A parte técnica não sofrerá alterações de maior, e não depende do treinador. Ontem o brasileiro demonstrou que defensivamente com a cultura táctica que tem é útil, mas demonstrou também que ofensivamente prejudica a equipa.
Ontem, o erro de Melgarejo, ao contrário do que provavelmente muitos pensarão não é a razão pela qual não deve ser defesa esquerdo. Pelo contrário. Acabou por demonstrar na perfeição o porquê da afirmação de Jesus quando há não muito referiu que o paraguaio não tinha lugar no plantel numa posição mais ofensiva.  
Jesus crê que tecnicamente o nível da sua equipa do meio campo para a frente está tão elevado que não é possível guardar um lugar na frente para o paraguaio. Cuja qualidade técnica é bastante beneficiada por jogar em espaços maiores. 
“Se analisarem, o Melgarejo não falhou em nenhum momento defensivamente frente ao Sp. Braga. Se analisarem aqueles dois golos, o Melgarejo falhou em que situação? Foi tática ou técnica? Claro que foi técnica. Não teve nada a ver com o problema defensivo dele mas sim com uma decisão técnica do jogador. Não é fácil mas ele é um miúdo inteligente e tem vindo a crescer.”
Explicou bem o treinador do Benfica, logo na primeira jornada a natureza da falha (auto golo) de Melgarejo no jogo inicial. Ontem novo erro técnico colocou o Benfica em desvantagem na eliminatória. Pode então, como sugere a primeira frase do presente texto, ser um motivo de inquietação para o treinador do Benfica novo erro técnico do lateral? Não. E não porque não é regular. Seria bastante mais expectável um erro daquela natureza de André Almeida, Jardel ou até Maxi cujas qualidades técnicas são bastante inferiores às de Melgarejo. Ali não há nada para corrigir. Como não houve nada para corrigir quando um erro técnico de Garay ao falhar a bola permitiu a Mangala adiantar o Porto na Luz. Ou como não há para corrigir no jogo terrível de Ola John em solo turco. Não foi um erro preocupante porque no caso concreto de Garay surge um a cada vinte ou trinta jogos. Tal como a Melgarejo. Bem mais preocupante os sucessivos passes para fora de Jardel, por exemplo. Sobretudo porque são erros comuns no central, e fruto de menor valia técnica. E não uma casualidade. 
Jorge Jesus potenciou tacticamente ao máximo todos os seus jogadores, dentro daquele modelo de jogo que defende, acredita e tão bem trabalha. Um mau posicionamento e caberá ao treinador do Benfica corrigir. Erros técnicos cabe-lhe perceber se são sistemáticos, e se assim o forem, há que tomar decisões. Na época passada era evidente o caso de Emerson, cujos erros técnicos surgiam a cada toque na bola. Não se percebeu a aposta continuada no lateral brasileiro.
O Benfica pode no ano de 2013 fazer a melhor época da sua história. Tal dependerá sobretudo de detalhes. Excepto na eventual final da Liga Europa porque se lá chegar defrontará o Chelsea, os triunfos de Jorge Jesus dependem agora mais da sorte / felicidade contra azar / infelicidade do que da sua capacidade enquanto treinador. O que está trabalhado, está trabalhado. Excepto pela tal possível final que teria / terá de ser preparada com estratégia especial por enfrentar um adversário superior, vencer ou perder com Marítimo, Estoril, Moreirense ou Fenerbahce será mais por uma bola ao poste que saiu ou que entrou do que por competência do treinador ou dos seus jogadores. Ambos são os mesmos que estiveram uma série infindável de meses sem perder.
Curioso que se se confirmar a perda da Liga por parte do FC Porto, a razão será precisamente a mesma. Dois penaltys que não entraram. O futebol é assim. Numa Liga de dezasseis equipas fracas e incompetentes uma obrigatoriamente ganhará e passará por boa e competente. Em Portugal há pelo menos duas extraordinárias. Uma delas passará por ter debilidades, quando na verdade não é nada disso. 
P.S.- O Fenerbahce foi o que havíamos visto nos jogos anteriores. Uma equipa banal, sem ideias, que vive do pontapé longo para os seus muito físicos jogadores da frente. Tudo enquanto espera que a sorte lhe caia do céu numa bola parada. Foi exactamente assim que a Lazio perdeu na Turquia. O um a zero é um resultado terrível, mas a diferença de uma para outra equipa é tão evidente que a preparação de Jesus para o jogo deva sobretudo incidir na capacidade que a sua equipa tem para fazer três golos e não tanto na preocupação em sofrer o golo que em caso de empate fará cair a eliminatória para o Fenerbahce.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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