Onze dos portugueses à conquista do U20 na Turquia. Individualmente uma das melhores gerações dos últimos tempos em Portugal.

Ponto prévio. Exceptuando Tiago Silva, Tiago Ilori e André Gomes, de todos os outros não foram observados mais de 4,5 jogos e regra geral incompletos, pelo que se trata de uma análise bastante superficial. O Mundial na Turquia confirmará ou não as primeiras impressões.
Tiago Ferreira. Muito potencial pela boa qualidade técnica. Tem todavia dificuldades na forma como aborda as diversas situações de jogo. Procura impor um estilo impetuoso que o prejudica pois vê-se facilmente ultrapassado ou mal posicionado. É um central interessante mas claramente à procura de maior maturidade. As experiências futuras serão determinantes no seu desenvolvimento. Há que continuar a jogar para que possa uns anos mais tarde almejar o potencial que tem. Assim procure jogar mais com a inteligência e menos com o físico.
Tiago Ilori. Potencial tremendo. Não é muito vulgar aparecerem centrais com tamanha velocidade, sobretudo aliando a tão importante característica condicional a qualidade técnica. É certo que acumulando experiência de competição dará o salto e tornar-se-à um central importante na selecção portuguesa A. Está numa fase de decisão do futuro, e tem de prosseguir a carreira num clube onde jogue sempre. Independentemente do nome do clube, é decisivo que some 30 jogos completos por época para que com as experiências adquiridas seja cada vez melhor na leitura e reacção às diferentes situações que encontra. É uma das atracções do Mundial de sub 20.
João Mário. Maturidade. O capitão é provavelmente o melhor jogador de nacionalidade portuguesa sub 20 da actualidade. Diferente de ter o maior potencial, contudo. Um estilo mais próximo de João Moutinho que de André Martins, ainda que aqui e ali haja quem o considere um “10”. A sua elevada maturidade coloca-o acima dos colegas. Defensivamente percebe o jogo antes dos demais e não se coíbe de colocar uma intensidade elevada nas suas acções. Seja a sair para recuperar seja na forma como ajusta o posicionamento para cada situação. Ofensivamente sabe tudo sobre movimentação e tem imensa qualidade técnica. Recebe e passa com qualidade, para além de ser o jogador mais responsável com bola de toda a selecção. É inteligente e joga seguro, pelo que é fácil a cada momento perceber o que se seguirá. Para o bem e… para o mal.
André Gomes. Bastante melhor ofensivamente que defensivamente. Percebe-se muita categoria na forma suave como de cabeça levantada vai desviando a bola dos adversários enquanto procura soluções. É inteligente com a bola nos pés e mesmo a um ritmo baixo vai fazendo estragos. Defensivamente,  e mesmo que tenha melhorado posicionalmente vai demorando mais do que o que seria razoável, quer na forma como pressiona quer na forma como baixa para coberturas ou simplesmente para trás da linha da bola. Quer impor um estilo de “regista” mas está longe da qualidade dos tradicionais 10 pelo que o sucesso da sua carreira dependerá bastante do que evoluir no trabalho defensivo.
Tiago Silva. O criativo. Grande qualidade técnica. No Belenenses habituou-se a jogar mais próximo do avançado. Na selecção o 433 com um pivot defensivo e dois médios interiores obriga-o a jogar mais recuado. Percorre um processo de adaptação a novas situações, sobretudo defensivas que aliado ao facto de ser o nome menos notório da selecção o pode prejudicar na sua utilização. Todavia, bem explorado poderá ser o factor MAIS da selecção. De todos é o mais capaz de provocar desequilíbrios nas defensivas adversárias. Percebe o jogo antes de acontecer e descobre alternativas pouco previstas. Um grande talento que tem sido potenciado em Belém. Candidato a uma das surpresas na Ia Liga na próxima época.
Tozé. Traços bem próximos dos de Tiago Silva. É um talento que ainda se está a descobrir a si próprio. Ainda à procura de perceber o sucesso/insucesso das suas acções ao nível sénior, agora que a dificuldade do jogo triplicou. É garantido que o potencial o elevará para um patamar importante. No imediato percebe-se que perde bolas que não estaria habituado a perder. É inteligente e paulatinamente mudará o seu padrão de decisões, tornando-se no jogador que promete.
Ricardo Esgaio. Como João Mário, muita maturidade, qualidade técnica e de decisão. Sabe e segue todas as decisões e posicionamentos mais ofensivos. Defensivos é outra história. É o tipo de jogador que não desequilibrando “cai” bem numa equipa que se pretenda equilibrada, pois é um jogador de imensa responsabilidade. Como defesa direito revela lacunas no posicionamento, mas, porque se percebe o critério com que joga, é certo que tais deverão advir sobretudo da falta de experiências anteriores relevantes. Com bola é um “descanso”, e todos sabemos como os melhores devem “pegar” mais cedo no jogo.
Ivan Cavaleiro. Oportunidade importante para se mostrar. É rápido, muito forte e finaliza bem. Todavia, aparenta pouco potencial de desenvolvimento por aquilo que é a sua qualidade técnica e de tomada de decisão. Naquela que poderá ser uma das últimas vezes que estará em montras importantes a competir contra atletas da sua idade, pode fazer a diferença pelas suas características físicas. Características essas que tenderão a ser pouco interessantes no futebol sénior. Se sair valorizado, o seu clube deve imediatamente procurar rentabilizar Cavaleiro financeiramente, porque desportivamente é menos provável que venha a trazer retorno.
Ricardo Alves. O seu concorrente joga no Barcelona e especula-se o seu ingresso na equipa principal do Sporting. Ricardo joga no Belenenses e é suplente de Ferreira e Diakité. Todavia, e como no futebol não é o nome ou a camisola que joga, Ricardo é bastante superior a Agostinho Cá. Tem, porque com melhor qualidade técnica e sobretudo de decisão, mais potencial que o colega de posição.
Ricardo. Velocidade e qualidade de drible. Cresceu bastante no Vitória de Guimarães, mesmo num modelo de jogo que pouco privilegiava a sua qualidade. É um desequilibrador com facilidade a finalizar e a movimentar-se para o fazer. Com Bruma, Esgaio e Cavaleiro como concorrentes não se sabe por onde passarão as opções do seleccionador. Como extremo poderá / deverá crescer mais que Esgaio e Cavaleiro. À responsabilidade do jovem leão acrescenta talento, e à velocidade do jovem águia acrescenta qualidade técnica (recepção / passe) e de decisão.
Kiko. A mostrar-se ofensivamente, pela boa qualidade técnica. Competição importante para se valorizar, uma vez que doravante terá de competir com atletas mais velhos, obrigado a tomar decisões mais rápidas. Importante segui-lo para perceber se as boas qualidades evidenciadas se esgotam ao contexto próprio da sua idade, ou se há potencial para aprender e evoluir. Até porque não há canhotos a surgir em catadupa.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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