
“Podes tomar sempre as melhores decisões que se não conseguires meter a bola lá dentro de nada vale… É isto que vocês desvalorizam tornando o futebol um jogo sem balizas.” Comentário numa das caixas do blog, num post recente.
A tomada de decisão / inteligência, acções que aproximam a equipa do golo, mas que porventura podem afastar quem a tomou da notoriedade continua a ser um enorme bicho de sete cabeças quando se fala do jogo. Um jogo que para ser realmente bem jogado é tão complexo, envolve tanto a parte cognitiva que jamais poderá ser comparado com qualquer outro desporto. Sobretudo os individuais. E tal não é de forma alguma uma desvalorização a qualquer outro desporto.
Decidir bem, não tem absolutamente nada a ver com um jogo sem balizas. Bem pelo contrário, a génese de tudo é precisamente chegar ao golo pelo caminho que nos oferece maiores probabilidades de o conseguir.
Escolher o melhor caminho, decidir bem significa que aumentarão as probabilidades de se marcar, mas tal pode não suceder, assim como decidir mal faz decrescer as probabilidades de se chegar ao golo, não significando todavia que não se possa ser feliz optando mal.
Significa sobretudo que a cada 10 vezes que se optar bem, garantidamente que se obterá mais golos, do que nas 10 vezes que se optar mal.
O exemplo recorrente que apresentamos é o da situação de 2×1+GR. Se o portador da bola não soltar nunca a bola, mesmo com o adversário colocado entre si e a baliza, optando sempre por driblar e finalizar, é certo que algumas vezes será feliz. Todavia, decidindo bem, fixando adversário e percebendo se se impõe o passe ao colega que o acompanha tornando o 2×1 em 1×0, garantidamente que em dez lances assim a sua equipa almejará mais golos que nos 10 em que decidir driblar. A questão no futebol, é que demasiadas vezes decidindo bem, a equipa fará mais golos, mas o golo será do seu colega e não seu. À inteligência, é preciso aliar-se um enorme espirito de altruísmo para se poder atingir níveis óptimos de qualidade quando se fala de um jogador de futebol.
Decidir bem não tem absolutamente nada a ver com um futebol rendilhado e sem balizas. Trata-se de escolher o melhor passe, o melhor timing de passe ou perceber exactamente o momento em que se deve finalizar.
Só os enormes conseguem jogar com todos os estímulos que o jogo traz. Sem fintas feitas, sem decisões tomadas cinco segundos antes, mas antes analisando em função de colegas, linguagem corporal de adversários e baliza, a cada fracção de segundo que caminho tomar.
Decidindo bem a bola entrará mais vezes, garantidamente.
Não será por acaso que a equipa que mais golos fez na Liga Sagres em muitos anos juntava dois baixinhos sem força nas imediações das grandes áreas adversárias. Muito menos casual será o número de golos absolutamente épico que somava o Barcelona de Guardiola sem os habituais chavões (correr muito para a linha para cruzar para um alvo específico, rematar de todo e qualquer lado a cada instante).
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