Mandzukic

Reconheço em Mandzukic algumas qualidades, e a utilidade do mesmo quando a bola é jogada para dentro da área. O problema surge quando os defesas contrários são tão bons no jogo aéreo quanto ele, e também fazem das características físicas a sua principal arma. Devo dizer também, que Mandzukic não é um jogador egoísta, que jogue sobretudo para si. Joga com os colegas, e procura com os seus pontos fortes servi-los dentro do possível.
Contudo, o avançado do Bayern torna-se menos um jogador em campo, quanto não é solicitado para o jogo aéreo. Ou seja, Mandzukic não é capaz de dar ao jogo o que o contexto pede a cada momento. Se for preciso aproximar, deixar de ser referência dos centrais para aproveitar o espaço entre linhas, e desposicionar os centrais, ele não o faz. Permanece rígido no seu posicionamento, procurando sempre o cruzamento, e as zonas de finalização.

Isso faz com que o jogo do Bayern se torne previsível, e que não consiga imprimir a dinâmica certa, sobretudo pensando que Thiago não está disponível. Hoje, viu-se um Bayern a procurar de forma constante colocar em Mandzukic, ao segundo poste, por forma a que ele dispute o lance com o lateral (pela diferença de alturas que terá, e talvez menor agressividade dos laterais), para servir os colegas ou finalizar. Até à entrada de Goetze, e Muller, o jogo do Bayern foi isto. Posse, procura de Mandzukic, posse. O efeito é nocivo. Tem sido assim que o Bayern tem feito muitos golos este ano. Os jogadores de cada vez que marcam um golo reforçam esse comportamento, e naturalmente a opção de jogar no avançado croata passa a ser a única.

É muito pouco para um treinador que nos habituou a furar blocos com a bola controlada, e a penetrar apenas nos momentos certos, com uma dinâmica e mobilidade incrível de todos os jogadores envolvidos no lance. E por isso continua a fazer-me muita confusão a aposta em Mandzukic em detrimento de Muller, claramente o jogador da frente de ataque, que melhor percebe o que Guardiola quer. Procura as melhores linhas de passe, procura colocar-se dentro do bloco, e tenta explorar a profundidade apenas quando as condições certas estão criadas.

Aqui, um texto bastante interessante do Entre Dez sobre o avançado croata.

Para finalizar, não deixei de esboçar um sorriso quando ouvi, durante o lance do golo do Real Madrid, o comentador dizer que havia muita lentidão. Referindo-se certamente à pouca velocidade imprimida no lance. A ideia de que um transição é para ser explorada sempre com grande velocidade, independentemente das condições, é um dos lugares comuns mais  visitados no futebol. A transição, como qualquer outro lance, é para ser aproveitado consoante as condições, e à velocidade que o contexto pede. Se for preciso, para aproveitar um mau posicionamento do adversário, temporizar, retirar velocidade ao lance, e depois acelerar no momento certo, assim o deve ser feito. E foi o que o Isco fez. Quando recebeu a bola, não tinha nenhuma linha de passe próxima, disponível, para dar continuidade ao ataque. Para que o ataque tivesse qualidade, era necessário que essas linhas de passe fossem criadas. Isco temporiza, conduz, liberta Ronaldo da marcação, e entrega. Ronaldo com tempo e espaço, solta em Coentrão, e 90% do golo está nessas duas acções. O melhor caminho estava escolhido.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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