Individualmente, o que é jogar bem? De que forma podemos aferir a qualidade de uma exibição individual?

Voltando ao propalado desaparecimento de Messi, é importante esclarecer. Afinal, que ingredientes tem uma boa exibição individual?

Talvez porque e apesar dos belos golos que somou, ainda não driblou três ou quatro concluindo com êxito uma jogada individual muitas são as opiniões de que está desparecido.
Mas, afinal o que é jogar bem?
Observamos a participação de Messi na partida com a Bélgica e percebemos que para ter sido perfeita bastaria mudar três, quatro porcento do que fez. Se o jogo nunca lhe proporcionou situações em que pudesse ser feliz indo para cima de dois ou três, deveria o argentino ter forçado algo cujas probabilidades de êxito eram inexistentes? 
Óbvio que não. Jogar bem é tudo o que Messi tem feito a cada partida do Mundial. A tomada de decisão surge em função do contexto. E com um contexto diferente percebe-se ainda mais a inteligência do argentino. Não forçando o que está condenado ao inêxito, mas que levaria a que todos delirassem (procurar driblar todo o mundo), demonstra que cria e não se recria. A cada toque, a cada posse, sempre bem. Jogadas sempre com seguimento e praticamente sempre a transformar as situações de jogo com que se depara em novas situações com menos oposição e melhor enquadramento. Ou seja, proporciona aos colegas mais possibilidades de êxito.
Isso é jogar bem. Proporcionar situações cujas probabilidades de serem transformadas em golo são bastante maiores do que aquelas que tinha antes.

Observando o video.
Logo aos 30 segundos. Situação de 3×5 bola no meio do meio campo defensivo da Argentina quando Messi lhe toca. Quando solta, 2×2 já na grande área com possibilidades de finalização.
No lance do golo. Apertado pelos dois médios belgas e na próximidade de um terceiro. De 4×7 rapidamente para 3×4 quando Di Maria recebe
Pelo 1.50 do video. Algures um 4×10? para um passe entre linhas a eliminar os quatro adversários que o rodeavam. A recepção não é perfeita, o passe ainda que elevada dificuldade podia ter saído um centímetro mais baixo. De 4×10? para 3×4?
A 2.45. De 3×6 no meio campo defensivo para 1×0 com Di Maria que puxando para o pé esquerdo ficou em 1×1
3.40. Em 3×7, individualmente dribla dois, deixando para trás da linha outros 2, ficando 2×3 e é travado em falta.
5.25. Em 3×9, passe interior a eliminar 5 adversários, 3 estavam ao seu redor. Fica 2×4 no corredor central. O árbitro apita para intervalo quando apenas mais um toque na frente eliminaria a linha de 4 defesas belgas
Em praticamente todas as outras acções mesmo não desequilibrando, sempre bem, a dar seguimento. O seguimento possível e mais adequado em função da ausência de opções.
Uma grande exibição individual é tudo isto. Perceber a situação de jogo, o contexto e torná-la melhor, com mais possibilidades de fazer a sua equipa chegar ao golo. Não é pegar na bola e forçar quinze ultrapassagens a cinco jogadores para quem sabe se as estrelas estiverem alinhadas fazer um golo e perder por dois a um, porque das outras catorze más decisões dois contra-ataques deram golo.
Podemos facilmente concluir que a única coisa que está desaparecida é o cérebro de quem vê futebol sem perceber sequer que jogo é este que levou a que em devido tempo os alemães alertassem os brasileiros para olharem ao seu redor…
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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