E no fim ganham os alemães

Os alemães não porque são alemães. Mas porque foram e são a melhor equipa da prova. Nem sempre nas provas a eliminar vence a melhor. A que venceria inquestionavelmente se a prova fosse de regularidade por jornadas. No Brasil como na África do Sul quatro anos antes venceu o melhor.
Os alemães são das poucas equipas na prova em que a soma dos onze jogadores são de facto mais que a soma das individualidades. É uma equipa preparada tacticamente para os vários momentos e fases do jogo, apresentando também tecnicamente um nível assombroso. A este nível, sai sempre beneficiado quem consegue reunir vários elementos de uma mesma equipa. Se essa equipa tiver excelência na organização, obviamente.
Venceu a organização, a tomada de decisão, a superioridade numérica, o futebol moderno.
Vencer uma equipa com processos tão primitivos como a Argentina teria sido uma facada na evolução do jogo. Um premio que Sabella não mereceria. A sua Argentina contraria tudo o que são os princípios colectivos do jogo. Começando desde logo pelos gerais. Os jogadores argentinos nunca em situação alguma procuram promover ou estão em superioridade aquando da posse. Uma equipa partida em dois. Na primeira parte com oito só para defender e dois só para atacar. Na segunda parte e no prolongamento com sete para defender e três só para atacar. Não há memória de nos tempos recentes uma equipa tão má do ponto de vista colectivo ter chegado tão longe. Ofensivamente enquanto não está em desvantagem no marcador nem laterais nem médios nunca em momento algum participam no jogo, ficando sempre atrás da linha da bola. É sempre Messi + Higuain contra sete, oito. Ou quando Sabella perde a cabeça Messi + Higuain + Aguero contra o mundo. Os dois, três da frente, que sem bola não participam. Contrastando com os sete, oito de trás que não participam com bola. E não, defensivamente não têm processos com qualidade. Apenas juntam uma molhada encostada lá atrás.
Teria sido fascinante onze homens sós e abandonados à sua sorte conseguirem um triunfo desta dimensão para um país. Porém, simplesmente aquilo que juntos fazem não é futebol. E a Argentina provou que individualmente tinha condições para fazer diferente e melhor.
Messi vence o prémio de melhor do Mundial. Não é fácil dizer que o premio é justo ou bem atribuído. Uma certeza, porém. Nas condições que enfrentou ninguém faria sequer perto. Nenhum jogador do futebol Mundial enfrentando a cada posse inferioridades numéricas tão acentuadas (praticamente sempre 2ou3x7ou8) teria feito tanto. Teria construído, criado e finalizado tanto. Ainda na final, manteve sempre viva a possibilidade da história ter ido por um caminho alternativo daquele que é o futebol na actualidade.
Onze do Mundial em 4x3x3
Neur
Lahm
Hummels
Garay
Blind
Mascherano
Kroos
James
Robben
Messi
Muller
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Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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